OMC soa alerta para disseminação de fatores negativos em 2019
Indicadores, como compras de insumos por fábricas no mundo e dados de frete aéreo e marítimo, sugerem desaceleração do comércio internacional
Letícia Naísa
Publicado em 30 de dezembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2018 às 08h00.
Um dos principais motores da economia mundial — o comércio externo — está rateando. Indicadores antecedentes sugerem desaceleração significativa, de acordo com o economista-chefe da Organização Mundial do Comércio ( OMC ).
“Os indicadores antecedentes continuam piorando. É quase como uma morte que ocorre após mil pequenos cortes”, disse Robert Koopman em entrevista realizada na quinta-feira. “Não há uma grande mudança específica nesses indicadores, mas é impressionante como se somam.”
Nos mercados financeiros, aumentam as preocupações com uma possível freada da economia mundial em 2019 e com o impacto das guerras comerciais do presidente americano, Donald Trump.
Na quarta-feira, Jerome Powell, o comandante do banco central (Federal Reserve), mencionou temores de investidores e empresários em relação às tensões comerciais e ao crescimento global. A FedEx e outras empresas também alertaram sobre o impacto negativo do menor avanço da economia.
O OMC revisou para baixo em setembro as previsões para a expansão do comércio global, estimando que o volume de bens trocados entre países aumentaria 3,9% neste ano e 3,7% no ano que vem.
Koopman avisou que a OMC mantém as estimativas por enquanto, mas acrescentou que os riscos aumentaram e as que projeções poderiam diminuir outra vez no começo de 2019.
Tendência é para baixo
Um instrumento da OMC que acompanha indicadores antecedentes — como índices de compras de insumos por fábricas no mundo todo e dados de frete aéreo e marítimo — sugere desaceleração do comércio internacional, segundo ele.
“Se mover para algum lado, será para baixo”, comentou Koopman sobre as expectativas para 2019.
Existem temores em todas as grandes economias do planeta, disse Koopman, citando a redução da projeção do próprio Fed para a atividade econômica nos EUA no ano que vem. “Estamos preocupados com a União Europeia. Estamos preocupados com a China. Estamos preocupados com os EUA”, disse ele.
Koopman afirmou que o maior temor não é o impacto direto das disputas tarifárias nas quais os EUA se envolveram, especialmente com a China, mas também com parceiros na UE e Canadá. Embora EUA e China juntos sejam responsáveis por quase 40 por cento da produção global, o comércio de bens entre os dois países representou menos de 3,2 do comércio internacional, de acordo com a OMC.
De acordo com Koopman, o risco real é que os conflitos comerciais prejudiquem os gastos e a confiança de consumidores e empresas no mundo todo.
“A grande dúvida é se a incerteza — a incerteza quanto às medidas governamentais que esse conflito criou — vai chegar ao comportamento do consumidor e aos investimentos’’, explicou Koopman.
Há sinais de que o investimento corporativo está sendo duramente atingido e que consumidores americanos e chineses começaram a suspender gastos, acrescentou ele.
“Ainda não é um desastre”, segundo o economista. “Está fraco, mas se começar a piora, a queda real de investimentos, isso pode ser um grande problema para o comércio global e o crescimento global de modo geral.”
A previsão da OMC para o crescimento do comércio internacional neste ano, de 3,9 por cento, é menor do que a taxa de 4,7 por cento apurada em 2017. Historicamente, não é ruim. O volume global de comércio aumentou somente 1,8 por cento em 2016.