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OMC entende que Brasil não abriu mão do status de país em desenvolvimento

Segundo diretor-geral da organização, comunicado oficial do encontro entre brasileiros e americanos não deixa claro que o país pediu fim do benefício

Roberto Azevêdo, da OMC: Brasil ainda não pediu fim de status de país em desenvolvimento (Hannibal Hanschke/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de março de 2019 às 14h06.

São Paulo — O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse nesta quarta-feira, 21, que não entendeu, pelo comunicado oficial da visita do Brasil ao governo americano, que o país tenha aberto mão do status de país emergente e, portanto, deixado de receber o tratamento especial conferido pela OMC a esse grupo. Essa teria sido uma exigência dos Estados Unidos para apoiar a candidatura do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Segundo ele, o que o Brasil aceitou foi "abrir mão de usar alguns espaços daqui pra frente". Destacou, no entanto, que os detalhes do acordo têm que ser respondidos pelo governo brasileiro.

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Ele defendeu uma aproximação do Brasil com a OCDE e destacou que a organização é importante não só por dar um selo de qualidade ao grupo que a integra, mas por ter o papel de definir a agenda mundial do comércio.

Forma pragmática

O diretor-geral da OMC disse também que o Brasil deve buscar outras oportunidades de comércio "de forma pragmática", em acordos com outros países, "onde quer que elas se apresentem".

Ele ponderou, no entanto, que, sem a mediação da organização, haveria uma "lei da selva" no comércio mundial e todos perderiam, "mesmo os que pensam estar no topo da cadeia alimentar".

Azevêdo frisou, em evento da Câmara de Comércio Internacional (ICC) no Brasil, que o País precisa investir em competitividade.

E destacou que a indústria precisa ser estimulada a produzir visando aos mercados globais e não mais só o consumidor interno. "Não é sustentável a ideia de que um produto possa ser competitivo apenas no mercado interno. A competição é global, o setor privado precisa ter como meta o plano internacional", disse.

Ele afirmou que, sem investimentos para tornar o produto doméstico mais competitivo, nem mesmo o Imposto de Importação alto brasileiro conseguirá impedir que os produtos externos tenham vantagem no Brasil. E destacou que o comércio não é uma solução mágica para a economia do País, mas precisa estar na equação.

Críticas de Trump

O diretor-geral da OMC minimizou também as críticas do presidente Donald Trump à instituição. Ele afirmou que o chefe de Estado americano se utiliza de uma retórica forte para defender, na realidade, uma atualização nas regras da OMC, que reflete ainda um quadro global do comércio da década de 1990.

"O que posso dizer é que o que eles querem na realidade é transformar o sistema multilateral em outro tipo de sistema que, na opinião dele, é mais compatível com realidade atual, que é diferente da de 1995. E essa mudança às vezes é traumática. O que eu digo é: quer chacoalhar a árvore, pode chacoalhar, mas não mata a árvore. O jogo é desestruturar para criar uma coisa nova", disse Azevêdo.

Ele afirmou que os Estados Unidos elogiam internamente o papel da OMC. E explicou que os americanos argumentam que não querem negociar com países que se transformaram em economias mais fortes nos últimos anos e mesmo assim têm tratamento diferenciado pela OMC.

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