Economia

O antes e depois de Dilma na economia

Veja como a presidente pegou e vai deixar indicadores econômicos e quais foram os fatores que ventaram contra e a favor no seu primeiro mandato

Presidente Dilma Rousseff (PT) durante uma conferência de imprensa no Palácio da Alvorada, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Presidente Dilma Rousseff (PT) durante uma conferência de imprensa no Palácio da Alvorada, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de dezembro de 2014 às 06h00.

São Paulo - Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dilma Rousseff é a primeira presidente economista que o Brasil tem desde Fernando Collor.

A familiaridade com o tema, no entanto, não bastou (ou pesou contra) em áreas como juros e investimento. Enquanto isso, indicadores positivos de crescimento e comércio que vinham da Era Lula foram se evaporando ao longo do mandato de Dilma com Guido Mantega como ministro.

Apesar de ter conseguido manter o desemprego em níveis historicamente baixos e a renda em trajetória ascendente, Dilma vai começar seu segundo mandato com PIB parado, inflação no teto da meta e juros mais altos do que recebeu de seu antecessor. 

Veja a seguir 9 indicadores econômicos do Brasil no ano antes da posse e ao longo dos 4 anos do primeiro mandato da presidente:

  Crescimento do PIB
2010 7,5%
2011 2,7%
2012 1%
2013 2,3%
2014 0,1% - 0,2% (est.)

Dilma tomou posse após um ano com 7,5% de crescimento, mas a maior taxa desde 1986 acabaria se provando "uma espécie de último fôlego do padrão de crescimento anterior”, nas palavras de Otaviano Canuto, assessor-sênior do Banco Mundial para economias em desenvolvimento.

A presidente vai terminar seu primeiro mandato com média de crescimento na casa dos 1,5%, pior resultado desde Collor. O governo culpou a crise internacional e de fato, os últimos anos viram o esgotamento de duas grandes forças por trás do último ciclo de expansão do país: a alta das commodities e a festa da liquidez internacional.

Mas a desaceleração brasileira veio antes e foi mais forte do que no resto da América Latina - e enquanto isso, os Estados Unidos crescem no maior ritmo em uma década e a China continua desmentindo as previsões de um pouso forçado.

  Desemprego (dez.)
2010 5,3%
2011 4,7%
2012 4,6%
2013 4,3%
2014 4,8% (nov.)

Por enquanto, a desaceleração da economia ainda não mexeu muito com o grande triunfo econômico do governo: a manutenção de taxas de desemprego historicamente baixas e a continuidade da formalização do mercado de trabalho.

A geração de empregos já não tem a mesma força, mas a taxa continua baixa porque menos pessoas estão procurando emprego. Para 2015, as previsões até agora são de leve alta do índice.

  Renda média (crescimento)
2010 5,9%
2011 2,6%
2012 3,2%
2013 3,2%
2014 não disponível

O baixo desemprego e políticas sociais como o aumento do salário mínimo fizeram com que a renda das famílias continuasse subindo, nos anos Dilma, a uma taxa maior do que a expansão do PIB.

O grosso do aumento real ocorreu nas classes mais baixas, contribuindo para a redução da desigualdade (pelo menos nessa medida). De acordo com o índice Gini, a desigualdade está parada desde 2011

  Taxa de investimento
2010 19,5%
2011 19,3%
2012 18,1%
2013 18,4%
2014 17,4% (até setembro)

O Brasil tem uma taxa de investimento historicamente baixa, seja em comparação com países desenvolvidos como a Austrália (28%) ou emergentes como a Indonésia (34%). Isso sem falar na China, para quem o investimento é tão central que é até problema

Aumentar este número está entre as chaves para vários desafios do país, como diminuir a inflação, resolver os gargalos de infraestrutura e aumentar o potencial de crescimento no médio e longo prazo. E nesse aspecto, o governo Dilma andou de lado, para o dizer o mínimo. 

Os investimentos públicos não devem sair ilesos dos cortes no ano que vem, mas de qualquer forma, são apenas um "fermentozinho da massa", segundo o próprio ministro Joaquim Levy. A melhora desta taxa depende do investimento privado, que ainda deve esperar para ver para onde vai a política do segundo mandato.

  Taxa Selic (fim do ano)
2010 10,75%
2011 11%
2012 7,25%
2013 10%
2014 11,75%

Por um tempo, pareceu que depois dos legados de estabilidade econômica de Fernando Henrique Cardoso e de inclusão social de Lula, o governo Dilma poderia deixar como marca a redução dos juros, que estão entre os mais altos do mundo.

A própria presidente elegeu o tema como bandeira e passou a pedir aos bancos privados que abaixassem suas taxas. Ao longo de 2012, a Selic sofreu sucessivos cortes e foi de 11% para 7,25%, uma baixa histórica.

Sem o devido apoio da política fiscal, no entanto, o Banco Central se viu obrigado a reverter o rumo, e hoje a Selic está no seu maior nível desde agosto de 2011. Pelo menos em seu primeiro mandato, Dilma vai entregar os juros mais altos do que recebeu.

  Inflação
2010 5,91%
2011 6,50%
2012 5,84%
2013 5,91%
2014 6,56% (12 meses até nov.)

A queda dos juros não foi para frente porque voltou a ameaça da inflação - outro índice que Dilma vai entregar pior do que recebeu.

A desaceleração econômica, o dólar baixo e a contenção de preços administrados como luz e gasolina não foram suficientes para impedir que a inflação ficasse longe do centro da meta por todo o governo e estourasse o teto por boa parte de 2014.

Para o ano que vem e os seguintes, o Banco Central promete uma política mais dura e conta com os cortes de gastos e aumentos de impostos prometidos pela nova equipe econômica.

  Superávit primário
2010 2,8%
2011 3,1%
2012 2,4%
2013 1,9%
2014 0,56% (12 meses até outubro)

Não é por acaso que a política fiscal foi o foco dos primeiros anúncios do novo ministro Joaquim Levy. Nos últimos anos, o uso da chamada "contabilidade criativa" e o crescimento do gasto corrente fizeram aumentar a despesa ao mesmo tempo em que a arrecadação cedia devido ao baixo crescimento e desonerações tributárias.

O resultado foi o abandono gradual de metas de superávit primário que culminou na manobra fiscal deste ano, quando o governo alterou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para transformar um déficit na prática em superávit no papel.

  Cotação do dólar (fim do ano)
2010 R$ 1,66
2011 R$ 1,86
2012 R$ 2,04
2013 R$ 2,35
2014 R$ 2,69 (em 26/12)

Além da política fiscal, outro fator que puxou a inflação para cima foi o dólar. Na medida em que a recuperação americana tomou fôlego, cresceram as apostas de que o Banco Central americano iria começar a desmontar seu programa de compra de ativos (o que ocorreu este ano) e aumentar sua taxa de juros (o que deve ocorrer no ano que vem).

A perspectiva de mais ganhos nos EUA atraíram recursos que antes vinham fácil para os emergentes. Com isso, o dólar começou um novo ciclo de fortalecimento que deve continuar.

No caso do Brasil, contaram também o fim da euforia com o país, a descrença na política econômica do governo e neste ano, as especulações próprias de ciclos eleitorais.

  Balança comercial (US$)
2010 20,2 bilhões
2011 29,7 bilhões
2012 19,4 bilhões
2013 2,5 bilhões
2014 déficit de 4 bilhões (até 19/12)

A perda de competitividade, o congelamento da agenda de reformas e o persistente custo brasil fizeram com que a demanda brasileira continuasse "vazando" para o exterior, com crescentes déficits em conta corrente e uma queda gradual da balança comercial.

A promessa é que o dólar mais forte torne os produtos brasileiros mais baratos na comparação internacional, dando um fôlego para a indústria e as exportações - mas isso ainda não ocorreu e o país deve fechar 2014 com seu primeiro déficit comercial desde 2000.

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