Candidata Marina Silva (PSB): meta de inflação de um eventual governo seu será de 4,5% (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2014 às 12h13.
Rio de Janeiro - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou em entrevista exibida nesta quinta-feira que se for eleita não vai se aventurar na política econômica, e reiterou o compromisso com o tripé da economia para recuperar a credibilidade que disse ter sido perdida sob o governo de Dilma Rousseff, que busca a reeleição pelo PT.
Marina defendeu a necessidade de recuperar a credibilidade, os investimentos e o controle dos gastos públicos no país e repetiu a proposta de institucionalização da autonomia do Banco Central.
Defendeu a necessidade de restabelecer o tripé macroeconômico formado por meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante.
"Nós não vamos nos aventurar em política econômica, não vamos inventar a roda. Há um processo que vem dando certo desde o governo Itamar, o presidente Fernando Henrique consolidou, o presidente Lula manteve. A presidente Dilma é que se aventurou e agora nós temos o nosso país com baixa credibilidade, pouco investimento, juros altos", disse a candidata ao Bom Dia Brasil, da TV Globo.
Marina disse que a meta de inflação de um eventual governo seu será de 4,5 por cento. Há anos, a meta vem sendo definida em 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
"A nossa proposta é de 4,5 por cento, é isso que nós vamos manter", disse.
Questionada sobre quais medidas vai adotar para atingir esse objetivo, Marina não entrou em detalhes. "É claro que você tem fatores que vão nos levar a poder alcançar esse objetivo", afirmou.
"Vamos fazer com que o Brasil volte a crescer. Boa parte do capital que o Brasil precisa não é tangível, e intangível, é confiança, credibilidade, respeito ao contrato, criar ambiente que favoreça os investidores a voltar a investir no Brasil", disse.
A candidata lembrou que seu programa de governo prevê a criação de um conselho de responsabilidade fiscal para verificar as contas do governo e dar eficiência as gastos públicos, além de garantir que não vai elevá-los acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Marina também voltou a criticar o que chamou de "uso político dos bancos públicos", acrescentando que manterá finalidade social dessas instituições e os investimentos "corretos", para setores como a agricultura e para programas como o Minha Casa, Minha Vida.
"O que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dar para meia dúzia de empresários, falidos uma parte deles... Nós vamos parar com o mau uso, o uso político dos bancos públicos não queremos mais."
Reforma tributária e contrapartida
Marina, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e viu a presidente Dilma Rousseff ampliar sua vantagem na liderança no primeiro turno nos últimos levantamentos, voltou a se comprometer com uma reforma tributária nos primeiros dias de governo se eleita, que terá como princípios a justiça tributária, a transparência e a simplificação.
Questionada sobre mudanças nas leis trabalhistas, a candidata explicou que sua intenção é de modernizá-las, para trazer segurança jurídica e aumentar a formalização.
"Nós não vamos mexer na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Nós queremos fazer uma atualização para que os direitos possam ser ampliados, e para que aqueles aspectos que ainda não estão sendo cumpridos adequadamente possam ser cumpridas", disse. "Isso dialoga também com a aposentadoria, com a Previdência."
A presidenciável aproveitou a entrevista para explicar melhor suas declarações sobre uma reavaliação das desonerações promovidas pelo atual governo, criticando a atual política por criar uma situação de "dependência" em determinados setores.
Para a candidata, a atual gestão pecou ao não exigir contrapartidas para as desonerações, citando a indústria automobilística como um exemplo.
"Queríamos qualificar melhor esses investimentos, no sentido de que possam ter contrapartida, que possa haver diálogo, envolvendo também a indústria automobilística. As saídas para o transporte público de qualidade, por exemplo, não pode ser uma ação só do governo federal com a sociedade. As empresas poderiam também participar desse processo e contribuir com novas formas", afirmou.
Questionada ainda sobre sua posição em relação a temas que envolvam a agricultura e a questão ambiental, Marina, que foi ministra do Meio Ambiente no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que as duas áreas não são "incompatíveis" e que esse "dilema" não interessa ao agronegócio moderno.
"É possível aumentar a produção por ganho de produtividade... O conflito é para ser manejado", disse a candidata.
Marina disse ainda que o plantio de produtos agrícolas transgênicos deve ser visto "com atenção", e que os consumidores tenham o direito de optar ou não por esses produtos.
A ex-senadora tem abordado o assunto desde que assumiu a candidatura, e mais de uma vez negou ter posição contrária aos transgênicos, ressaltando apenas que defendia, na ocasião de discussão de medida provisória sobre o tema ainda no primeiro governo de Lula, a "coexistência".
Fragilidade e pesquisas
Confrontada com os resultados de recentes pesquisas que apontam uma reação da presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT, e uma queda de Marina, a candidata do PSB ponderou que tem menos estrutura que seus principais concorrentes, lembrando que teve de começar sua campanha "do zero" após a trágica morte de Eduardo Campos, que era o candidato do partido ao Planalto, em acidente aéreo.
"Nós estamos com dois minutos de televisão e não temos as estruturas que os nossos concorrentes têm, nem o poder de vocalização que eles têm. E mesmo assim nós estamos aonde estamos", afirmou Marina.
Pesquisa Ibope divulgada esta semana mostrou Dilma com vantagem de 9 pontos sobre Marina no primeiro turno (38 por cento a 29 por cento), e empate numérico em 41 por cento entre as duas candidatas no segundo.
Marina disse ainda na entrevista que "sensibilidade não pode ser confundida com fraqueza", ao ser questionada sobre sua postura diante de ataques de adversários e sobre o fato de ter chorado em entrevista a um jornal. Voltou a fazer uma metáfora com a árvore biorana, "não é tão grossa, mas é âmago puro", e lembrou ter passado por diversos problemas de saúde e dificuldades.
"Ter enfrentado cinco malárias, três hepatites, uma leishmaniose, perder a mãe aos 14 anos, ter sido alfabetizada aos 16 anos, ter passado o que eu passei, vir me dizer que isso é fragilidade e não me pedir para não ter emoções, sinceramente... Já vi tantos líderes chorando e não é por isso que são mais fracos ou menos fracos”.
Atualizado às 12h13