Não há vontade política para privatizar, diz Mattar após deixar governo
Ex-secretário de Guedes diz não estar frustrado e critica Congresso por demora em aprovar venda da Eletrobras
Isabela Rovaroto
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 07h20.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 13h32.
Após deixar o governo, o agora ex-secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados Salim Mattar disse na noite desta terça-feira que deixou o cargo porque há falta de "vontade política" em avançar nas privatizações, principal agenda de sua pasta.
— Existe uma coisa que se chama vontade política. Estou dizendo que, na política, não há uma vontade política de fazer desestatizações — disse Mattar, em entrevista à CNN Brasil.
Ele criticou especificamente a demora do Congresso em pautar a privatização da Eletrobras , nos planos do governo desde a gestão do ex-presidente Michel Temer.
— Por exemplo, a Eletrobras, há quanto tempo nós estamos falando de Eletrobras? Desde o ano passado. Tem um ano. Até agora, o Congresso, nesse caso específico, não teve a priorização de colocar a Eletrobras como um caso a ser resolvido — criticou.
Egresso do setor privado, Mattar é dono da empresa de aluguel de veículos Localiza. Ele repetiu uma queixa frequente sobre o que considera um excesso de burocracia nos processos no serviço público e culpou o "establishment" pelo atraso na agenda. Ele negou, no entanto, estar frustrado.
— Não estou frustrado. O mundo de governo é muito diferente do mundo da iniciativa privada. As lógicas são diferentes, o tempo é diferente. Então, nós, da iniciativa privada, normalmente temos dificuldade de nos adaptar ao tempo, à lentidão, da burocracia estatal. Não estou frustrado, estou saindo porque acho que chegou o meu timing — afirmou.
Mattar deixou o governo nesta terça-feira, mesmo dia em que o secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, também anunciou sua saída.
Desde o início do governo, ao menos oito técnicos importantes do time do ministro da Economia, Paulo Guedes, abandonaram a equipe, em um movimento que o próprio Guedes chama de debandada.