Não há ajuste fiscal sem reforma da Previdência, diz secretário do Tesouro
Segundo Mansueto Almeida, eventual reforma complementar que introduza a capitalização na Previdência Social é viável desde que haja uma transição gradual
Agência Brasil
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 20h36.
Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 20h39.
Qualquer ajuste nas contas públicas requer a aprovação de alguma reforma da Previdência Social , disse nesta sexta-feira, 26, o secretário do Tesouro Nacional , Mansueto Almeida. Ao comentar o resultado das contas do governo central em setembro, ele defendeu a prioridade na discussão da proposta em tramitação no Congresso para que outros pontos possam ser discutidos depois.
"Há alguma chance de ajuste fiscal no Brasil sem a reforma da Previdência? Não. A tendência das contas da União e dos estados é piorar se não tiver nenhuma reforma", disse Almeida. "A atual proposta introduz idade mínima, cronograma de transição e regras para acúmulo de pensões que são medidas importantes para conter o crescimento dos gastos com a Previdência".
Segundo o secretário, uma eventual reforma complementar que introduza a capitalização na Previdência Social é viável, desde que haja uma transição gradual. "Se for implementar [a capitalização] imediatamente, haverá um custo de transição que aumentaria a gravidade das contas fiscais. Isso traz, de fato, um custo brutal, mas, pelas propostas que tenho visto de vários economistas, muitos não ligados a campanhas eleitorais, preveem algo gradual que começará daqui a 10, 15 ou 20 anos", disse.
No sistema atual de Previdência Social, o pagamento dos benefícios baseia-se no regime de repartição, onde os trabalhadores da ativa contribuem para a Previdência pagar as aposentadorias, auxílios e pensões atuais. No regime de capitalização, o trabalhador contribui durante a idade ativa para uma poupança individual, que financiará a aposentadoria de cada beneficiário no futuro.
No caso de uma mudança de sistema, o Tesouro Nacional teria de complementar o pagamento das aposentadorias do regime de repartição, que deixariam de receber as contribuições dos trabalhadores atuais.
DESVINCULAÇÕES
O secretário do Tesouro defendeu ainda a redução das vinculações que obrigam o governo a gastar em despesas fixas. Segundo ele, a Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permite o livre remanejamento de até 30% do Orçamento, deixou de facilitar o gerenciamento das contas públicas por causa do aumento do déficit dos últimos anos.
"A DRU ajudava o governo a fazer [superávit] primário. Hoje não ajuda nada porque a seguridade social [Previdência Social, assistência social e saúde] tem um déficit grande. O governo pega os recursos livres para cobrir esse déficit. O único grande benefício [da DRU] é a recomposição de fontes de gastos", justificou Almeida.
O secretário do Tesouro também defendeu a aprovação de medidas que estão paradas no Congresso, como a regulamentação do cadastro positivo (lista de bons pagadores), a modernização das relações entre o Tesouro Nacional e o Banco Central e a nova lei das agências reguladoras. Ele, no entanto, disse não saber avaliar se essas propostas têm condições de serem aprovadas antes do fim do ano.
AUMENTO TRANSITÓRIO
O secretário manteve a projeção, divulgada no mês passado, de que o setor público (União, estados, municípios e estatais) encerrará o ano em torno de 125,2 bilhões de reais, com folga de 35,8 bilhões de reais em relação à meta de déficit de 161,3 bilhões de reais.
Apenas para o Governo Central, o resultado negativo deve fechar 2018 em torno de 140 bilhões de reais, por causa do represamento de 15 bilhões de reais de recursos em ministérios. Esse é o dinheiro que a equipe econômica libera, mas os ministérios não conseguem gastar por problemas de gestão ou de subvinculações orçamentárias que dificultam o remanejamento de verbas.