Mercado vê leilão de energia solar com pelo menos 500 MW
Previsão é que o leilão desta sexta tenha um deságio baixo ante o preço-teto permitido de 262 reais por megawatt-hora (MWh)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2014 às 16h58.
São Paulo - Investidores do setor de energia solar esperam que ao menos 500 megawatts em usinas dessa fonte sejam contratados no leilão de sexta-feira, mas com deságio baixo ante o preço-teto permitido de 262 reais por megawatt-hora (MWh), diante de incertezas sobre fornecimento de equipamentos e volatilidade cambial.
Projetos híbridos, em que usinas solares são erguidas em locais em que já existem outros projetos de geração, geralmente eólicos ou hidrelétricos, tendem a ter vantagens competitivas, já que podem obter sinergias com os projetos existentes, reduzindo investimentos.
"Eu não tenho dúvida que não vai faltar quem ofereça energia. Mas que o deságio não vai ser muito grande, não acho que vai mesmo. Esses projetos que vão juntar com eólica têm condições de chegar num preço com um melhor deságio, mas tem que ver se vão querer brigar entre eles", disse o assessor da área de GTD (Geração, Transmissão e Distribuição) da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Roberto Barbieri.
O preço-teto do leilão de reserva de sexta-feira está em linha com a expectativa do mercado, mas a falta de garantias pelos fornecedores de equipamentos de que se instalarão no país pode dificultar a participação de alguns empreendedores que dependem apenas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como fonte de financiamento.
Falta de pré-contrato com fornecedores dificulta a formulação de lances mais agressivos pelos competidores mais cautelosos.
O BNDES faz exigências de nacionalização de fabricação de equipamentos para definir financiamentos aos parques solares. No entanto, o Brasil só tem um fabricante de módulos solares, a Tecnometal.
Grande parte dos fabricantes internacionais espera o resultado do leilão de energia solar para decidir se instalarão fábricas no país, com base na demanda que deve surgir.
"É uma questão meio do ovo e da galinha. Alguns fabricantes têm dito que tem interesse em colocar fábrica no Brasil a depender do resultado do leilão. Mas os investidores precisam da garantia do fornecedor para ter certeza de que BNDES vai financiar", disse o sócio-fundador da Energia Capital, Eduardo Serra, que tem projetos cadastrados com parceria de investidor nacional para participar do leilão.
Mercado de Olho
O leilão, que será o primeiro em que a fonte de energia solar não terá que disputar a venda com outras mais competitivas, está sendo acompanhado com atenção pelo mercado pois pode marcar o início da efetiva entrada da fonte na matriz elétrica brasileira.
Os projetos que saírem vencedores precisam iniciar a entrega da energia a partir de 2017.
Quase 11 gigawatts de cerca de 400 projetos solares foram cadastrados para o leilão e a expectativa do mercado, desde meados desse ano, era de que contratação ficasse entre 500 e 1.000 megawatts de energia solar nesse leilão. Atualmente, a estimativa está pendendo mais para o nível mais baixo dessa faixa.
Uma fonte de grande empresa geradora de energia que deve participar do leilão informou que o preço está um pouco acima do que esperavam, mas não vê deságio médio superior a 5 por cento no leilão.
Essa empresa poderia recorrer a financiamento internacional, embora ainda não tenha definido a estratégia.
O consultor da área de energia solar, Leonardo Aguiar, acredita que o leilão será competitivo, mas que o preço médio final da fonte deve ficar bem próximo do preço-teto.
"Sem dúvida, quem vai ganhar primeiro é o pessoal que tem projetos dentro de parques eólicos, projetos híbridos, que têm capex mais baixos", disse ele, que atuava na indústria de equipamentos solares até pouco tempo.
Entre empresas com projetos solares que podem obter sinergias com outras usinas de geração já existentes estão a Renova Energia, com parques eólicos na Bahia, e a AES Tietê, que cadastrou um projeto solar que será localizado próximo à hidrelétrica Água Vermelha, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
Investimentos
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia, tem uma perspectiva positiva em relação ao leilão, mas avalia que o deságio tende a sofrer pressão negativa da valorização do dólar contra o real. "A alta do dólar acumulada nas últimas semanas é significativa e como alguns equipamentos vêm de fora, são importados, isso impacta o capex dos projetos", disse.
O chefe de project finance do setor de energia no Itaú BBA, Marcelo Girão, avalia que os custos de investimento de projetos solares no Brasil ficariam entre 4,5 milhões a 5,5 milhões de reais por megawatt instalado.
"Empreendedores estão olhando outras fontes de financiamento além do BNDES. Como o BNDES leva um tempo para fazer análise até o desembolso, bancos comerciais fazem empréstimo-ponte e quando sai o do BNDES quita-se o empréstimo-ponte", disse Girão, que assessora empresas que querem participar do leilão.
A Caixa Geral de Depósitos do Brasil, que também assessora interessados no leilão solar, conseguiu 30 milhões de dólares da International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, e deverá repassar os recursos para financiamento de alguma empresa no leilão, que pode também ser de outro segmento de energia renovável.
"Não seria o suficiente, (o investidor) teria que compor com outros recursos. Um projeto estaria em torno de 300 milhões de reais, o acionista vai ter que investir parte de capital próprio e chamar dois ou três bancos. Entraríamos como um desses bancos", disse o responsável pela área de corporate investment banking da CGD, Mauricio Xavier.
Entre empresas com projetos cadastrados para o leilão estão AES Tietê, CPFL Renováveis, Alupar, Enel Green Power, Energisa, Renova Energia.
Grandes fabricantes internacionais de módulos solares e desenvolvedores de projetos já com escritórios no Brasil, como a norte-americana SunEdison, também cadastraram projetos para o leilão, segundo lista do Ministério de Minas e Energia.
A Eletrosul, da Eletrobras, que tem projeto cadastrado, informou por meio da assessoria de imprensa que não participará do leilão.
O diretor da empresa brasileira desenvolvedora de projetos Renobrax, Ricardo Rosito, considera que o preço-teto está abaixo do ideal, dadas as incertezas em relação à garantia de financiamento nacional.
Ele acredita que empresas com módulos solares e garantia de financiamento internacionais, caso necessário, tendem a sair na frente. "Quem usar localmente, acho bem difícil", disse ele, que tem projetos cadastrados para o leilão.
O leilão de energia de reserva começa a partir das 10 horas de sexta-feira, em São Paulo, operado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
A disputa também prevê produto para venda de energia eólica, que tem 15,3 GW em projetos cadastrados, e de térmicas a biomassa de resíduos sólidos, que têm 151 MW em projetos inscritos.
As eólicas poderão vender energia até o preço-teto de 144 reais por MWh, e a biomassa até 169 reais por MWh.
São Paulo - Investidores do setor de energia solar esperam que ao menos 500 megawatts em usinas dessa fonte sejam contratados no leilão de sexta-feira, mas com deságio baixo ante o preço-teto permitido de 262 reais por megawatt-hora (MWh), diante de incertezas sobre fornecimento de equipamentos e volatilidade cambial.
Projetos híbridos, em que usinas solares são erguidas em locais em que já existem outros projetos de geração, geralmente eólicos ou hidrelétricos, tendem a ter vantagens competitivas, já que podem obter sinergias com os projetos existentes, reduzindo investimentos.
"Eu não tenho dúvida que não vai faltar quem ofereça energia. Mas que o deságio não vai ser muito grande, não acho que vai mesmo. Esses projetos que vão juntar com eólica têm condições de chegar num preço com um melhor deságio, mas tem que ver se vão querer brigar entre eles", disse o assessor da área de GTD (Geração, Transmissão e Distribuição) da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Roberto Barbieri.
O preço-teto do leilão de reserva de sexta-feira está em linha com a expectativa do mercado, mas a falta de garantias pelos fornecedores de equipamentos de que se instalarão no país pode dificultar a participação de alguns empreendedores que dependem apenas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como fonte de financiamento.
Falta de pré-contrato com fornecedores dificulta a formulação de lances mais agressivos pelos competidores mais cautelosos.
O BNDES faz exigências de nacionalização de fabricação de equipamentos para definir financiamentos aos parques solares. No entanto, o Brasil só tem um fabricante de módulos solares, a Tecnometal.
Grande parte dos fabricantes internacionais espera o resultado do leilão de energia solar para decidir se instalarão fábricas no país, com base na demanda que deve surgir.
"É uma questão meio do ovo e da galinha. Alguns fabricantes têm dito que tem interesse em colocar fábrica no Brasil a depender do resultado do leilão. Mas os investidores precisam da garantia do fornecedor para ter certeza de que BNDES vai financiar", disse o sócio-fundador da Energia Capital, Eduardo Serra, que tem projetos cadastrados com parceria de investidor nacional para participar do leilão.
Mercado de Olho
O leilão, que será o primeiro em que a fonte de energia solar não terá que disputar a venda com outras mais competitivas, está sendo acompanhado com atenção pelo mercado pois pode marcar o início da efetiva entrada da fonte na matriz elétrica brasileira.
Os projetos que saírem vencedores precisam iniciar a entrega da energia a partir de 2017.
Quase 11 gigawatts de cerca de 400 projetos solares foram cadastrados para o leilão e a expectativa do mercado, desde meados desse ano, era de que contratação ficasse entre 500 e 1.000 megawatts de energia solar nesse leilão. Atualmente, a estimativa está pendendo mais para o nível mais baixo dessa faixa.
Uma fonte de grande empresa geradora de energia que deve participar do leilão informou que o preço está um pouco acima do que esperavam, mas não vê deságio médio superior a 5 por cento no leilão.
Essa empresa poderia recorrer a financiamento internacional, embora ainda não tenha definido a estratégia.
O consultor da área de energia solar, Leonardo Aguiar, acredita que o leilão será competitivo, mas que o preço médio final da fonte deve ficar bem próximo do preço-teto.
"Sem dúvida, quem vai ganhar primeiro é o pessoal que tem projetos dentro de parques eólicos, projetos híbridos, que têm capex mais baixos", disse ele, que atuava na indústria de equipamentos solares até pouco tempo.
Entre empresas com projetos solares que podem obter sinergias com outras usinas de geração já existentes estão a Renova Energia, com parques eólicos na Bahia, e a AES Tietê, que cadastrou um projeto solar que será localizado próximo à hidrelétrica Água Vermelha, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
Investimentos
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia, tem uma perspectiva positiva em relação ao leilão, mas avalia que o deságio tende a sofrer pressão negativa da valorização do dólar contra o real. "A alta do dólar acumulada nas últimas semanas é significativa e como alguns equipamentos vêm de fora, são importados, isso impacta o capex dos projetos", disse.
O chefe de project finance do setor de energia no Itaú BBA, Marcelo Girão, avalia que os custos de investimento de projetos solares no Brasil ficariam entre 4,5 milhões a 5,5 milhões de reais por megawatt instalado.
"Empreendedores estão olhando outras fontes de financiamento além do BNDES. Como o BNDES leva um tempo para fazer análise até o desembolso, bancos comerciais fazem empréstimo-ponte e quando sai o do BNDES quita-se o empréstimo-ponte", disse Girão, que assessora empresas que querem participar do leilão.
A Caixa Geral de Depósitos do Brasil, que também assessora interessados no leilão solar, conseguiu 30 milhões de dólares da International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, e deverá repassar os recursos para financiamento de alguma empresa no leilão, que pode também ser de outro segmento de energia renovável.
"Não seria o suficiente, (o investidor) teria que compor com outros recursos. Um projeto estaria em torno de 300 milhões de reais, o acionista vai ter que investir parte de capital próprio e chamar dois ou três bancos. Entraríamos como um desses bancos", disse o responsável pela área de corporate investment banking da CGD, Mauricio Xavier.
Entre empresas com projetos cadastrados para o leilão estão AES Tietê, CPFL Renováveis, Alupar, Enel Green Power, Energisa, Renova Energia.
Grandes fabricantes internacionais de módulos solares e desenvolvedores de projetos já com escritórios no Brasil, como a norte-americana SunEdison, também cadastraram projetos para o leilão, segundo lista do Ministério de Minas e Energia.
A Eletrosul, da Eletrobras, que tem projeto cadastrado, informou por meio da assessoria de imprensa que não participará do leilão.
O diretor da empresa brasileira desenvolvedora de projetos Renobrax, Ricardo Rosito, considera que o preço-teto está abaixo do ideal, dadas as incertezas em relação à garantia de financiamento nacional.
Ele acredita que empresas com módulos solares e garantia de financiamento internacionais, caso necessário, tendem a sair na frente. "Quem usar localmente, acho bem difícil", disse ele, que tem projetos cadastrados para o leilão.
O leilão de energia de reserva começa a partir das 10 horas de sexta-feira, em São Paulo, operado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
A disputa também prevê produto para venda de energia eólica, que tem 15,3 GW em projetos cadastrados, e de térmicas a biomassa de resíduos sólidos, que têm 151 MW em projetos inscritos.
As eólicas poderão vender energia até o preço-teto de 144 reais por MWh, e a biomassa até 169 reais por MWh.