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Matopiba projeta retomada após boa safra de soja

O agricultor Fernando Fritzen faz as contas dos lucros da safra, que marca o início de uma recuperação após perdas pela seca na última temporada

Soja: (Getty Images)
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Reuters

Publicado em 21 de março de 2017 às 17h31.

Piauí  - Enquanto acompanha a colheita de soja na extensa fazenda situada na região da Serra do Quilombo, no Piauí, o agricultor Fernando Fritzen faz as contas dos lucros da safra 2016/17, que marca o início de uma recuperação após perdas consideráveis pela seca na última temporada.

Projetando dobrar sua produtividade média ante 2015/16, para cerca de 60 sacas por hectare, Fritzen avalia que este ano será mais para colocar os negócios da Fazenda Alvorada "em dia", para depois retomar investimentos e expansões, uma característica do Matopiba, fronteira agrícola de alta tecnologia situada nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

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"Em 2018, vamos voltar a investir novamente, graças a essa safra que estamos colhendo", afirmou Fritzen à Reuters, enquanto várias de suas nove colheitadeiras percorriam rapidamente talhões de soja da propriedade.

Fritzen, gaúcho de Humaitá, o mais novo de três irmãos, chegou ao Piauí aos 14 anos em 2002.

Hoje ele cuida da parte operacional da fazenda juntamente com a família, que atua também no transporte de grãos, com dez caminhões, e na pecuária, com foco em cria de bovinos.

"Não fosse a seca (do ano passado), já estaríamos plantando em 100 por cento da área permitida, e já estaríamos com 20 caminhões na transportadora...", revelou ele, que cultiva atualmente 19 mil hectares, a maioria soja, em uma área de 24 mil hectares com autorização legal para ser incorporada à atividade.

Desde que a família se estabeleceu na região do município de Gilbués, no sul piauiense, há cerca de 15 anos, o agricultor disse ter visto apenas duas safras ruins na região, que recebe maiores volumes de chuva do que outras áreas do Estado, conhecido pela escassez hídrica.

Por isso a confiança de retomar os investimentos nos próximos anos, após a família Fritzen ter conseguido renegociar os compromissos financeiros decorrentes da severa quebra de safra.

A Serra do Quilombo, onde está a Alvorada, em um chapadão que a vista não alcança o fim, a cerca de 600 metros de altitude, conta com mais de 100 mil hectares ocupados por agricultores, que deverão seguir na atividade apesar das dificuldades dos últimos anos, disse Fritzen.

O potencial da região poderia ser otimizado, continuou o produtor, se o governo estadual investisse para acelerar o asfaltamento completo da chamada Transcerrado, rodovia que passa ao lado da Alvorada com destino a Uruçui (PI), ou mesmo se desse soluções para questões mais triviais como a emissão de notas fiscais, cujo sistema fica fora do ar de forma recorrente, atrasando o transporte das cargas de soja e milho.

Avanços e Oportunidades

Melhorias em estradas, no entanto, foram verificadas pelo Rally da Safra, organizado pela Agroconsult e acompanhado pela Reuters, em vários trechos percorridos na segunda-feira, incluindo uma rodovia recém-asfaltada que liga Gilbués a Bom Jesus.

A nova estrada, que passa em frente à fazenda Jacuí, de propriedade de Janir Dezordi, de 75 anos, é mais uma boa notícia para o agricultor neste ano de recuperação de safra no Piauí.

"Antes (sem o asfalto), demorava duas horas e meia para fazer 15 quilômetros até o armazém da Bunge. Agora não demora 15 minutos", disse Dezordi, que acabava de entregar a sua primeira carga de soja da safra à unidade da multinacional.

Na rodovia asfaltada, também há armazéns de outras tradings, como a Agrex e CHS, que avançaram nos financiamentos nesta temporada, uma vez que os bancos ficaram mais cautelosos após a última quebra de safra, que caiu quase 65 por cento em 2015/16 ante a temporada anterior, para apenas 650 mil toneladas no Piauí.

Neste ambiente de recuperação, instituições como o banco Santander estão agressivas, de olho na possibilidade de abocanhar parte dos empréstimos hoje feitos pelas tradings e mesmo parte dos tradicionais financiamentos do Banco do Brasil.

Apenas nestes primeiros meses do ano, o Santander deve quase dobrar o número lojas dedicadas exclusivamente ao agronegócio na regional do Matopiba, com novas unidades em Posse (divisa de Goiás e Bahia), Balsas (MA) e Paragominas (PA), disse o executivo do banco para a região Gilberto Mendes Capuchinho, lembrando que a iniciativa faz parte de um plano maior da instituição para ampliar atuação no setor.

"Tivemos problema na última safra, mas é pontual, estamos em franco crescimento", disse Capuchinho, referindo-se ao Matopiba, onde o Santander já tem outras quatro agências, em Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, na Bahia, em Palmas (TO) e Imperatriz (MA).

A boa safra vai ajudar no processo de retomada da oferta de financiamento, mas o lucro, em geral, não será suficiente para uma expansão da agricultura em novas áreas no Matopiba em 2017, segundo o diretor da Agroconsult, André Pessôa.

Mas, se for feita uma análise mais a longo prazo, o Matopiba continuará sendo uma importante fronteira agrícola brasileira, disse Pessôa, cuja equipe verificou no Rally da Safra boas produtividades nas lavouras do Piauí, ficando perto de 55 sacas por hectare, ainda que os volumes estejam um pouco abaixo dos registrados na Bahia, onde muitas áreas renderam cerca de 70 sacas.

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