Maggi: disputa entre EUA e China "só atrapalha" agronegócio brasileiro
Ministro da Agricultura disse que tensão entre as duas maiores economias do mundo deve elevar custos da soja, com impactos para a indústria de carnes
Reuters
Publicado em 19 de junho de 2018 às 20h38.
Brasília - A escalada da tensão comercial entre Estados Unidos e China "só vai atrapalhar o Brasil" e tende a elevar os custos da soja no país, com impacto negativo para a indústria brasileira de carnes , disse nesta terça-feira o ministro da Agricultura brasileiro, Blairo Maggi.
Para Maggi, as decisões do presidente dos EUA, Donald Trump, que têm gerado uma disputa comercial entre os norte-americanos e a China, são muito prejudiciais para o agronegócio brasileiro.
O preço da soja na bolsa de Chicago despencou para o menor nível em quase uma década nesta terça-feira, para menos de 9 dólares por bushel, em meio a um acirramento da disputa entre China e EUA.
Enquanto isso, os prêmios nos portos brasileiros em relação às cotações na bolsa norte-americana subiram, o que sustenta o preço da oleaginosa no mercado brasileiro, atento ao interesse chinês pelo produto nacional.
"O Brasil pode ter um prêmio. Cai Chicago, sobe o prêmio aqui e equipara um pouco (o preço) para o agricultor brasileiro. Mas isto tem efeitos colaterais muito ruins na produção de carnes do Brasil", destacou o ministro a jornalistas, citando os maiores custos.
Segundo ele, na medida em que o preço da matéria-prima da ração fica mais elevado na comparação com os EUA, a produção de frango e suínos no Brasil tem seus custos elevados, o que coloca em risco a competitividade da indústria de carnes.
"E vamos perder esses mercados (de carnes) para os americanos ou qualquer um outro lá fora. Perdemos competitividade na área de proteína animal. Quando vamos recuperar isto? Quando os EUA e a China sentarem e resolverem...", disse ele.
Ele disse que a indústria processadora de soja do Brasil também perde, uma vez que o farelo de soja fica menos competitivo na exportação, diante do preço mais alto da matéria-prima.
"Fora nossas fábricas de esmagamento que perdem, pois chinês só quer levar soja em grão, não quer levar soja farelo, e nossas fábricas perdem competitividade para vender farelo de soja na Europa, por exemplo... Para mim, a atitude do Trump em relação ao agro é muito prejudicial ao agronegócio...", declarou.
A Europa é o principal mercado para o farelo de soja do Brasil, enquanto a China, maior importador global do grão, é o principal mercado.
Com uma tarifa para a soja dos EUA aplicada pela China, a soja brasileira poderia ficar mais competitiva apenas para exportar aos chineses, que devem taxar o produto norte-americano.
Anteriormente, quando o mercado contabilizava apenas as ameaças de Trump, produtores brasileiros conseguiram avançar fortemente com seus negócios da oleaginosa, aproveitando os bons preços do produto.
No momento, no entanto, as incertezas --somadas aos problemas para negociar advindos do impasse em relação ao tabelamento do frete-- estão travando os negócios de soja do Brasil, tamanha a perda em Chicago nesta terça-feira, disseram corretores à Reuters.
Na última sexta-feira, a China anunciou que aplicará uma tarifa de 25 por cento sobre a soja dos Estados Unidos a partir de 6 de julho, em represália a medidas norte-americanas, e os mercados caíram mais nesta terça-feira após Trump ameaçar mais tarifas a produtos dos chineses, que advertiram que poderiam reagir novamente.