Nicolás Maduro: resolver a crise econômica e arranjar US$ 3,5 bilhões para pagar títulos que vencem até novembro é um desafio para Maduro (Marco Bello/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2017 às 14h21.
Última atualização em 29 de agosto de 2017 às 14h23.
O regime socialista da Venezuela consolidou um controle político quase absoluto depois de instaurar uma assembleia constituinte todo-poderosa.
Resolver a crise econômica e arranjar US$ 3,5 bilhões para pagar títulos que vencem até novembro, porém, vai ser mais complicado.
O presidente Nicolás Maduro prosperou apesar de protestos brutais nas ruas, menção de força militar pelos EUA e várias rodadas de sanções.
Sua nova assembleia constituinte está contornando o congresso e deve começar a reescrever a constituição do país nesta semana.
Mas o resultado final pode ser que Maduro seja o único dono do colapso financeiro fatal de um país que antigamente era rico.
Maduro vem buscando novas salvações financeiras na Rússia, reduziu as importações, cobrou dívidas e vendeu ou hipotecou ativos com grandes descontos.
Até 31 de julho, o governo havia acumulado US$ 2,8 bilhões para os pagamentos de novembro, de acordo com a consultoria Ecoanalítica, com sede em Caracas.
Deixar de honrar as dívidas poderia aprofundar a falta de dinheiro do país, e os credores poderiam arrebatar os ativos da Venezuela no exterior — refinarias, navios-petroleiros, postos de gasolina —, o que prejudicaria ainda mais a capacidade de exportação.
No entanto, o diretor da Ecoanalítica, Asdrúbal Oliveros, duvida que o governo consiga honrá-las depois deste ano se continuar alienando investidores e líderes regionais. “O governo continua preso na mesma dinâmica”, disse ele. “Está sustentando um sistema insustentável.”
A corda no pescoço da Venezuela está ficando cada vez mais apertada. Na semana passada, o governo Trump impediu a negociação de novas dívidas emitidas pelo governo venezuelano e pela companhia estatal de petróleo PDVSA, e bloqueou a negociação em alguns títulos existentes de propriedade do setor público do país. A proibição pretende impedir as entidades governamentais venezuelanas de vender títulos no mercado secundário.
À medida que a Venezuela se isolou economicamente, a inflação disparou e o país foi assolado pela escassez generalizada, de peças de automóveis a medicamentos básicos.
A mortalidade infantil e doenças como a malária aumentaram, enquanto serviços instáveis e programas alimentares pouco confiáveis alimentaram a violência entre aqueles que eram leais a Maduro e seu mentor, o falecido Hugo Chávez.
Maduro tem sido vago sobre o que fará para melhorar a penúria da Venezuela.
No mês passado, o preço do dólar disparou no mercado negro, cada vez mais usado para manter à tona a economia dependente das importações. Embora os preços do dólar tenham diminuído desde então, muitos donos de empresas se queixam por não conseguir trocar o preço das mercadorias rápido o suficiente para acompanhar o ritmo da inflação.
José Manuel Puente, economista do Instituto de Estudos Avançados em Administração em Caracas, disse que a Venezuela poderia estar se aproximando da hiperinflação.
Enquanto o banco central se mantém em silêncio sobre os principais indicadores, o Fundo Monetário Internacional estima que a economia vai se contrair pelo quarto ano consecutivo — 12 por cento em 2017. Enquanto isso, os preços aumentaram 649 por cento anualmente, de acordo com estimativas da Torino Capital.
“É impossível ter uma política macroeconômica coerente se a política interna está no caos”, disse Puente.
Harold Trinkunas, um especialista em Venezuela da Universidade de Stanford, disse que um colapso financeiro poderia ter consequências sérias para toda a região. “Já não é apenas o petróleo”, disse ele. “É o aspecto humanitário.”