Economia

França acusa Bolsonaro de "mentir" e se opõe a acordo UE-Mercosul

Presidente francês disse que "Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade"

Macron: presidente francês estima que Bolsonaro "mentiu" sobre compromissos com o meio ambiente (Charles Platiau/File Photo/Reuters)

Macron: presidente francês estima que Bolsonaro "mentiu" sobre compromissos com o meio ambiente (Charles Platiau/File Photo/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de agosto de 2019 às 09h48.

Última atualização em 23 de agosto de 2019 às 10h43.

O presidente francês Emmanuel Macron estima que seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, "mentiu" sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que, sob essas condições, a França se opõe ao controverso tratado de livre comércio UE-Mercosul.

"Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula (do G20) de Osaka", declarou o palácio do Eliseu, estimando que "o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade".

"Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul", acrescentou a presidência francesa.

Não é só a França que se manifesta nesta sexta-feira (23).

O primeiro-ministro da Irlanda ameaçou votar contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não respeitar seus “compromissos ambientais”.

“De maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo de livre comércio UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais”, declarou o primeiro-ministro Leo Varadkar em um comunicado divulgado na quinta-feira à noite.

Varadkar se disse “muito preocupado porque neste ano houve níveis recordes de destruição por incêndios na floresta amazônica”, e considerou que “os esforços do presidente Bolsonaro para culpar ONGs ambientalistas pelos incêndios são orwellianos”.

Após 20 anos de negociações, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram recentemente com a UE um Acordo de Associação que inclui seções de diálogo político e comercial.

Os países do bloco europeu ainda devem dar seu aval ao texto para permitir sua entrada em vigor, que deve ter a aprovação da Eurocâmara, um procedimento que pode levar dois anos.

“Ao longo dos dois anos, vamos monitorar de perto as ações ambientais do Brasil”, advertiu Varadkar.

Os incêndios na Amazônia tiveram repercussão internacional na quinta-feira, com pedidos da ONU e de líderes mundiais para “proteger” o pulmão do planeta e convocatórias de protestos mundiais.

A chanceler alemã Angela Merkel, por meio de seu porta-voz, também considerou que os incêndios na Amazônia constituem uma “situação urgente” que deve ser discutida durante a cúpula do G7.

Entre janeiro e 21 de agosto, o INPE registrou no Brasil 75.336 foco de incêndio, 84% a mais do que no mesmo período de 2018. Esse número aumentou 2.493 em relação a segunda-feira.

Segundo especialistas, a multiplicação dos incêndios ocorre no âmbito de um rápido avanço do desmatamento na região amazônica, que em julho quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2018, segundo dados do INPE.

O acordo UE-Mercosul deve eliminar em 15 anos 91% das tarifas e taxas do Mercosul sobre produtos europeus e a UE fará o mesmo com 92% dos seus em dez anos.

Mas algumas nações europeias, incluindo França, Polônia e Irlanda, expressaram preocupação com o impacto desses acordos em seu setor agrícola. As ONGs também alertaram sobre as consequências para o meio ambiente.

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