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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h53.
Ao contrário do que esperava a oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou se isentar de qualquer responsabilidade sobre as denúncias de corrupção e de financiamento irregular de campanhas eleitorais. Em seu pronunciamento à nação, nesta sexta-feira (12/8), Lula afirmou que foi traído pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e que, se estivesse ao seu alcance, "já teria identificado e punido todos os culpados". "Eu me sinto traído. Nunca tive conhecimento sobre esses fatos e estou indignado com as revelações que surgem a cada dia", disse.
Nesta sexta-feira (12/8), a imprensa divulgou declarações do presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, afirmando que Lula sabia dos acordos ilegais para financiar sua campanha e a do vice-presidente José Alencar, filiado ao PL. Por isso, a oposição esperava que Lula admitisse ter conhecimento das operações irregulares e que explicasse pontualmente cada suspeita. Os oposicionistas aguardavam ainda desculpas de Lula à nação, com o objetivo de recobrar a legitimidade necessária para concluir seu mandado. Mas o presidente limitou-se a reconhecer a gravidade da crise política, como já havia feito em carta enviada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil nesta semana, e declarou que seu governo está empenhado em "investigar a fundo" todas as suspeitas com o trabalho da Polícia Federal, para punir os envolvidos, sejam eles membros do PT, da base aliada ou da oposição.
O presidente afirmou que fundou o PT, há 25 anos, com o objetivo de oferecer uma opção ética à política nacional. Por isso, admitiu que a população tem motivos para ficar indignada com o partido e pediu desculpas pelo governo e pela legenda. "Eu não tenho vergonha em admitir que temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O governo tem de pedir desculpas", disse.
Para reduzir a responsabilidade do PT, Lula responsabilizou o sistema político partidário do Brasil por permitir crises dessa magnitude. "O Brasil precisa corrigir as distorções do sistema urgentemente, com a tão sonhada reforma política", declarou.
Desgastado pelas denúncias e ameaçado de perder a eleição presidencial de 2006, segundo a pesquisa Datafolha divulgada hoje, Lula afirmou que "não mudou", numa referência às suas bandeiras éticas e sociais. Além disso, procurou apoio nos resultados da política econômica, citando o equilíbrio fiscal, o controle da inflação, os superávits comerciais e a geração de empregos. Também citou programas sociais como o Bolsa-Família. "É obrigação do governo, da oposição, dos empresários e dos trabalhadores não permitir que a crise atrapalhe a economia", disse.
Num episódio semelhante ao de Fernando Collor às vésperas de seu impeachment, Lula também procurou apoio junto à população em geral. "Estou mais indignado do que qualquer cidadão e tenho certeza de que posso contar com o povo brasileiro", afirmou. "Quero dizer a vocês: não percam a esperança."