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Lula defende Bolívia e desautoriza presidente da Petrobras

Presidente brasileiro reconhece o direito boliviano de nacionalizar setor petrolífero em nome da união sul-americana

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

O recuo do governo brasileiro diante da decisão da Bolívia de nacionalizar seu setor petrolífero foi o principal resultado do encontro de Puerto Iguazú, nesta quinta-feira (4/5), que mobilizou os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; Bolívia, Evo Morales; Venezuela, Hugo Chávez; e Argentina, Néstor Kirchner. Durante uma entrevista coletiva, após um encontro de três horas na cidade argentina, Lula afirmou que "tudo o que foi falado antes desta reunião pouco vale", referindo-se às declarações da diretoria da Petrobras divulgadas ontem.

Nesta quarta-feira (3/5), o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou que a estatal suspenderia todos os investimentos programados para a Bolívia. Na prática, a petrolífera pretende sair da licitação aberta no início deste ano para ampliar em 15 milhões de metros cúbicos diários a capacidade de suprimento de gás natural do gasoduto Brasil-Bolívia. Gabrielli também afirmou que a estatal não aceitará nenhum reajuste de preços dos combustíveis e que, se o governo boliviano insistisse nessa medida, a companhia recorreria a um tribunal de arbitragem dos Estados Unidos.

Antes do encontro de Puerto Iguazú, Morales classificou de "chantagem" a atitude da Petrobras. "Podem fazer chantagem, mas não é possível que [os brasileiros], com nossos recursos, tenham uma grande empresa [a Petrobras] e deixem mal a economia do nosso país", afirmou Morales, em texto publicado hoje na Agência Boliviana de Informação (ABI), órgão de comunicação oficial do país.

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Após o encontro com seus colegas sul-americanos, Lula desautorizou boa parte das declarações de Gabrielli. Lula mostrou-se disposto a negociar o preço do gás boliviano, que hoje é vendido por cerca de 3 dólares por milhão de BTU (unidade de medida térmica britânica), valor bem menor do que em outros países, como os Estados Unidos, onde o combustível é comercializado por até 12 dólares. Segundo Lula, o valor do gás será discutido "da forma mais democrática possível entre as partes envolvidas".

Declarações pouco válidas

Além disso, o presidente brasileiro foi ambígüo quanto às possibilidades de novos investimentos na Bolívia, em contraste com a firmeza de Gabrielli ontem. Questionado se o Brasil desenvolveria novos projetos na Bolívia, mesmo após o anúncio da nacionalização do setor petrolífero, Lula afirmou que as declarações anteriores de membros do governo brasileiro eram pouco válidas ante os resultados do encontro presidencial de hoje. Depois, em outro momento da entrevista, Lula afirmou que a "Petrobras é uma empresa com autonomia para decidir e vai investir onde tiver retorno econômico, seja na Bolívia, seja em outros países".

Para justificar sua posição, Lula apelou para a necessidade de manter os países sul-americanos unidos. "Reconhecemos o direito da Bolívia sobre suas riquezas e os problemas encontrados por Evo Morales desde o primeiro dia", disse o presidente brasileiro. "Temos que passar uma noção de unidade da América do Sul. Os quatro presidentes que estão aqui não fariam nenhum gesto para dificultar essa integração", afirmou.

Para Lula, o "mais importante" é que o encontro assegurou o abastecimento de gás natural boliviano para o Brasil. O país consome cerca de 30 milhões de metros cúbicos diários do gás por meio do gasoduto Brasil-Bolívia. Diversos setores industriais, como a indústria cerâmica, cimenteira e de vidros, são bastante dependentes desse combustível. "As pendências serão discutidas bilateralmente", disse Lula.

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