Economia

Início do próximo governo será difícil para oposição e situação, avalia BBV

deve ser encarada com cautela. O argumento deles é simples e correto: déficit reduzido diminui pressão sobre o câmbio, resultando em menor inflação, menor taxa de juros e maior crescimento econômico. A partir deste raciocínio, defendem políticas de incentivos à exportação e de substituição de importações. O problema é os efeitos de tais medidas virão […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.

deve ser encarada com cautela. O argumento deles é simples e correto: déficit reduzido diminui pressão sobre o câmbio, resultando em menor inflação, menor taxa de juros e maior crescimento econômico. A partir deste raciocínio, defendem políticas de incentivos à exportação e de substituição de importações. O problema é os efeitos de tais medidas virão em médio e longo prazo. Além disso, deixar de captar capital externo significa reduzir os investimentos internos, já que déficit externo nada mais é do que usar a poupança externa para financiar investimentos que a poupança doméstica não consegue. Se o país pára de usar esse dinheiro de fora, param os investimentos e o crescimento. A solução que parece lógica, é o aumento da poupança doméstica. É lógica, sim, mas de difícil execução. Para o governo gastar menos, as reformas da previdência e tributária têm de acontecer. Ou isso, ou se reduz o consumo privado -- uma medida de alto risco político.

  • De qualquer forma, não há como escapar: o próximo presidente terá de conseguir apoio do Congresso para fazer as reformas -- o que tomará tempo e, por isso, não pode ser levado em consideração para avaliação do governo em 2003.

    Cenários possíveis

    Os cenários projetados para 2003 foram divididos entre situação e oposição. O de oposição tem três subdivisões: surpreendente, embaçado e desorganizado.

    Situação - Neste cenário, cujo banco atribui 30% de probabilidade de acontecer, os mercados se acalmam após as eleições e o risco-país recua para cerca de 900 pontos no final do ano. É possível considerar uma leve alta nos preços dos ativos brasileiros negociados no exterior. Se o panorama externo ajudar, o risco poderia até chegar a 800 pontos e a taxa de câmbio poderia ficar ao redor de 2,8 reais no final de 2002.

    Apesar da credibilidade monetária e fiscal continuarem preservadas, o imperativo do ajuste externo impedia um crescimento robusto do PIB em 2003. Ficaria ao redor de 3%. O déficit em conta corrente se reduziria para perto de 15 bilhões de dólares e os fluxos de investimentos ficariam mais ou menos no mesmo patamar. A inflação neste cenário seria próxima a 5,5%. Principais colaboradores da área econômica do atual governo seriam mantidos.

    Oposição Surpreendente - A principal diferença entre este cenário e o da situação é o prêmio exigido pelo mercado, que não concederia imediatamente o benefício da dúvida a um presidente com discurso que só se tornou menos radical com o recente agravamento da crise. Isso condicionaria um risco-país em cerca de 1 200 pontos no início do governo, e uma taxa de câmbio ao redor de 3 reais. Essa probabilidade tem 30% de chance de acontecer.

    Outra diferença: o governo teria que dar sinais claros do andamento das reformas estruturais logo em 2003. Essa seria um dos muitos sinais tranqüilizadores que o novo presidente teria que passar para o mercado.

    Oposição embaçada - É o que se pode chamar coloquialmente de embaço político, também com 30% de chance de acontecer efetivamente. Ou seja, muita discussão, muita pressão social, baixa capacidade de lidar com crises, incertezas com relação ao apoio político no Congresso e pouca ação competente na direção das reformas.

    Esse governo se iniciaria com risco-país ao redor de 1 500 pontos e uma taxa de câmbio próxima a 3,2 reais. Sem perspectiva de cumprimento das metas de desempenho, o mercado não concederia o benefício da dúvida.

    Oposição desorganizada - Assim como no cenário de oposição embaçada, os candidatos de oposição neste caso, que tem 10% de chance de se concretizar, não se comprometeriam com os pilares de sustentação econômica e com o pagamento da dívida pública. A fragilidade do regime de metas manteria a taxa de câmbio se depreciando continuamente e ameaçando a existência do regime flutuante. O medo quanto ao descontrole do câmbio e da inflação levaria a medidas como o controle e centralização cambial e, eventualmente, a mecanismos para evitar a fuga de recursos evitar a fuga de recursos do sistema financeiro. Aqui, o risco-país bate os 4 000 pontos e a taxa de câmbio os 4 reais.

    Fora de casa

    Além das incertezas políticas, o cenário externo foi levado em consideração na análise do banco. As incertezas em relação à economia mundial, especialmente à americana, estão demorando a desaparecer e, dada a influência dos ciclos de liquidez mundial sobre a economia brasileira, o panorama internacional tem papel decisivo no traçado de projeções para o país.

    Os analistas do BBV montaram três cenários externos para 2003. Acreditam que o mais provável seja o seguinte: lenta retomada do crescimento mundial impulsionada por alguma recuperação da confiança do consumidor --o que levaria a um aumento da produção. Neste cenário, que deve ser mais efetivo no segundo semestre de 2003, as questões de governança corporativa serão lentamente resolvidas e o fluxo de financiamento para países emergentes retomados. Entretanto, nada de abundâncias: mesmo com uma tendência positiva, a seletividade de capitais continuará existindo e pressionando a taxa de câmbio e limitando as linhas de financiamento de comércio. A crise de confiança no balanço das corporações, que tornou mais seletivo o crédito, impede a volta definitiva da liquidez externa.

    Uma segunda hipótese para o cenário externo é a retomada do crescimento muito mais lenta do que o esperado. Seria mantida a tensão quanto à saúde financeira das corporações e a crise das bolsas afetaria a renda dos americanos, a confiança dos consumidores e o consumo. Aqui, os fluxos de capital para países emergentes se manteriam ainda mais reduzidos e só teriam acesso a eles os de políticas econômicas sólidas e consistentes.

    É remota a probabilidade de que aconteça este terceiro cenário: o de credit crunch. A credibilidade das empresas globais não seria recuperada, o que levaria a uma profunda crise financeira, com baixo consumo, baixa produção e baixa oferta de crédito. Os efeitos para países como o Brasil seriam graves e a única saída seria uma forte redução de seu déficit externo.

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