Indústria vira "surpresa positiva" e fecha o ano com 8ª alta seguida
Apesar da sequência de ganhos e de resultado melhor que o esperado, a indústria terminou 2020 com recuo na produção de 4,5%, segundo dados do IBGE
Reuters
Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 10h31.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2021 às 23h01.
A produção da indústria brasileira teve resultado melhor do que o esperado em dezembro e registrou o oitavo aumento seguido, subindo 0,9% no último mês do ano na comparação com o mês anterior. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ). Na comparação anual com dezembro de 2019, a alta foi de 8,2%.
Apesar das altas desde o pico da pandemia, a indústria encerrou 2020 com a maior queda em quatro anos diante das consequências do coronavírus, pressionada principalmente pelo segmento de automóveis.
Mas ambos os resultados de dezembro, anual e mensal, ficaram acima das expectativas, com o consenso do mercado prevendo queda de 0,4% no mês. O resultado foi classificado como uma "surpresa muito positiva" no fim de ano, escreve o analista Arthur Mota, da Exame Research ( leia o relatório completo ).
"Com o resultado, chegamos a uma sequência de oito meses com taxas positivas, algo que o setor não apresentava desde 2009 -- outro momento de recuperação da crise global", diz Mota, que aponta que a recuperação também tem sido mais rápida na indústria do que nas crises de 2014 e 2016.
O terceiro trimestre termina ainda com ganho de 5,1% sobre os três meses anteriores. Os oito meses de ganhos chegam também ao acumulado de 41,8% -- o que elimina a perda de 27,1% registrada entre março e abril, ápice do isolamento social.
Assim, a indústria voltou aos patamares pré-pandemia, estando 3,4% acima dos níveis de fevereiro.
O crescimento não foi o suficiente para evitar um recuo anual na produção, que caiu 4,5% em 2020 ante 2019. É o segundo ano seguido de perdas após o setor já ter registrado contração de 1,1% em 2019.
"A indústria vem positiva com perfil disseminado, mas tem espaço muito importante a recuperar. Isso não é só pandemia, é algo que vem há alguns anos", afirmou o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo.
Veículos são destaque negativo
Os dados do IBGE mostraram que em 2020 a maior pressão negativa foi exercida por veículos automotores, reboques e carrocerias, com contração de 28,1% contra o acumulado de 2019, pressionada principalmente, pelos itens automóveis, caminhão-trator para reboques e semirreboques, caminhões e autopeças.
Na comparação de 2020 com o ano anterior, todas as grandes categorias tiveram queda, com destaque para bens de consumo duráveis (-19,8%) e bens de capital (-9,8%).
"Ambas têm a dinâmica de produção muito associada à indústria de automotores. No caso da primeira, com influência dos automóveis, como os carros, e no caso da segunda, os equipamentos de transporte, como caminhões", explicou Macedo, do IBGE.
Em dezembro, três das quatro grandes categorias econômicas e 17 de 26 ramos pesquisados tiveram ganhos, o que para Macedo mostra regularidade de crescimento na produção industrial nos últimos meses.
A principal influência segue sendo a de veículos automotores, reboques e carrocerias, com ganho de 6,5% no mês e acumulando expansão de 1.308,1% na produção nos últimos oito meses. Na outra ponta, a produção de produtos alimentícios apresentou queda de 4,4% em dezembro sobre novembro.
Já entre as categorias econômicas, bens de capital e bens de consumo duráveis cresceram 2,4% no mês.
Desemprego e auxílio emergencial
Depois das perdas vistas em março e abril, a indústria passou a se beneficiar de estoques muitos baixos aliados à mudança da demanda de serviços para bens.
Mas a recuperação da indústria, embora tenha encontrado base nas medidas de auxílio do governo e na flexibilização do isolamento, ainda depende da uma retomada do mercado de trabalho, que vem mostrando mais dificuldades. O fim do pagamento do auxílio emergencial em dezembro também preocupa.
"Os programa de transferência de renda, manutenção de emprego e crédito estão por trás dessa recuperação e alcançaram uma contingente importante da população e ajudaram no movimento (da indústria)", disse Macedo. "Agora há fatores que inibirão, como se o auxílio vai continuar ou não. O mercado de trabalho vai ser determinante para sustentar a indústria e a economia como um todo."
A mais recente pesquisa Focus do Banco Central mostra que os economistas esperam ganho de 5,02% da produção da indústria em 2021, com um aumento de 2,40% em 2022.
"Olhando para frente, a maior incerteza segue concentrada na retirada dos estímulos que têm contribuído positivamente para a indústria. Alguns indicadores já mostram que a manufatura pode perder algum fôlego nos próximos meses", disse em nota a economista da XP Lisandra Barbero, calculando crescimento de 3,5% da produção industrial em 2021.