Indústria brasileira apresenta plano para abraçar as novas tecnologias
“A revolução não está ali na esquina. Temos tempo para nos preparar, mas o tempo é curto”, diz coordenador do Indústria 2027, apresentado hoje em São Paulo
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de maio de 2018 às 12h07.
Última atualização em 18 de maio de 2018 às 12h25.
São Paulo - “Chega de visão de curto prazo. Temos que ter visão de longo prazo”, diz Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e professor da Unicamp.
Ele participou nesta sexta-feira (18) do EXAME Fórum Inovação, realizado por EXAME e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o tema A Indústria do Futuro.
O evento serviu para apresentação do Projeto Indústria 2027, coordenado por Coutinho e por João Carlos Ferraz, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O projeto tem 2.200 páginas e estará disponível online na semana que vem. Seu objetivo é entender as inovações disruptivas, seus riscos e oportunidades, e dar subsídios para politicas públicas.
Pedro Wongtschowski, vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultra e líder da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), classificou a iniciativa como “inédita e crucial”.
O esforço é espelhado em várias iniciativas internacionais ambiciosas, em países como Estados Unidos e Japão, de recursos maciços para adaptação ao novo cenário tecnológico da Quarta Revolução Industrial.
"Não podemos cair na armadilha de reinventar a roda", disse Coutinho. "Temos que partir dos nossos legados, forças e fraquezas", completa, destacando o valor de "construir uma visão nacional comum".
Uma referência importante é o Made in China 2025, anunciado em 2015 com o objetivo de sofisticar o perfil da manufatura econômica chinesa, agregando mais valor tecnológico e criando marcas globais.
Também foi citada a Alemanha, onde o plano destaca a importância de que pesquisa e desenvolvimento aconteçam também nas pequenas e médias empresas.
Nem todo mundo vai se adaptar ao mesmo ritmo e intensidade e qualquer plano deve contemplar essa realidade.
"Nós não temos a indústria somente na ponta e essas tecnologias não devem servir só para as indústrias que estão mais avançadas", diz Ferraz. Mas afinal, que tecnologias são essas?
Alguns exemplos: inteligência artificial, internet das coisas, nanotecnologias, biotecnologias, tecnologias genômicas, novos materiais e armazenamento de energia.
Duas características unem todas elas: custos em queda e mercados em expansão. A aplicação prática, no entanto, ainda é gradual:
“A revolução não está ali na esquina. Temos tempo para nos preparar, mas o tempo é curto”, diz Ferraz. Essa preparação, segundo o projeto, envolve várias frentes.
Coutinho destacou a necessidade de "evoluir de centros de formação para centros de aprendizado", incluir as tecnologias digitais em todos os níveis de governo e de atualizar uma série de marcos legais para dar segurança jurídica.
Também é necessário um ambiente econômico mais estável e animador do que o atual, ponto também martelado por Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e atual ministro de Ciência e Tecnologia.
"É óbvio que se você tem um contexto macroeconômico favorável estes processos são muito mais fáceis”, diz Coutinho.
Ele destacou também a necessidade de garantir e dar previsibilidade aos recursos federais para o setor, lamentando que o orçamento federal para Ciência e Tecnologia seja hoje menos da metade do de 2013.