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IBGE retrata 100 anos de mudanças no país

Não há comparação possível entre o Brasil de hoje e o de 100 anos atrás. Eis a principal conclusão que se extrai de um levantamento estatístico de 543 páginas sobre o último século publicado nesta segunda-feira (29/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De 17 milhões em 1901, fomos para 170 milhões de […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h45.

Não há comparação possível entre o Brasil de hoje e o de 100 anos atrás. Eis a principal conclusão que se extrai de um levantamento estatístico de 543 páginas sobre o último século publicado nesta segunda-feira (29/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De 17 milhões em 1901, fomos para 170 milhões de habitantes em 2000. O Produto Interno Bruto (PIB) foi multiplicado por 110, e o PIB per capita, por 12 - em números atuais, o PIB per capita do brasileiro cresceu de 497 reais em 1900 para 6433 reais em 2000. Mas são as mudanças qualitativas que mais impressionam: a expectativa de vida, por exemplo, subiu de cerca de 34 anos em 1910 para quase 69 anos em 2000.

Na área econômica, há dois períodos distintos: antes e depois dos anos 80. Comparadas aos 80 anos anteriores, as duas últimas décadas foram mesmo perdidas. Acompanhe, por exemplo, a história da inflação ao longo dos anos. Nos anos 30, a taxa anual média era de 6%. Nos anos 40, de 12%. Nos anos 50, de 19%. Nas décadas de 60 e 70, de 40%. Os índices cresceram então para 330% nos anos 80 e para 764%, entre 1990 e 1995. De 1995 a 2000, a inflação voltou a cair para uma média de 8,6%. Os números da produção per capita da economia apresentam trajetória semelhante. De 1920 a 1980, o PIB per capita dobrava a cada 20 anos. De 1980 a 2000, a estagnação fez com que o crescimento ao longo das duas décadas não ultrapassasse os 10%. Só na crise de 1981-84, houve queda de 12% na produção per capita.

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As taxas de poupança interna, de investimento e de despesas do governo também registram o mesmo comportamento. O investimento foi de níveis abaixo de 10% do PIB, no início dos anos 30, para 25% no final dos anos 70. A poupança cresceu dos anos 30 até o final dos anos 80, quando chegou a 27%. Desde então, caiu para 14% em 1999, e o investimento, para uma média de 19% na década de 90. Paralelamente, as despesas do governo federal, estados e municípios cresceram de 10% do PIB em 1900 para 36% do PIB em 1999, à custa de várias reformas tributárias.

O século também registrou uma mudança qualitativa no perfil da economia brasileira. Em 1907 havia no país apenas 3 258 indústrias, que empregavam 152 mil operários, 30% no setor têxtil. De 12% do PIB, a indústria passou a 34% na década de 70, enquanto a agricultura reduzia sua participação de 45% em 1900 para cerca de 10% a partir dos anos 80. Paralelamente, o setor terciário cresceu de 44% do PIB em 1900 para 61% nos anos 90. Nos anos recentes, um dos itens que tiveram maior impacto sobre a atividade econômica foi o aumento dos encargos trabalhistas diretos, que cresceram de 18,8% para 27,8% sobre a folha de pagamentos entre 1988 e 1993.

O perfil populacional também mudou. A taxa de crescimento médio da população, que era de 2,91% ao ano nas duas primeiras décadas do século XX, caiu para 1,49% nas duas décadas seguintes, depois voltou a crescer e atingiu o auge de 2,99% entre 1950 e 1960. Na década de 90, a taxa caiu para 1,63%, e o IBGE projeta que, até 2020, ela chegue a 0,71% ao ano. Cerca de 19% do crescimento populacional brasileiro entre 1840 e 1940 se deveram à imigração, um índice inferior ao de outros países, como Argentina (58%), Estados Unidos (44%) ou Canadá (22%).

O grande responsável pelas quedas e aumentos na taxa de crescimento populacional, porém, foram as condições de saúde pública. No Rio de Janeiro, por exemplo, morreram 26.826 pessoas em 1908. Dessas, 9.046 foram vítimas da varíola, e 3.616, da tuberculose. Houve apenas 661 mortes violentas na então capital federal, ou 2,46% do total, incluindo suicídios e acidentes. De modo geral, doenças infecciosas e parasitárias eram responsáveis por 30,9% das mortes no Rio nas décadas de 30 e 40, seguidas por doenças do aparelho digestivo (16,45%) e do aparelho circulatório (14,52%). As mortes violentas, na época, causavam apenas 4,34% dos óbitos.

Nos anos 60, a situação já era bem diferente. Em 1962, houve 34.145 mortes no Rio. Dessas, 12% apenas foram resultado de doenças infecciosas ou parasitárias; 19%, de circulatórias; 11%, de câncer; 10%, do sistema nervoso. As mortes violentas já eram então 8% do total. De acordo com números recentes do ministério da Saúde, em 1999 as maiores causas de morte no Rio foram as doenças circulatórias (33,2%), seguidas pelo câncer (17,1%). A violência tornou-se a terceira causa mais importante, respondendo por 12,9% do total. Doenças infecciosas e parasitárias causaram apenas 5,9% dos óbitos cariocas em 1999.

As cidades transformaram-se completamente ao longo do século. Apenas 41% dos municípios brasileiros tinham iluminação pública em 1936. Em 2000, a luz elétrica já chegava a 93% dos domicílios. Na área urbana, 90% das casas brasileiras tinham água encanada em 2000, contra 21% em 1966. Mas o esgoto, que atingia 50% dos lares em 1966 mal havia chegado a 56% em 2000. É fato que muita coisa melhorou, mas ainda há muito o que fazer.

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