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Hipótese de abandonar euro ganha força em Portugal

A discussão voltou à tona graças ao livro "Porque devemos sair do euro", que aparece nas listas dos mais vendidos nas últimas semanas

Manifestantes carregam bandeira de Portugal: na opinião do economista e autor do livro, as empresas lusas deixaram de ser capazes de lutar de igual pra igual com outros países (Milos Bicanski/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2013 às 13h01.

Lisboa - A ideia de abandonar o euro ganhou força em Portugal e entrou no debate público com base em razões, principalmente econômicas, que apontam a moeda única como origem de parte dos problemas que afligem o país.

A hipótese, formulada há anos, é agora objeto de discussão generalizada - em um contexto de forte crise e marcado pessimismo na sociedade lusa - graças ao economista João Ferreira do Amaral e seu livro "Porque devemos sair do euro", que aparece nas listas dos mais vendidos nas últimas semanas.

A opção de retornar ao escudo, defendida historicamente pelo Partido Comunista luso - quarta força no Parlamento - e com a simpatia dos setores mais populares, encontrou eco em debates e artigos de opinião, palcos de uma discussão pública de cunho intelectual. Pelo menos, por enquanto.

Doutor em Economia, professor universitário e antigo diretor do Ministério das Finanças, Ferreira do Amaral argumenta que a severa crise que Portugal atravessa é consequência de sua entrada no euro e não do aumento da dívida pública ou da pressão posterior dos mercados.

Sua tese se baseia em que o país não está preparado para ter uma moeda tão forte e em que a impossibilidade de ajustar sua política monetária (reduzindo a taxa de câmbio ou emitindo mais dinheiro, por exemplo) afetou sua competitividade, impedindo de aumentar suas exportações e reequilibrar sua deficitária balança comercial.

Na opinião do economista, as empresas lusas deixaram de ser capazes de lutar de igual pra igual com outros países e se viram dedicadas a setores protegidos da concorrência exterior, como o negócio imobiliário ou de serviços, um erro reconhecido inclusive pelo atual governo conservador.


A teoria de abandonar a moeda comum encontrou em Portugal um terreno fértil para sua rápida propagação, já que o país não vislumbra ainda o fim de uma crise que lhe levou a acumular três anos de recessão consecutivos e a alcançar níveis recorde de desemprego.

Resgatado desde 2011, as draconianas medidas de austeridade estipuladas com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de ajuda agravaram a situação de uma parte majoritária da população, que viu como eram cortados os serviços sociais e aumentados os impostos, sem que por enquanto se perceba uma melhora em seu dia a dia.

"O euro foi criado para ser uma moeda forte e seria um milagre que fosse útil para todos os membros comunitários. Se fosse tão fácil, todos os países do mundo quereriam uma moeda forte e não é assim, já que depende da competitividade e a estrutura de cada um", insistiu Ferreira do Amaral em uma conferência sobre seu livro.

Suas aparições públicas são frequentes e na semana passada participou de um ato organizado pelo ex-presidente - e ainda "peso pesado" do socialismo luso - Mário Soares.

A discussão sobre um hipotético retorno ao escudo reuniu cerca de cem pessoas em uma sala que ficou pequena diante de tanta expectativa.

Como Ferreira do Amaral, o jovem deputado socialista João Galamba, apesar da personalidade europeísta de seu partido - principal da oposição - também se mostrou muito próximo de suas ideias.

"Concordo com quase toda sua exposição, mas não defendo sair do euro. O problema não é a moeda comum em si, mas a transformação da construção de uma união europeia no projeto neoliberal mais radical do mundo", considerou.

Galamba se mostrou pessimista sobre as opções de Portugal no seio de uma UE como está desenhada hoje e vê sua saída do euro dificilmente evitável: "Não acho que haverá mudança de políticas que precisamos. Se saímos do euro, não devemos fazê-lo sozinhos, pelo menos que seja com Espanha, Grécia, Itália..."

Embora o governo se mantenha afastado do debate, juristas, economistas e analistas respaldaram nas últimas semanas a saída, mas discordam se isso representaria inevitavelmente abandonar o projeto comunitário ou, pelo contrário, poderia ser mantido apesar de ter outra moeda, como faz, por exemplo, o Reino Unido.

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Lisboa - A ideia de abandonar o euro ganhou força em Portugal e entrou no debate público com base em razões, principalmente econômicas, que apontam a moeda única como origem de parte dos problemas que afligem o país.

A hipótese, formulada há anos, é agora objeto de discussão generalizada - em um contexto de forte crise e marcado pessimismo na sociedade lusa - graças ao economista João Ferreira do Amaral e seu livro "Porque devemos sair do euro", que aparece nas listas dos mais vendidos nas últimas semanas.

A opção de retornar ao escudo, defendida historicamente pelo Partido Comunista luso - quarta força no Parlamento - e com a simpatia dos setores mais populares, encontrou eco em debates e artigos de opinião, palcos de uma discussão pública de cunho intelectual. Pelo menos, por enquanto.

Doutor em Economia, professor universitário e antigo diretor do Ministério das Finanças, Ferreira do Amaral argumenta que a severa crise que Portugal atravessa é consequência de sua entrada no euro e não do aumento da dívida pública ou da pressão posterior dos mercados.

Sua tese se baseia em que o país não está preparado para ter uma moeda tão forte e em que a impossibilidade de ajustar sua política monetária (reduzindo a taxa de câmbio ou emitindo mais dinheiro, por exemplo) afetou sua competitividade, impedindo de aumentar suas exportações e reequilibrar sua deficitária balança comercial.

Na opinião do economista, as empresas lusas deixaram de ser capazes de lutar de igual pra igual com outros países e se viram dedicadas a setores protegidos da concorrência exterior, como o negócio imobiliário ou de serviços, um erro reconhecido inclusive pelo atual governo conservador.


A teoria de abandonar a moeda comum encontrou em Portugal um terreno fértil para sua rápida propagação, já que o país não vislumbra ainda o fim de uma crise que lhe levou a acumular três anos de recessão consecutivos e a alcançar níveis recorde de desemprego.

Resgatado desde 2011, as draconianas medidas de austeridade estipuladas com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de ajuda agravaram a situação de uma parte majoritária da população, que viu como eram cortados os serviços sociais e aumentados os impostos, sem que por enquanto se perceba uma melhora em seu dia a dia.

"O euro foi criado para ser uma moeda forte e seria um milagre que fosse útil para todos os membros comunitários. Se fosse tão fácil, todos os países do mundo quereriam uma moeda forte e não é assim, já que depende da competitividade e a estrutura de cada um", insistiu Ferreira do Amaral em uma conferência sobre seu livro.

Suas aparições públicas são frequentes e na semana passada participou de um ato organizado pelo ex-presidente - e ainda "peso pesado" do socialismo luso - Mário Soares.

A discussão sobre um hipotético retorno ao escudo reuniu cerca de cem pessoas em uma sala que ficou pequena diante de tanta expectativa.

Como Ferreira do Amaral, o jovem deputado socialista João Galamba, apesar da personalidade europeísta de seu partido - principal da oposição - também se mostrou muito próximo de suas ideias.

"Concordo com quase toda sua exposição, mas não defendo sair do euro. O problema não é a moeda comum em si, mas a transformação da construção de uma união europeia no projeto neoliberal mais radical do mundo", considerou.

Galamba se mostrou pessimista sobre as opções de Portugal no seio de uma UE como está desenhada hoje e vê sua saída do euro dificilmente evitável: "Não acho que haverá mudança de políticas que precisamos. Se saímos do euro, não devemos fazê-lo sozinhos, pelo menos que seja com Espanha, Grécia, Itália..."

Embora o governo se mantenha afastado do debate, juristas, economistas e analistas respaldaram nas últimas semanas a saída, mas discordam se isso representaria inevitavelmente abandonar o projeto comunitário ou, pelo contrário, poderia ser mantido apesar de ter outra moeda, como faz, por exemplo, o Reino Unido.

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