Haddad diz que racha no Copom tinha mais rumor do que verdade: ‘Está tudo tranquilo lá’
Ministro da Fazenda afirma que que ata deixou claro que os argumentos dos dois lados eram pertinentes
Agência de notícias
Publicado em 14 de maio de 2024 às 12h25.
Na semana passada, o Copom reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, de 10,75% para 10,50% ao ano, conforme a expectativa majoritária, mas surpreendeu com a divisão na votação, por 5 votos a 4, entre os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aqueles que já estavam na instituição na gestão Jair Bolsonaro. Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira queriam um corte mais forte, de 0,50 ponto porcentual, como havia sido indicado na reunião anterior, em março.
"(A tensão do mercado) se dissipou com a ata, tinha mais rumor do que verdade. Está tudo tranquilo lá (no BC). A ata fala por si mesmo, foi bem técnica e justifica os dois posicionamentos com muita clareza. Todo mundo que leu entendeu que as questões estão bem colocadas", disse, em conversa rápida com jornalistas em frente ao Ministério da Fazenda.
Dada a divisão entre os diretores, o mercado financeiro ficou com a impressão que a divergência poderia ser política ou mesmo de pensamento econômico, considerando que o Copom unanimemente avaliou que o cenário para a inflação estava mais desfavorável. Seria como se os diretores de Lula recomendassem uma “dose menor do remédio” para combater a “doença” - ou seja, um juro menor para o controle da inflação.
Na avaliação de parte do mercado financeiro, essa divisão poderia indicar que o comitê pode ser mais leniente com o controle da inflação no próximo ano, quando os indicados de Lula serão maioria.
Isso porque o presidente, desde o começo do seu terceiro mandato, tem feito críticas diretas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e ao patamar dos juros, que considera elevado. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro, assim como os de Carolina Barros e Otávio Damaso. O mais cotado para assumir a liderança do BC é Gabriel Galípolo.
A ata mostrou que os membros dissidentes debateram sobre "o custo de oportunidade de não seguir o guidance (sinalização) vis-à-vis a mudança de cenário no período". Em março, o comitê havia indicado que reduziria a Selic em 0,50 ponto porcentual este mês. Mas, em meados de abril, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou, em evento em Washington (EUA), que o aumento da nebulosidade no cenário poderia levar à redução do ritmo.
A declaração foi dada em um momento de pânico do mercado financeiro, que repercutia a perspectiva de juros mais elevados nos Estados Unidos e a mudança da meta fiscal no Brasil, que foi de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para zero.
"Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê", explicou a ata.
Haddad disse que já esperava que a ata mostrasse que a divergência se dava em posições técnicas “respeitáveis” e “defensáveis”. Questionado se avalia que o BC deveria seguir o centro da meta de inflação ou a margem de tolerância, o ministro afirmou que a banda existe “para casos excepcionais”. Atualmente, a meta é de 3,0% com banda de 1,5 pp para cima e para baixo.