Economia

Governo argentino chega a acordo com FMI e desiste de calote

O governo da Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram a um acordo, desmentindo as previsões de um calote argentino na parcela de 3,1 bilhões de dólares da dívida que vence nesta terça-feira (9/3). Segundo jornais argentinos, o teor do acordo será divulgado amanhã em comunicado conjunto do fundo com o governo argentino. O […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.

O governo da Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram a um acordo, desmentindo as previsões de um calote argentino na parcela de 3,1 bilhões de dólares da dívida que vence nesta terça-feira (9/3). Segundo jornais argentinos, o teor do acordo será divulgado amanhã em comunicado conjunto do fundo com o governo argentino.

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, e a diretora-gerente interina do fundo, Anne Krueger, decidiram em uma conversa telefônica de meia hora que a Argentina cumpriria o pagamento da parcela dentro do prazo. Felizmente, houve um acordo e tudo se antecipou , diz Paulo Leme, diretor de pesquisa para mercados emergentes do banco Goldman Sachs, em Nova York. A Argentina entendeu que, no longo prazo, quem perderia seria ela própria, ao afugentar o capital e comprometer ainda mais o crescimento de sua economia.

Até a manhã de hoje, o calote argentino era dado como certo. Isso porque Kirchner havia condicionado o pagamento de hoje à aceitação por parte do FMI das condições argentinas para reestruturar sua dívida. O fundo não dava sinais de que daria trégua e havia feito as seguintes exigências: 1) a aprovação definitiva por parte da Argentina do grupo de bancos que negociarão a dívida externa, que não poderão ser retirados do processo; 2) que o acordo com os credores se firme em setembro (quando o país deve definir com o FMI as metas fiscais para 2005); 3) que a Argentina aceite o Comitê Global de Credores, como também o estabelecimento de que a proposta de pagamento seja aceita por 80% dos credores.

A própria situação do FMI como instituição financeira de último recurso havia sido posta em xeque pelo comportamento argentino. Dos créditos do fundo, 15,8% são de dívida argentina, 28,2% de dívida brasileira e 23,8% de dívida turca. Se aceitasse mais uma moratória da Casa Rosada, com que moral o fundo poderia exigir o cumprimento das austeras metas de superávit fiscal impostas aos demais países?

Agora, é provável que haja forte pressão por parte do mercado internacional para que a meta argentina de superávit fiscal (3%) chegue mais perto da brasileira (4,25%) ou da turca (6%). Ainda mais porque a economia do país tem dado sinais de recuperação. A meta fiscal vem sendo cumprida e houve, no ano passado, 8% de crescimento econômico para uma inflação de 2,6%. Mas esses números aparentemente positivos não passam de uma ilusão estatística , diz Leme. Ele compara a economia argentina a um prédio de 30 andares e outros dez no subsolo: O elevador, depois de descer 10 andares no subsolo, voltou a subir, mas ainda está abaixo do térreo. Não tem outra saída. O melhor caminho é o da responsabilidade financeira, que felizmente foi retomada.

Para garantir que o comportamento responsável seja preservado, os países do G-7 têm pedido que o FMI seja mais rigoroso com a Argentina. Desde o calote de dezembro de 2001 nos credores privados, o grupo tem tentado negociar a reestruturação da dívida soberana argentina, no valor de 88 bilhões de dólares. Só que, como os Estados Unidos são credores de apenas 9% dessa dívida, o governo Bush não tem feito tanta pressão sobre o fundo para que seja duro com os argentinos (só a Itália é credora de 15% da dívida argentina). Não à toa, o subsecretário do Tesouro americano, John Taylor, tem trabalhado para diminuir as ordens do FMI e amainar as diferenças com a Casa Rosada.

O Brasil não é mais contaminado pela ameaça argentina. O país já consolidou a imagem de um país que controla o déficit fiscal e trilha um caminho sólido, diz o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros: O Brasil não precisa mais convencer ninguém de que se diferencia da Argentina . O esforço fiscal dos últimos 21 trimestres consecutivos permitiu que a relação dívida/PIB brasileira caísse de 58,2% em 2003 para 54,6% nas estimativas para 2005.

O embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, também mantinha nesta terça-feira pela manhã a confiança na capacidade de a economia brasileira passar incólume por mais essa tormenta criada no país vizinho. Citando o humor dos meios financeiros nos Estados Unidos, Barbosa reafirmou que o Brasil conseguira, efetivamente, se descolar dos argentinos. Estamos bem aqui fora , disse Barbosa. Desde o início do ano, o Brasil conseguiu captar 14 bilhões de dólares nos mercados internacionais.

 

Para Barbosa, é irreal imaginar que o Brasil pudesse extrair alguma vantagem em decorrência da posição de endurecimento de Néstor Kirchner: Temos de fazer o que foi acordado com o fundo. Se o nosso vizinho resolveu seguir o caminho contrário, o problema é dele . De acordo com o embaixador, não é hora de fazer marola. Faltam oito meses para vencer o acordo do Brasil com o FMI e a intenção ou esperança do governo brasileiro é não precisar renová-lo.

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