Exame Logo

Geografia complicada

São Paulo ocupa há décadas o papel de locomotiva do Brasil. Mas a um preço alto para a grande maioria dos que vivem em seu território. A cidade não soube harmonizar o crescimento econômico com a ocupação do solo e propiciar qualidade de vida aos cidadãos. Mesmo com a redução do seu ritmo de crescimento […]

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.

São Paulo ocupa há décadas o papel de locomotiva do Brasil. Mas a um preço alto para a grande maioria dos que vivem em seu território. A cidade não soube harmonizar o crescimento econômico com a ocupação do solo e propiciar qualidade de vida aos cidadãos.

Mesmo com a redução do seu ritmo de crescimento nos anos 90, São Paulo ganhou quase 1 milhão de pessoas, o equivalente à população de São Luís, capital do Maranhão. O que se observa é que essa expansão ocorre cada vez mais na periferia e nas regiões de menor infra-estrutura e renda.

Veja também

Só o extremo leste, que inclui os distritos de Guaianases e Cidade Tiradentes, abriga 2,7 milhões de pessoas, praticamente a população de Alagoas. Já as regiões centro, oeste e sudoeste (aquelas onde você não circula de carro uma vez por semana por causa do rodízio) vêm perdendo moradores. O motivo é a mudança no uso do solo: as áreas residenciais estão se verticalizando ou cedendo espaço para os setores de serviços e comércio.

A cidade mudou de perfil. Os empregos industriais diminuem em alta velocidade desde os anos 80. O setor de serviços, ao contrário, apresenta grande expansão, com dois eixos bem claros: os de alto valor agregado (ligados à informação e à tecnologia) e os voltados para atividades de segunda linha, como limpeza e segurança.

São Paulo vem perdendo espaço no cenário econômico dentro da região metropolitana. Na última década, o número de empresas formalmente estabelecidas cresceu em todas as cidades da região, menos na capital e no ABCD. Os empregos formais diminuíram nos anos 90, mas a construção de imóveis para atividades econômicas cresceu. Qual a lógica disso? Significa o seguinte: trabalha-se em São Paulo, mas os registros de empregos e o recolhimento de impostos são feitos nos municípios vizinhos, que oferecem alíquotas mais baixas de ISS. Barueri é o exemplo mais expressivo.

O fim da fase industrial da cidade, aliado à anacrônica lei de zoneamento em vigor, deixou mais do que seqüelas: asfixiou a maior parte de São Paulo e privou as pessoas. As regiões nos extremos da cidade (3/4 da área total) já concentram mais de 60% da população, mas apresentam a menor renda: o chefe de família ganha em média cinco salários mínimos. A região intermediária, onde vive 31% da população, tem o dobro da renda média: dez salários mínimos. Já a região central, que representa apenas 5% da área e 8% da população da capital, tem a expressiva renda média de 20 salários mínimos. População e renda estão em progressão geométrica, mas no sentido inverso. O grande desafio agora é encontrar uma solução para a cidade se desafogar, criar espaços para os cidadãos, oferecer oportunidades e empregos e reduzir a violência. Só assim o crescimento econômico será mantido e compartilhado por todos -- de tal forma que São Paulo se consolide como cidade global, sim, mas também justa.

Tadeu Masano, doutor em planejamento urbano pela FAU-USP, é professor na Fundação Getulio Vargas de São Paulo e presidente da consultoria Geografia de Mercado

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame