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Expectativas da indústria são as melhores dos últimos;anos

Empresas projetam aumento das demandas interna e externa e prevêem abrir mais vagas até setembro, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h16.

A indústria brasileira inicia o terceiro trimestre com as melhores expectativas dos últimos dez anos, em relação à retomada da demanda nos próximos meses, conforme a 152º Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa aborda o humor dos industriais para o período de julho a setembro. Das 945 empresas consultadas, 57% afirmam que a demanda global crescerá neste intervalo. "É o melhor percentual desde abril de 1991", afirma o economista Aloísio Campelo, que coordenou o trabalho.

Outro dado importante é o aumento da diferença entre otimistas e pessimistas. Apenas 9% da amostra espera que a demanda caia nos próximos meses. O saldo (percentual dos que apostam em aquecimento menos o dos que apostam em queda) foi de 48%, o melhor resultado desde julho de 1994. Na pesquisa anterior, que abordou o período de abril a junho deste ano, o saldo foi de 46%. "São resultados muito fortes, porque, neste tipo de pergunta, os empresários tendem a ser pessimistas", diz Campelo.

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Quando se decompõe o indicador, constata-se que as exportações não são a única esperança de negócios futuros. O mercado interno também dá mostras de que está se recompondo. A parcela de empresas que se programam para atender a um maior volume de encomendas do mercado doméstico, entre julho e setembro, corresponde a 60% das entrevistadas. Comparando-se apenas com os meses de julho, é o maior percentual desde 1986.

As expectativas em relação às exportações continuam otimistas, mas menos do que em abril, quando a FGV realizou a sondagem anterior. Naquele mês, 56% das indústrias apostavam em aumento da demanda externa nos três meses seguintes. Em julho, a taxa caiu para 45%. Ainda assim, Campelo destaca que o saldo das respostas (otimistas menos pessimistas) ficou em 33% em julho, bem acima da média de 20% vigente desde 1999, quando mudou o regime cambial. "É um saldo muito bom, porque as exportações já estão crescendo e as empresas afirmam que podem subir ainda mais", diz o economista.

Capacidade instalada

Diante da possibilidade de mais vendas, as empresas começam também a se preocupar com sua capacidade instalada, com o fornecimento de matérias-primas e insumos e com a contratação de mão-de-obra. Em julho, a indústria ocupava, em média, 84,2% de sua capacidade, contra 81,9% em abril. O incremento deveu-se, sobretudo, à expansão dos setores de bens de consumo (de 75,7%, em abril, para 80,4%), e bens de capital (de 79,1% para 81,9%). Já os setores de materiais de construção (80,8%, contra 81,9% em abril) e bens intermediários (86,9% contra 87,2%) apresentaram queda.

Campelo afirma que, apesar de elevado, o nível de ocupação das empresas não indica que a capacidade de produção do país será esgotada neste ano. Um dos motivos é que alguns setores mais críticos já sinalizam com novos investimentos. Segundo a pesquisa, as atividades com maior taxa de ocupação são celulose, papel e papelão (95%), borracha (93,2%), metalurgia (92,2%), perfumaria, sabões, detergentes, glicerinas e velas (91,7%), e indústria têxtil (90,3%). Em contrapartida, os produtos farmacêuticos e veterinários (62,2%) e os artigos de fumo (65,9%) são as duas áreas com menor uso de sua capacidade.

Aquelas empresas que decidiram realizar investimentos no curto prazo não encontram, em geral, grandes limitações para seus planos. Conforme a FGV, 55% dos entrevistados declararam que não vêem dificuldades de curto prazo para expandir sua produção; outros 17% afirmaram que a falta de demanda é o principal inibidor; e 10% apontaram a escassez de matérias-primas. Em julho do ano passado, essas taxas foram, respectivamente, 36%, 44% e 4%. Segundo Campelo, fatores estruturais, como o custo dos recursos financeiros, gargalos de infra-estrutura e a carga tributária foram citados, mas com pesos menores, porque expansões de curto prazo tendem a não sofrer forte influência desses itens.

Preços e empregos

O aquecimento do mercado não deverá pressionar fortemente os preços, segundo a pesquisa. Entre os participantes, 48% informam que não pretendem reajustar seus preços até setembro; 44% vão aumentá-los, e 8% vão reduzi-los. O saldo (porcentagem dos que aumentarão menos a dos que reduzirão os preços) é de 36%, mantendo o patamar desde o início do ano. "Pelos números, não se pode dizer que haverá aumento da inflação", afirma Campelo, lembrando que os economistas projetam, para 2004, um IPCA menor que o do ano passado.

Um bom sinal, conforme o economista, é que a pressão inflacionária concentra-se no segmento de bens intermediários (aço, produtos químicos etc), mas tende a ser absorvida pelo setor de bens de consumo. A sondagem revelou que 29% dos fabricantes de bens de capital pretendem aumentar seus preços até setembro. No segmento de bens intermediários, a taxa sobe para 57%. Já no setor de consumo, apenas 28% estão dispostos a elevar suas tabelas.

Tudo somado, as empresas precisarão de mais mão-de-obra: 35% das indústrias acreditam que irão contratar mais até setembro, contra 8% que estimam que cortarão postos de trabalho. O saldo de 27% (os que contratarão menos os que demitirão) é o maior desde julho de 1986, quando a taxa ficou em 32%.

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