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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.
O crescimento do mercado interno pode se tornar apenas uma bolha de consumo, se a retomada econômica não acelerar a criação de empregos e a recuperação da renda. O motivo é que cerca de dois terços das vendas domésticas baseiam-se na oferta de crédito, mas há limites para que esse mecanismo impulsione os negócios. O principal deles é o encolhimento da classe média, maior tomadora de crédito do país, conforme Claudio Felisoni, coordenador geral da Fundação Instituto de Administração (Fia).
"O mercado interno depende fortemente da classe média, porque é a que possui a renda mais elástica", diz Felisoni. Nas camadas mais baixas da população, o aumento de renda tem poder limitado para estimular a diversificação do consumo, já que precisa ser aplicado, sobretudo, no atendimento de necessidades básicas, como alimentação e transporte. Já nas classes mais altas, o excedente de renda vai para as aplicações financeiras.
O problema é que a classe média está menor, o que reflete o empobrecimento dos brasileiros, conforme Felisoni. Ele lembra que, segundo pesquisa do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp divulgada na semana passada, a participação dessa classe sobre o total de brasileiros caiu de 13,50%, em 1981, para 11,71% em 2002. Na outra ponta, a camada que mais cresceu foi a dos que ganham menos de 500 reais por mês. Seu peso passou de 30,48% para 35,93% dos brasileiros. "Os números indicam ameaças para a sustentação do crescimento do consumo", diz.
Expansão episódica
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas físicas do comércio cresceram 9,33% no primeiro semestre, sobre igual período de 2003. Já a empresa de análise de crédito Serasa aponta que a inadimplência dos consumidores continua em queda. Em julho, ela recuou mais 1,4% sobre o mesmo mês do ano passado. O volume de crédito correspondia a 26,1% do PIB em junho, equivalente a 442,4 bilhões de reais segundo o Banco Central. Na conta, estão empréstimos a pessoas físicas e jurídicas. Os números já levam economistas, industriais e varejistas a destacarem o mercado interno como pilar da expansão econômica dos próximos meses.
Há motivos para preocupações, então? Para Felisoni, há. "Sem mudanças estruturais, não há condições para a sustentação de longo prazo do consumo. O crescimento do mercado interno é episódico", afirma. Tais mudanças já são conhecidas reivindicações: desoneração do setor produtivo, capacidade de atrair investimentos, recuperação da renda e aceleração da criação de empregos. O economista Altamiro Carvalho, da Federação de Comércio do Estado de São Paulo, concorda. "A expansão do consumo por meio do crédito só se sustentará se o crescimento econômico gerar aumento de renda", diz Carvalho.