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EUA precisam de novos estímulos econômicos

''Nestes quatro anos pusemos curativos na ferida e tratamos alguns sintomas, mas continuamos errando no diagnóstico'', disse Robert Hockett

Para o especialista, as lições deixadas pela quebra do Lehman Brothers não foram assimiladas (Oli Scarff/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2012 às 20h39.

Nova York - Quatro anos após a queda do Lehman Brothers - o terremoto financeiro que inaugurou oficialmente a maior crise desde a Grande Depressão - seus efeitos ainda são sentidos nos EUA, um país que se viu obrigado a lançar uma nova rodada de estímulos para tentar aquecer sua economia nesta semana.

''Nestes quatro anos pusemos curativos na ferida e tratamos alguns sintomas, mas continuamos errando no diagnóstico e enquanto não formos capazes de reconhecer os problemas que nos levaram a esse ponto vamos seguir sofrendo os efeitos do Lehman'', advertiu nesta sexta-feira à Agência Efe o professor Robert Hockett, da Universidade de Cornell.

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O Federal Reserve (Fed) anunciou nesta semana uma terceira injeção de liquidez na economia através de um programa de compra de títulos hipotecários por US$ 40 bilhões por mês que, somados à chamada ''Operação Twist'', eleva o montante para US$ 85 bilhões.

''Lançar um novo plano de estímulo mostra que os Estados Unidos não estão fazendo o dever de casa, especialmente em relação à política fiscal'', advertiu Hockett, que culpou o Congresso, ''bloqueado e disfuncional'', de não chegar a um acordo para resolver o verdadeiro problema enfrentado pela economia americana.

Ao defender os novos estímulos, com os quais se espera ''acelerar a recuperação'', o Fed prevê um panorama incerto após a redução na projeção de crescimento do PIB e admitiu sua ''grave preocupação'' com o mercado de trabalho nos EUA, cuja taxa de desemprego está acima dos 8% há 43 meses consecutivos.

Para o especialista, as lições deixadas pela quebra do Lehman Brothers não foram assimiladas, já que as medidas monetárias não são suficientes para melhorar a situação da economia americana. Hockett disse que a solução ''não é por aí'', já que, embora ajudem no médio prazo, ''com o tempo será preciso enfrentar o problema fiscal''.

O colapso, que completa quatro anos amanhã, surgiu no calor da bolha imobiliária e, segundo Hockett, é ''incrível'' que tenha sido feito ''tão pouco'' para solucionar o problema, um ''círculo vicioso'' de retração do consumo e desaceleração da economia ''porque em vez de consumir, as pessoas estão afogadas com as dívidas hipotecárias''.


''Se não agirmos, podemos nos deparar facilmente com uma década perdida, como já ocorreu no Japão nos anos 1990. Já passaram quatro anos e ainda não há sinais de que estejamos levando as coisas a sério'', advertiu à Efe o professor, que reiterou que as medidas monetárias ''não são suficientes''.

A quebra da gigante financeira contribuiu para a queda do Partido Republicano nas eleições presidenciais e legislativas de novembro de 2008 nos EUA.

Agora, quatro anos mais tarde, a economia continua sendo a maior preocupação dos americanos e volta a ser o tema-chave na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de novembro, que pode decretar a continuidade de Barack Obama ou ceder o comando para o republicano Mitt Romney.

Faz quatro anos que o índice Dow Jones rondava os 11.400 pontos e, depois da quebra do Lehman Brothers, naquele fatídico dia 15 de setembro de 2008, chegou a cair para 6.600 unidades seis meses mais tarde. Atualmente, o índice do pregão nova-iorquino supera com comodidade os 13.500 pontos.

A falência do Lehman Brothers precipitou a queda do sistema financeiro americano e se transformou no símbolo de uma crise cujas consequências continuam sendo sentidas até hoje na economia mundial, que aconteceu em grande medida devido ao abuso das hipotecas de alto risco.

A Casa Branca e o Fed decidiram então não comparecer ao resgate do emblemático banco, uma entidade com 158 anos de história, apesar das intervenções para evitar a queda de outros grandes como o banco de investimentos Bear Sterns e as hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac.

Após a recusa de Washington de resgatar o Lehman Brothers com dinheiro público, os executivos das maiores entidades financeiras dos EUA se reuniram durante um fim de semana prolongado com os responsáveis do Fed para tentar fazer com que algum deles assumisse o banco, mas ninguém aceitou o desafio.

Assim, não houve outra solução a não ser a declaração de falência, levando outros dois grandes bancos de investimento dos EUA, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, que finalmente tiveram que se transformar em entidades comerciais para poder sobreviver à tempestade que resultou na quebra do Lehman Brothers.

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