“Estamos condenando o semiárido brasileiro”, diz pesquisador
Eduardo Assad afirma que essa região é a mais vulnerável à ação do aquecimento global, mas ainda não possui projetos de agricultura de mitigação
Bárbara Ferreira Santos
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 20h15.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 20h15.
São Paulo - O semiárido nordestino é a região brasileira mais vulnerável aos efeitos do a quecimento global . Isso porque o calor e a seca típicos desse território podem se agravar ainda mais com o aumento das temperaturas globais.
Apesar da fragilidade da região, o país ainda não discute planos de agricultura para mitigação e adaptação às mudanças climáticas no semiárido, segundo Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e professor da FGV-Agro.
Para ele, a falta de projetos coloca os habitantes dessa região em risco. “Estamos condenando devagarzinho os 22 milhões de pessoas do semiárido brasileiro”, afirmou o especialista durante bate-papo no EXAME Fórum Sustentabilidade nesta segunda-feira (28).
Assad explicou que o futuro do Brasil será de sistemas integrados de agropecuária que unam a lavoura, a pecuária e a floresta para combater a emissão dos gases de efeito estufa. “Primeiro a integração tem que ser entre lavoura e pecuária. Depois é lavoura, pecuária e floresta, que é mais difícil, pois quem mexe no gado não tem costume de lidar com madeira”, diz.
No Brasil, esses sistemas já começaram a ser implantados e já estão rendendo resultado. No entanto, a única região em que nada ou quase nada foi feito é exatamente o Nordeste.
Plano ABC
Desde 2010, o Brasil passou a adotar o Plano ABC ou o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. O projeto possui metas estabelecidas até 2020 para reduzir a emissão de gases de efeito estufa no setor agropecuário do país.
O primeiro objetivo do plano é recuperar os pastos degradados, que são as pastagens com baixa lotação (poucos animais), com cupim ou espécies invasoras e com erosão, explica Assad.
Ele explicou que, quando recuperados, os pastos consomem muito carbono para executar a fotossíntese. Por outro lado, os pastos ruins emitem esse tipo de gás. “Nestes pastos bons, o que é emitido pelo boi é ‘sequestrado’ pelo pasto. Em alguns aspectos, a pecuária é demonizada. Mas essa é a maior oportunidade do Brasil para reduzir a emissão de gases de efeito estufa”, afirma Assad.
Um dos principais efeitos já vem sendo sentido: em mais de 300 municípios brasileiros, já foi registrado um aumento da pecuária e diminuição do desmatamento, segundo o especialista. “A pecuária se descolou do desmatamento”, disse Assad.
Cerrado
Enquanto o semiárido continua sendo um dos gargalos do país na produção agropecuária contra os gases de efeito estufa, é no Cerrado que os pesquisadores apostam suas fichas.
Segundo o diretor de gestão territorial inteligente da consultoria Agroicone, Arnaldo Carneiro Filho, o Cerrado é a região onde há o maior potencial de crescimento, com áreas passíveis de receber agricultura, para otimizar o uso do solo. “O Cerrado se tornou nosso grande celeiro de expansão”, afirmou durante o EXAME Fórum Sustentabilidade.
Ele disse ainda que, enquanto se olha muito para a Amazônia e a Mata Atlântica, o país possui outras regiões com paisagens rentáveis e sustentáveis. “O Cerrado é a caixa d’água nacional, onde nascem os rios da bacia do Paraná, São Francisco, Xingu. É também conhecido como uma floresta de ponta cabeça, pois como os solos são profundos, as raízes é que fazem o grosso do volume”, disse.
Assad e Carneiro Filho afirmaram que o país possui grande potencial para unir produção e conservação, mas tem como principal desafio promover um uso eficiente do solo.