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Empresas quitam dívidas para evitar incertezas em ano eleitoral

De janeiro a agosto, companhias captaram R$ 69,9 bilhões com a emissão de dívida - valor 32% maior que no mesmo período de 2016

Dívidas: (iStock/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 10h14.

Brasília - Diante da reação da economia e já de olho nas eleições de 2018 , empresas têm ido ao mercado para antecipar pagamentos e alongar dívidas para evitar potencial volatilidade de preços em meio à corrida pelo Palácio do Planalto.

De janeiro a agosto, companhias captaram R$ 69,9 bilhões com a emissão de dívida - valor 32% maior que no mesmo período de 2016.

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O fenômeno também chega ao mercado externo. De janeiro à última semana de setembro, firmas captaram US$ 21 bilhões com a emissão de dívida externa, 10% mais que o registrado em igual período do ano passado. Executivos de bancos citam a expectativa de emissão de até US$ 30 bilhões neste ano, o que seria o maior valor desde 2014.

Como consequência, o estoque de compromissos a serem pagos em 2017 e 2018 caiu 65% desde janeiro. Ou seja, as empresas estão fazendo uma dívida de longo prazo e quitando os compromissos que vencem nos próximos meses.

A queda do juro, a volta do apetite por risco dos investidores e as incertezas sobre a eleição presidencial abriram uma janela de oportunidade e têm servido de pano de fundo para a retomada de uma boa e velha estratégia: a troca da dívida cara por outra mais barata. O plano tem sido compartilhado por companhias de vários portes e setores.

A Petrobrás, por exemplo, anunciou ontem a antecipação de pagamentos e a contratação de novos financiamentos no total de US$ 6,3 bilhões. Originalmente, as operações venceriam entre 2018 e 2019. Os novos financiamentos foram estendidos para até 2023.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o fenômeno é mais forte desde o início do segundo semestre. Apenas entre junho e agosto, a captação de recursos por meio de emissão de dívida - usando instrumentos como debêntures e notas promissórias - somou R$ 35,9 bilhões e já é superior ao total do primeiro semestre.

"A demanda de muitas operações chega a ser até quatro vezes superior ao total oferecido. Há um apetite por risco que não era visto pelo menos nos últimos três anos", diz o gerente-executivo de mercado de capitais e infraestrutura do Banco do Brasil, Aguinaldo Barbieri. Essa demanda vem especialmente de fundos de investimento que têm buscado opções mais lucrativas diante da menor rentabilidade dos títulos públicos que seguem a taxa Selic.

Tanta procura tem permitido às empresas captar com custo menor que o visto há pouco tempo. A rede Magazine Luiza, por exemplo, emitiu, no fim de julho, títulos para 2020 que pagarão ao investidor 113,5% do CDI (taxa de juros cobrada entre os bancos, que acompanha a variação da Selic).

O custo é bem menor que os 125,20% do CDI dos papéis emitidos pela varejista no ano passado e que vencerão em junho de 2018.

Para o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, o momento é propício, com juros mais baixos fora e dentro do País. Segundo ele, muitas empresas têm procurado antecipar até vencimentos mais longos. Kawall diz que dívidas com o BNDES também estão sendo antecipadas. "Começamos a ter outras fontes mais competitivas no mercado de capitais. Esse fator se soma ao ano eleitoral."

Eleição

Executivo de um grande banco privado nota que, dentro das empresas, há grande preocupação com a eleição e isso tem motivado muitas operações.

"Ninguém sabe quem serão os candidatos com chance de vitória. Do ponto de vista da gestão financeira, não vale a pena correr o risco especialmente porque as condições estão favoráveis atualmente", diz.

Uma empresa que vai ao mercado e quita a dívida que venceria nos próximos meses não ficará exposta à eventual volatilidade futura. O temor dos gestores financeiros é que a eleição gere aversão ao risco, o que dificultaria e encareceria qualquer tentativa de tomar dinheiro emprestado.

"É difícil projetar os desdobramentos das eleições. Por isso, todas as possibilidades de redução de custo devem ocorrer agora", diz o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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