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Em decisão histórica, Fed abre espaço para inflação. Por que isso importa?

O BC dos EUA será mais tolerante com alta dos preços, desde que isso resulte numa melhora para o mercado de trabalho deteriorado pela pandemia

Jerome Powell: presidente do Federal Reserve (Andrew Harrer/Getty Images)

Ligia Tuon

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 16h37.

Última atualização em 27 de agosto de 2020 às 18h06.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou nesta quinta-feira, 27, a revisão de sua política monetária e o aumento do foco no "pleno emprego" em suas medidas.

Pela nova estratégia, níveis mais altos de inflação serão permitidos, desde que a média da variação dos preços no longo prazo seja de 2%, teto da meta atual.

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Historicamente, quando a taxa de desemprego começa a cair nos EUA, o alarme da inflação soa na autoridade monetária, que tende a aumentar os juros. Desta vez, porém, Jerome Powell , presidente do Fed, diz que vai pesar mais "uma meta ampla e inclusiva" de emprego em suas decisões. O que significa também que os juros americanos deverão ficar em zero por um bom tempo.

Não que a inflação tenha chegado a ser um risco eminente nos últimos anos, pelo contrário, seus níveis historicamente baixos eram problema maior nos EUA. Mas o Fed espera que a quantidade sem precedentes de liquidez que jogou no mercado e que tem impulsionado o valor de ativos mundo afora, pressione também a inflação real, o que ainda não ocorreu de forma significativa.

Por isso, a decisão de Powell de oficializar uma política diferente de seu tradicional rigor, e mais adequada à realidade da pandemia, é mais um passo para tentar estimular os preços."Faz parte do objetivo do Fed também controlar a inflação implícita em títulos de longo prazo por meio das expectativas", diz Arthur Mota, economista da Exame Research.

A taxa de desemprego nos EUA chegou a 14,7% em abril, a maior em 70 anos, no pior momento do isolamento social. Atualmente, com a ajuda de programas de socorro do governo, a taxa caiu para cerca de 10%, mas o futuro da atividade segue incerto.

"Uma parte em particular da economia, que envolve reunir as pessoas, alimentá-las, levá-las para viajar, fazê-las dormir em hotéis, entretê-las, terá bastante dificuldade para se recuperar", disse Powell durante encontro anual do Fed, em Jackson Hole, realizado online neste ano. Para ele, uma recuperação completa dos emprego pode levar anos.

O que pode mudar?

A trajetória da política de juros americanos é fundamental para a dinâmica de investimentos pelo mundo, além de influenciar a curva futura de juros, inflação e câmbio de outros países.

Nesse sentido, um dos impactos do prolongamento da política de juros zero para o Brasil pode ser um aumenrto do fluxo de investimentos financeiros, o que valorizaria o real em relação ao dólar.

"O juro deprimido por mais tempo lá fora, num cenário em que o juro doméstico de curto prazo aumente (no final do próximo ano) por conta da retomada da atividade e ancoragem da inflação, resulta num diferencial de juros maior – o que torna mais atrativo os títulos domésticos", escreveu Mota em relatório divulgado nesta quinta-feira.

O prolongamento dos juros baixos nos EUA também pode influenciar na trajetória dos juros no Brasil. "Pela regra de paridade de juros mais básica, o juro local precisa pagar pelo menos o juro americano, uma taxa de prêmio de risco e a expectativa de desvalorização da moeda. Logo, se o primeiro item ficará menor por mais tempo, há uma pressão a menos", diz Mota.

Por fim, a política monetária dos EUA devem impactar outros mercados, como o de ações, onde as empresas mais sensíveis a esse cenário são as exportadoras, as empresas ligadas ao setor de construção, de utilidades públicas e shoppings, avalia a casa de análise.

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