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Em ano de Copa, UE oferece meta mais duradoura ao Brasil

Se tudo correr conforme o planejado, o Brasil assinará no ano que vem seu primeiro grande acordo de livre-comércio, após 15 anos de discussões com a Europa

Euro: a União Europeia e o Mercosul estipularam um prazo até 31 de dezembro para entregarem mutuamente ofertas de abertura de mercados (Marcos Santos/USP Imagens)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2013 às 11h05.

Bruxelas/Brasília - Enquanto grande parte do Brasil está de olho na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016 , um fato de importância econômica bem mais duradouro borbulha sob a superfície.

Se tudo correr conforme o planejado, o Brasil assinará no ano que vem seu primeiro grande acordo de livre-comércio, após 15 anos de discussões com a Europa. Pactos tão ambiciosos podem trazer riqueza sustentável, ao passo que eventos esportivos tendem a engendrar apenas um prestígio passageiro, às vezes até causando prejuízos.

Mas o sucesso ou o fracasso do Brasil depende de um sócio imprevisível, a Argentina.

A União Europeia e o Mercosul estipularam um prazo até 31 de dezembro para entregarem mutuamente ofertas de abertura de mercados, num pacto que abrangeria 750 milhões de pessoas e um comércio anual de 130 bilhões de dólares.

Um acordo final deve ser alcançado no começo do ano que vem. Mas os negociadores também sabem que, ao longo de mais de uma década, as negociações foram sucessivamente abandonadas e retomadas, e nesse ínterim a Argentina declarou a maior moratória da história.

"Ainda esperamos que poderemos fechar um acordo", disse Adrianus Koetsenruijter, funcionário graduado da UE encarregado de negociações com o Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

Quanto ao bloco europeu, o acordo permitiria aproveitar as economias promissoras latino-americanas e reforçar seu papel no comércio global.


Mas a questão é se a Argentina, um dos membros mais protecionistas do G20 (grupo de grandes economias desenvolvidas e emergentes), vai se abrir a mais importações da UE, ou seguirá os passos do governo esquerdista da Venezuela, que se excluiu das negociações.

O Brasil, uma das maiores e mais dinâmicas das economias emergentes, está disposto ao acordo. Tem para isso o apoio do Uruguai e do Paraguai, atores relativamente pequenos no cenário comercial.

Mas o Brasil também quer trazer a Argentina a bordo, embora também possa levar a negociação transcontinental adiante mesmo com um Mercosul retalhado.

"O Brasil sabe que precisa assinar os acordos comerciais sofisticados que estão emergindo", disse o eurodeputado Jean-Pierre Audy, que chefiou em outubro uma delegação parlamentar em visita ao Brasil. "Ele não quer ficar isolado." A Europa, enquanto isso, também está frustrada com as políticas protecionistas argentinas. As relações ficaram abaladas por causa de uma disputa envolvendo as exportações de biodiesel e a nacionalização da empresa energética YPF, que pertencia à espanhola Repsol.

Diplomatas europeus e sul-americanos veem o prazo da negociação comercial neste mês como uma chance de manter a Argentina no grupo, ou então liberar o Brasil para perseguir sua própria agenda como a sétima economia mundial, num sistema internacional de comércio que vive uma acelerada evolução.

Mas a presidente Dilma Rousseff não parece disposta a obrigar sua colega esquerdista Cristina Kirchner a tomar uma decisão. "Não há uma decisão de romper o Mercosul. Ele é um projeto estratégico", disse a nova embaixadora brasileira na União Europeia, Vera Barrouin Machado.


Reservadamente, porém, uma ala do governo brasileiro, apoiada pelo empresariado, gostaria de deixar a Argentina para trás.

Isolamento

O Mercosul, outrora visto como a resposta sul-americana à integração europeia, é um fórum para o papel diplomático do Brasil como maior e mais populoso país da região, ao passo que a Argentina é um mercado importante para as companhias brasileiras.

O Brasil, que exporta de carros a café, é o quinto maior investidor estrangeiro na Europa, e quer acesso aos mercados da UE para suas exportações agrícolas, especialmente de carne.

Os ministros de Desenvolvimento e Relações Exteriores deveriam ter ido no mês passado a Bruxelas para apresentar uma proposta para liberalizar quase 90 por cento do comércio com a Europa.

Mas a missão foi cancelada de última hora, segundo uma pessoa próxima às negociações, porque a Argentina respondeu levando uma delegação a Brasília com o objetivo de preparar uma proposta única a ser apresentada à Europa em nome de todo o Mercosul.


Autoridades comerciais brasileiras e argentinas voltaram a se reunir na terça-feira em Buenos Aires. Os dois países, segundo um diplomata envolvido no processo, "querem passar um sinal claro à Europa de que o Mercosul está unido".

Mas a vizinhança do Brasil representa um risco político.

Se o acordo de livre-comércio entre UE e Mercosul fracassar, o Brasil ficaria sendo um dos poucos países latino-americanos sem um acordo de livre-comércio com os EUA e a União Europeia- um canal já estabelecido, por exemplo, por México, Peru, Chile e Colômbia.

Enquanto isso, a União Europeia mantém ambiciosas negociações comerciais com quase 80 países, incluindo os EUA. Washington, por sua vez, negocia um bloco de livre-comércio que se estenderia do Vietnã e Japão até o Chile, a Parceria Transpacífica (PTP), que abrangeria cerca de 40 por cento da economia global.

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Se tudo correr conforme o planejado, o Brasil assinará no ano que vem seu primeiro grande acordo de livre-comércio, após 15 anos de discussões com a Europa. Pactos tão ambiciosos podem trazer riqueza sustentável, ao passo que eventos esportivos tendem a engendrar apenas um prestígio passageiro, às vezes até causando prejuízos.

Mas o sucesso ou o fracasso do Brasil depende de um sócio imprevisível, a Argentina.

A União Europeia e o Mercosul estipularam um prazo até 31 de dezembro para entregarem mutuamente ofertas de abertura de mercados, num pacto que abrangeria 750 milhões de pessoas e um comércio anual de 130 bilhões de dólares.

Um acordo final deve ser alcançado no começo do ano que vem. Mas os negociadores também sabem que, ao longo de mais de uma década, as negociações foram sucessivamente abandonadas e retomadas, e nesse ínterim a Argentina declarou a maior moratória da história.

"Ainda esperamos que poderemos fechar um acordo", disse Adrianus Koetsenruijter, funcionário graduado da UE encarregado de negociações com o Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

Quanto ao bloco europeu, o acordo permitiria aproveitar as economias promissoras latino-americanas e reforçar seu papel no comércio global.


Mas a questão é se a Argentina, um dos membros mais protecionistas do G20 (grupo de grandes economias desenvolvidas e emergentes), vai se abrir a mais importações da UE, ou seguirá os passos do governo esquerdista da Venezuela, que se excluiu das negociações.

O Brasil, uma das maiores e mais dinâmicas das economias emergentes, está disposto ao acordo. Tem para isso o apoio do Uruguai e do Paraguai, atores relativamente pequenos no cenário comercial.

Mas o Brasil também quer trazer a Argentina a bordo, embora também possa levar a negociação transcontinental adiante mesmo com um Mercosul retalhado.

"O Brasil sabe que precisa assinar os acordos comerciais sofisticados que estão emergindo", disse o eurodeputado Jean-Pierre Audy, que chefiou em outubro uma delegação parlamentar em visita ao Brasil. "Ele não quer ficar isolado." A Europa, enquanto isso, também está frustrada com as políticas protecionistas argentinas. As relações ficaram abaladas por causa de uma disputa envolvendo as exportações de biodiesel e a nacionalização da empresa energética YPF, que pertencia à espanhola Repsol.

Diplomatas europeus e sul-americanos veem o prazo da negociação comercial neste mês como uma chance de manter a Argentina no grupo, ou então liberar o Brasil para perseguir sua própria agenda como a sétima economia mundial, num sistema internacional de comércio que vive uma acelerada evolução.

Mas a presidente Dilma Rousseff não parece disposta a obrigar sua colega esquerdista Cristina Kirchner a tomar uma decisão. "Não há uma decisão de romper o Mercosul. Ele é um projeto estratégico", disse a nova embaixadora brasileira na União Europeia, Vera Barrouin Machado.


Reservadamente, porém, uma ala do governo brasileiro, apoiada pelo empresariado, gostaria de deixar a Argentina para trás.

Isolamento

O Mercosul, outrora visto como a resposta sul-americana à integração europeia, é um fórum para o papel diplomático do Brasil como maior e mais populoso país da região, ao passo que a Argentina é um mercado importante para as companhias brasileiras.

O Brasil, que exporta de carros a café, é o quinto maior investidor estrangeiro na Europa, e quer acesso aos mercados da UE para suas exportações agrícolas, especialmente de carne.

Os ministros de Desenvolvimento e Relações Exteriores deveriam ter ido no mês passado a Bruxelas para apresentar uma proposta para liberalizar quase 90 por cento do comércio com a Europa.

Mas a missão foi cancelada de última hora, segundo uma pessoa próxima às negociações, porque a Argentina respondeu levando uma delegação a Brasília com o objetivo de preparar uma proposta única a ser apresentada à Europa em nome de todo o Mercosul.


Autoridades comerciais brasileiras e argentinas voltaram a se reunir na terça-feira em Buenos Aires. Os dois países, segundo um diplomata envolvido no processo, "querem passar um sinal claro à Europa de que o Mercosul está unido".

Mas a vizinhança do Brasil representa um risco político.

Se o acordo de livre-comércio entre UE e Mercosul fracassar, o Brasil ficaria sendo um dos poucos países latino-americanos sem um acordo de livre-comércio com os EUA e a União Europeia- um canal já estabelecido, por exemplo, por México, Peru, Chile e Colômbia.

Enquanto isso, a União Europeia mantém ambiciosas negociações comerciais com quase 80 países, incluindo os EUA. Washington, por sua vez, negocia um bloco de livre-comércio que se estenderia do Vietnã e Japão até o Chile, a Parceria Transpacífica (PTP), que abrangeria cerca de 40 por cento da economia global.

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