Dólar caro é encrenca para o governo, diz ex-secretário do Ministério da Fazenda
Economista Roberto Macedo acredita que será difícil o BC cumprir a meta de inflação
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2011 às 11h07.
São Paulo – A alta repentina do dólar virou uma encrenca para o governo no combate à inflação . Na avaliação do ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda Roberto Macedo, a desvalorização cambial terá impacto nos preços.
“O governo se meteu numa encrenca. O Banco Central fez uma jogada muito arriscada (redução dos juros) porque acreditou na queda da inflação, e não está acontecendo nada disso. O câmbio se desvalorizou por caminhos tortuosos, vai acabar impactando a inflação e atrapalhando o Banco Central”, diz Macedo, que é pesquisador da Fipe e professor da Faap.
Nesta semana, uma reportagem de EXAME.com mostrou que se o dólar chegar aos R$ 2,00 no quarto trimestre, a inflação pula para 7,2% neste ano.
Entre os fatores que pressionam a moeda americana, o professor cita um externo e um interno. “No cenário internacional, prevalecem os problemas na Grécia e a possibilidade de outros países seguirem o mesmo caminho. No plano interno, o governou andou mexendo com a tributação da entrada de capitais e principalmente com aquelas posições vendidas no mercado de câmbio. Muitos agentes passaram para posições compradas (apostas na valorização do dólar).”
Em entrevista a EXAME.com, Roberto Macedo diz que a alta na cotação da moeda americana pressiona vários itens da economia. “Nas empresas, depende dos insumos que elas usam. Nas famílias, pressiona o preço de alimentos como trigo, pão, óleo de soja e outras coisas. Afeta até os produtos chineses que as famílias compram na 25 de março (famosa rua de comércio popular em São Paulo).”
A inflação poderia piorar ainda mais se a Petrobras reajustasse o preço da gasolina, mas isso não deve ocorrer, segundo ele, porque "a Petrobras é hoje um departamento governamental”.
O economista ressalta que o Banco Central “tem bala” para segurar o câmbio, mas “se a Grécia quebrar, (o dólar) vai dar um pulo para cima.”
Tripé frouxo
Roberto Macedo avalia que o tripé econômico do Brasil – sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal – está “frouxo”.
“A coisa fiscal é toda cheia de maquiagem. A gente não sabe muito bem que rumo tomou. Eu não confio muito em ajuste fiscal, pois o que eles fazem é apenas gastar num ritmo menor que o do crescimento da arrecadação. A inflação desse ano já era. O Banco Central, para fazer jus ao nome, vai aumentar os juros em algum momento ou o governo vai mexer no câmbio. O tal tripé está balançando.”
IPI para importados
Macedo, que esteve no Ministério da Fazenda no governo Collor, quando foi feita a abertura econômica, considera um equívoco a alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Você não pode ficar mudando muito a regra do jogo porque você perde a credibilidade. Isso também vale para a queda dos juros que aconteceu abruptamente, sem uma pausa para meditação.”
O economista conclui: “Suponha que você tenha montado uma importadora de automóveis. Como empresário, você fica furioso. Além disso, por que só a indústria automobilística? Cheira muito a lobby. Por que não a indústria têxtil ou a metalmecânica? Tem um monte de gente (setores) com problema.”
São Paulo – A alta repentina do dólar virou uma encrenca para o governo no combate à inflação . Na avaliação do ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda Roberto Macedo, a desvalorização cambial terá impacto nos preços.
“O governo se meteu numa encrenca. O Banco Central fez uma jogada muito arriscada (redução dos juros) porque acreditou na queda da inflação, e não está acontecendo nada disso. O câmbio se desvalorizou por caminhos tortuosos, vai acabar impactando a inflação e atrapalhando o Banco Central”, diz Macedo, que é pesquisador da Fipe e professor da Faap.
Nesta semana, uma reportagem de EXAME.com mostrou que se o dólar chegar aos R$ 2,00 no quarto trimestre, a inflação pula para 7,2% neste ano.
Entre os fatores que pressionam a moeda americana, o professor cita um externo e um interno. “No cenário internacional, prevalecem os problemas na Grécia e a possibilidade de outros países seguirem o mesmo caminho. No plano interno, o governou andou mexendo com a tributação da entrada de capitais e principalmente com aquelas posições vendidas no mercado de câmbio. Muitos agentes passaram para posições compradas (apostas na valorização do dólar).”
Em entrevista a EXAME.com, Roberto Macedo diz que a alta na cotação da moeda americana pressiona vários itens da economia. “Nas empresas, depende dos insumos que elas usam. Nas famílias, pressiona o preço de alimentos como trigo, pão, óleo de soja e outras coisas. Afeta até os produtos chineses que as famílias compram na 25 de março (famosa rua de comércio popular em São Paulo).”
A inflação poderia piorar ainda mais se a Petrobras reajustasse o preço da gasolina, mas isso não deve ocorrer, segundo ele, porque "a Petrobras é hoje um departamento governamental”.
O economista ressalta que o Banco Central “tem bala” para segurar o câmbio, mas “se a Grécia quebrar, (o dólar) vai dar um pulo para cima.”
Tripé frouxo
Roberto Macedo avalia que o tripé econômico do Brasil – sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal – está “frouxo”.
“A coisa fiscal é toda cheia de maquiagem. A gente não sabe muito bem que rumo tomou. Eu não confio muito em ajuste fiscal, pois o que eles fazem é apenas gastar num ritmo menor que o do crescimento da arrecadação. A inflação desse ano já era. O Banco Central, para fazer jus ao nome, vai aumentar os juros em algum momento ou o governo vai mexer no câmbio. O tal tripé está balançando.”
IPI para importados
Macedo, que esteve no Ministério da Fazenda no governo Collor, quando foi feita a abertura econômica, considera um equívoco a alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Você não pode ficar mudando muito a regra do jogo porque você perde a credibilidade. Isso também vale para a queda dos juros que aconteceu abruptamente, sem uma pausa para meditação.”
O economista conclui: “Suponha que você tenha montado uma importadora de automóveis. Como empresário, você fica furioso. Além disso, por que só a indústria automobilística? Cheira muito a lobby. Por que não a indústria têxtil ou a metalmecânica? Tem um monte de gente (setores) com problema.”