De roaming a acordo com Europa: Bolsonaro assume Mercosul
Presidente substituirá o argentino Mauricio Macri na liderança rotativa do bloco, com mandato de seis meses
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2019 às 07h06.
Última atualização em 17 de julho de 2019 às 11h24.
São Paulo — Oito meses e 19 dias depois de Paulo Guedes dizer que o Mercosul não seria prioridade para o novo governo, o Mercado Comum do Sul entra de vez na agenda brasileira. O presidente Jair Bolsonaro assume a partir desta quarta-feira (17), a presidência rotativa do bloco, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com mandato de seis meses.
A posse acontece na reunião de cúpula do bloco em Santa Fé, na Argentina. Bolsonaro assumirá no lugar da própria Argentina, com o presidente Mauricio Macri na presidência desde dezembro.
Além da transição de cargo, a reunião desta semana deve ser pautada por menos termos práticos e mais comemoração pela assinatura do tratado de livre-comércio com a União Europeia, confirmada no fim de junho após 20 anos de negociação.
Passada a euforia, o principal objetivo do Mercosul na gestão brasileira será começar a fazer o acordo andar, o que pode demorar pelo menos dois anos.
O tratado ainda precisa ser aprovado por todos os países envolvidos, e enfrenta oposição em setores da Europa, sobretudo entre os produtores agrícolas locais, que temem a concorrência com produtos do Mercosul, e entre ativistas que questionam o nível de agrotóxicos nos produtos sul-americanos.
União Europeia à parte, duas decisões mais práticas serão anunciadas hoje: a taxa de roaming, tarifas extras para ligações feitas no exterior, passará a não ser cobrada de quem viaja entre os países do bloco, e cidadãos do Mercosul poderão usar as representações consulares dos vizinhos quando estiverem viajando fora do bloco.
Apesar de pequenas, as medidas estão entre os maiores avanços na integração desde que o Mercosul foi fundado em 1991. Quinta maior economia do mundo caso fosse um país e com 85 bilhões de dólares em exportações em 2018, também participam do Mercosul a Venezuela, suspensa desde 2017, e a Bolívia, que está em processo de adesão. Países como Chile, Colômbia e Equador não são membros, mas entraram como associados.
Decisões mais complexas do Mercosul no período de gestão brasileira devem ficar informalmente à espera do resultado de eleições presidenciais em dois de seus países-membros, Uruguai e Argentina.
Os resultados podem mudar radicalmente o futuro do bloco, sobretudo na Argentina, onde o presidente Mauricio Macri está tecnicamente empatado com a chapa de oposição, na qual a ex-presidente Cristina Kirchner é vice do candidato Alberto Fernandez.
Bolsonaro já tem seu lado na ´disputa e chegou a dizer que os argentinos não devem eleger a chapa de Kirchner para que o país não vire “uma Venezuela”. Uma vitória do candidato da ex-presidente, assim, poderia tornar o Mercosul um cabo de guerra entre os dois maiores países do bloco.
Novos acordos
O Mercosul quer mais acordos comerciais e diz estar perto de fechar outro com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), integrada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. A esse se seguiriam no ano que vem acordos com o Canadá e com a Coreia do Sul.
Macri e Bolsonaro afirmaram na semana passada que poderiam buscar um com os Estados Unidos, mas isso não é vislumbrado no curto prazo.