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Dá para ganhar dinheiro com um banco para pobres?

De grão em grão se faz um milhão. Seguindo esse dito popular, alguns bancos têm procurado atingir a população de baixa renda. Não há estatísticas precisas sobre o número de brasileiros economicamente ativos sem acesso a banco, mas ele é estimado em cerca de 40 milhões de pessoas. A Caixa Econômica Federal acredita que haja […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h53.

De grão em grão se faz um milhão. Seguindo esse dito popular, alguns bancos têm procurado atingir a população de baixa renda. Não há estatísticas precisas sobre o número de brasileiros economicamente ativos sem acesso a banco, mas ele é estimado em cerca de 40 milhões de pessoas. A Caixa Econômica Federal acredita que haja 25 milhões de famílias fora do sistema bancário. Será que daria para ganhar dinheiro oferecendo serviços bancários para pobres? "É um segmento interessante para quem possui uma ampla malha de agências e uma clientela grande, ou seja, tem um custo fixo alto", diz Paulo Apsen, ex-presidente da consultoria Arthur D. Little.

Com mais clientes, afirma Apsen, as instituições que já têm infra-estrutura montada conseguem diluir custos sem necessitar de grandes investimentos adicionais. Escala é a palavra-chave. Mesmo que, individualmente, traga pouco dinheiro para o banco, no conjunto a população de baixa renda oferece um montante que não pode ser desprezado. Ao contrário. Mesmo que os recursos não durem mais do que 15 dias na conta, são 15 dias que o banco ganha para negociar esse dinheiro a custo zero no mercado. "Esse é um grande atrativo", diz Marcelo Bessan, sócio-diretor da KPMG.

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De acordo com ele, num cenário de recuperação do crescimento, é justamente a população de baixa renda que rapidamente gera novos recursos para os bancos. "Qualquer melhora na economia faz com que essa população volte a consumir comprando a prazo", diz Bessan. Mas abrir novas agências especialmente para atender uma população que muitas vezes não chega a ganhar sequer um salário mínimo (R$ 200) é algo fora de cogitação. Uma nova agência do Bradesco, por exemplo, não sai por menos de R$ 500 mil. A relação custo-benefício não justificaria o investimento.

Também não é por meio do computador que os pobres serão atingidos. A internet está longe da realidade das classes D e E, onde pobre é pobre de verdade. Nos fundões do país, o domínio de funções básicas de computador inexiste. Por isso, a alternativa que vem sendo adotada são parcerias com redes de supermercado, casas lotéricas, padarias, agências do Correios. São os chamados correspondentes bancários, que fazem a ponte entre a população e os bancos. Essa estratégia fica clara tanto em instituições do governo, como Banco do Brasil ou CEF, quanto em bancos privados, como o Bradesco.

Na CEF, por exemplo, líder de longe em recursos aplicados na caderneta de poupança com 30,5% do mercado, 80% dos clientes têm saldo até R$ 1.000. Somados, os recursos desses clientes representam apenas 5% do saldo em poupança no banco. Boa parte dessas contas devem acabar sendo movimentadas não nas agências, mas nos correspondentes bancários da CEF. Do total de transações realizadas esse ano pelo banco, até outubro, 68% foram feitas fora de casa . São mais de 9.000 lotéricas e cerca de 2.000 pontos como padarias e supermercados.

No início do mês, a CEF deu um novo passo para ampliar ainda mais esse batalhão de formiguinhas: lançou uma conta corrente voltada para a população não-bancarizada do país. A Conta Eletrônica Caixa Aqui se diferencia das tradicionais porque só pode ser movimentada por cartão magnético. O cliente não tem acesso a cheque. O número de saques também é limitado. São no máximo quatro por mês. Por cada saque excedente será cobrada tarifa de R$ 0,50. Essas contas também não poderão ter saldo superior a R$ 3.000. Saldo mínimo, não há. Esperamos abrir um milhão dessas contas até o final de 2003 , diz Augusto Bandeira Vargas, superintendente de negócios da CEF.

Não seria mais vantajoso para esse cliente abrir uma caderneta de poupança, que não tem limite de saque, não cobra tarifa bancária e, de quebra, oferece rendimento, ainda que baixo, se pelo menos parte do dinheiro ficar mais que 30 dias no banco? Vargas afirma que a Conta Eletrônica tem vantagens que a poupança não tem: Vamos desenvolver outros produtos financeiros, como empréstimos, específicos para a população de baixa renda, que só poderão ser oferecidos a quem tem a Conta Eletrônica . Além disso, o processo de abertura de conta é simplificado. Como comprovante de endereço, basta uma declaração de próprio punho do titular.

O Banco do Brasil também oferece aos clientes uma conta corrente semelhante à da CEF, de olho na população de baixa renda. Chamada Conta Especial Eletrônica, ela também só é movimentada por meio do cartão magnético. Um diferencial é que o cliente pode conseguir um limite extra, que pode variar de R$ 50 a R$ 600, dependendo da análise cadastral. Há 3,5 milhões de contas como essa no Banco do Brasil. Elas representam cerca de 30% do total de contas na instituição com limite extra de crédito pré-aprovado.

O peso da população de baixa renda no banco é grande. Da nossa base de clientes, 73% ganham até R$ 1.000. E desse grupo, 84% recebem no máximo três salários mínimos (R$ 600) , diz Patrícia Cavallieri, gerente de varejo do Banco do Brasil. E eles dão lucro: São responsáveis por 30% do resultado que o banco obtém com serviços junto às pessoas físicas . A rede de correspondentes bancários do Banco do Brasil hoje se restringe a 19 redes de supermercados nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. Mas deve crescer. De acordo com Patrícia, além de pagar contas, a partir de 2003 também será possível abrir uma conta corrente no Banco do Brasil por meio dos correspondentes bancários: Futuramente, saques e depósitos também deverão ser autorizados .

A concorrência acirrada pelas classes mais altas é outro fato que também tem feito bancos privados buscar a população de baixa renda. Todos os bancos estão preocupados em como servir a esse público de forma compatível com critérios de rentabilidade. Entre as classes mais altas, o mercado já está saturado , diz Álvaro Musa, sócio-diretor a consultoria Partner. Hoje, essa questão representa uma fronteira para a continuidade do desenvolvimento do setor bancário , diz. O maior exemplo disso ainda é o Bradesco, maior banco privado do país, não à toa rotulado informalmente por muitos como banco do povão .

Reforçando a atuação com pequenos clientes, o Bradesco desembolsou R$ 200 milhões em outubro do ano passado pelo direito de usar com exclusividade, por cinco anos, a estrutura do Correios para oferecer produtos financeiros aos sem-banco , no chamado Banco Postal. Até o final de 2003 a instituição conseguirá expandir a rede bancária das atuais 2.498 agências para mais de 8.000 pontos de atendimento no país. E ainda passará a fincar o pé em cerca de 3.000 municípios onde hoje não está presente.

Assim como na CEF, as contas abertas pelo Banco Postal terão limite de saque. Quatro por mês. Mais que isso, custa 43 centavos por cada retirada. Em ambas as instituições, claro, o número de depósitos é livre. Quanto mais, melhor. No final de março começou a implantação nas agências do Correios do Banco Postal. Até agora, 2.088 agências estão prontas. Cerca de 300 mil contas já foram abertas. A expectativa é que cheguem a 3,5 milhões , diz André Rodrigues Cano, diretor do Banco Postal. Quanto dinheiro esse mercado trará ao Bradesco, à CEF ou ao Banco do Brasil ainda é uma incógnita.

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