Exame Logo

Crise na Petrobras piora o cenário para a economia

A crise na estatal pode prejudicar os investimentos e o setor externo

Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2014 às 08h16.

São Paulo - A crise na Petrobras pode prejudicar dois pontos-chave da economia brasileira : os investimentos e o setor externo.

A piora provocada pela estatal na economia vai se somar ao cenário já ruim para o ano que vem: a economia brasileira deverá crescer pouco - menos de 1% -, e a inflação continuará pressionada, próxima ao teto da meta.

O envolvimento da Petrobras e grandes construtoras num esquema de corrupção é investigada na Operação Lava Jato. Nas últimas semanas, o agravamento das denúncias tem produzido impactos no andamento dos projetos da companhia.

A Petrobras detém uma grande fatia dos investimentos programados para a economia brasileira no ano que vem.

A estatal planeja investir cerca de R$ 100 bilhões - a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) deverá ficar entre R$ 800 bilhões e R$ 900 bilhões, segundo estimativa da Tendências Consultoria Integrada.

"É difícil mensurar quanto desse investimento pode ser realmente afetado, quanto vai deixar sair do papel, mas deve haver algum impacto", afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.

O estrago da Petrobras nos investimentos pode ser ainda pior quando se leva em conta o efeito multiplicador. Para cada real gasto, R$ 1,9 é gerado na economia como um todo.

"Se estamos falando (de um peso da Petrobras) de 10%, com o efeito multiplicador, chega ao redor de 20%", diz a economista. A melhora do investimento se tornou fundamental para o avanço da economia brasileira.

Por muitos anos, o consumo das famílias funcionou como o motor do PIB brasileiro, o que não ocorre mais. Dessa forma, era esperado que o investimento suprisse essa lacuna.

Por ora, há um desânimo com o crescimento previsto para a economia do País em 2015. A expectativa do relatório Focus, feito pelo Banco Central, estima um crescimento de 0,69%.

Para o economista-chefe do banco de investimentos BTG Pactual, Eduardo Loyo, a crise da Petrobras adiciona incerteza na economia, num momento em que se esperava uma melhora.

O fim do processo eleitoral e a credibilidade do ajuste na política econômica a ser liderado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, eram dois fatores que poderiam trazer confiança.

"Há uma quantidade de ruídos e fricções no cenário tanto político quanto empresarial associado a esse caso da Petrobras. Esse cenário de ruídos e fricções pode acabar tendo sobre o desempenho da atividade, em particular sobre o apetite dos investimentos, efeito semelhante ao que houve ao longo de 2014", diz.

A possível lentidão dos investimentos da Petrobras também deve tornar difícil a recuperação consistente do comércio internacional, no médio e longo prazo.

Neste ano, o Brasil deverá ter um déficit comercial de petróleo e derivados de cerca de US$ 21,5 bilhões, segundo projeções da consultoria GO Associados.

Na balança comercial como um todo, o cenário é desalentador. Entre janeiro e novembro, o déficit acumulado é de US$ 4,22 bilhões - o pior resultado para o período desde 1998.

"A empresa poderia reduzir o déficit comercial como forma de compensar o ciclo de baixa de commodities que o mundo vive hoje e que não vai ser equacionado no curto prazo", diz Fabio Silveira, diretor de pesquisas da GO Associados. Colaboraram Daniela Amorim e Vinicius Neder. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

São Paulo - Depois de 16 meses de investigações, 36 pessoas que estavam na mira da Operação Lava Jato foram denunciadas pelo Ministério Público Federal. Este, contudo, seria apenas o começo, de acordo com Rodrigo Janot, procurador-geral da República e chefe do MPF. Ao todo, 23 pessoas ligadas às empresas Camargo Corrêa , Engevix, Galvão Engenharia , Mendes Júnior , OAS e UTC também foram denunciadas pela Procuradoria. O MPF estima que 286 milhões de reais tenham sido movimentados no esquema e espera um ressarcimento mínimo de 971,5 milhões de reais.

Se o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, acatar a denúncia, os 35 envolvidos serão julgados por crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro e crime de corrupção. Segundo o relatório divulgado pela Procuradoria, as penas podem chegar a 127 anos de detenção, caso o réu seja considerado culpado pelos crimes de organização criminosa, 3 atos de corrupção e 3 atos de lavagem de dinheiro. A Mendes Júnior, por exemplo, teria acumulado 53 atos de corrupção. Veja a lista de penas possíveis para cada crime:
CrimePena mínimaPena Máxima
Organização criminosa4 anos e 4 meses13 anos e 4 meses
Corrupção2 anos e 8 meses21 anos e 4 meses
Lavagem de dinheiro4 anos16 anos e 8 meses
Veja a lista dos 35 denunciados no esquema de corrupção da Petrobras.
  • 2. Mendes Junior + GFD

    2 /7(Divulgação)

  • Veja também

    Mendes Junior + GFD
    Denunciados16
    Corrupção da empresa (R$)71.602.688,48
    Ressarcimento buscado (R$)214.808.065,45
    Valor envolvido na lavagem (R$)8.028.000,00
    Número de atos de corrupção e lavagem53 corrupções e 11 lavagens + 30 lavagens
  • 3. Camargo Corrêa + UTC

    3 /7(Divulgação)

  • Camargo Corrêa + UTC
    Denunciados10
    Corrupção da empresa (R$)86.457.578,91
    Ressarcimento buscado (R$)343.033.978,68
    Valor envolvido na lavagem (R$)36.876.887,75
    Número de atos de corrupção e lavagem11 corrupções e 7 lavagens
    Veja o posicionamento da Camargo Corrêa e da UTC “A Construtora Camargo Corrêa esclarece que pela primeira vez seus executivos terão a oportunidade de conhecer todos os elementos do referido processo e apresentar sua defesa com a expectativa de um julgamento justo e equilibrado.”
    "Os advogados da UTC não tiveram acesso à denúncia e só se manifestarão depois de analisá-la."
  • 4. Engevix

    4 /7(Divulgação/ Engevix)

    Engevix
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)52.977.089,89
    Ressarcimento buscado (R$)158.931.269,69
    Valor envolvido na lavagem (R$)13.432.500,00
    Número de atos de corrupção e lavagem33 corrupções e 31 lavagens
    Veja o posicionamento da Engevix: "A Engevix, por meio dos seus advogados, prestará os esclarecimentos necessários à justiça."
  • 5. Galvão Engenharia

    5 /7(Divulgação/ Galvão Engenharia)

    Galvão Engenharia
    Denunciados7
    Corrupção da empresa (R$)46.063.344,24
    Ressarcimento buscado (R$)256.546.958,55
    Valor envolvido na lavagem (R$)5.512,430,00
    Número de atos de corrupção e lavagem37 corrupções e 12 lavagens
  • 6. OAS

    6 /7(REUTERS/Aly Song)

    OAS
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)29.321.227,22
    Ressarcimento buscado (R$)213.039.145,36
    Valor envolvido na lavagem (R$)10.300.038,93
    Número de atos de corrupção e lavagem20 corrupções e 14 lavagens
  • 7. Veja outras matérias sobre a corrupção na Petrobras

    7 /7(Vanderlei Almeida/AFP)

  • Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCrises em empresaseconomia-brasileiraEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoPetrobrasPetróleo

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Economia

    Mais na Exame