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Crescimento pode ressurgir em 2015 na China

Especialistas observam mudanças que provavelmente vão estimular um impulso na segunda maior economia do mundo em 2015

Bandeira da China: o consumo e o mercado podem desempenhar um papel de maior importância na economia chinesa (jimwink/Creative Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2015 às 16h11.

Pequim -Líderes chineses têm o objetivo de mudar a economia da atual dependência de investimentos e de exportação para um modelo de crescimento no qual o consumo e o mercado desempenhem o papel de maior importância.

Economistas e analistas estão observando sete áreas para acelerar uma mudança de política que poderá reforçar uma reestruturação econômica em 2015.

Elas incluem um aumento na demanda doméstica, petróleo mais barato, reformas dos preços de energia, melhorias na cobertura de bem-estar social e uma onda de privatizações .

Se iniciadas pelos responsáveis políticos ou geradas por eventos externos, essas áreas muito provavelmente estimularão um impulso para a segunda maior economia do mundo este ano.

Demanda doméstica ganha vida

A mudança da China para um crescimento baseado no consumo é parte de uma guinada drástica que oferecerá “oportunidades fantásticas” para o mundo desenvolvido, diz Stephen Roach, o ex-economista sênior da Morgan Stanley.

O motor econômico da nação está mudando marchas e passando de produtor para exportação para ser um consumidor que oferece demanda para o resto do mundo, disse Roach, hoje conselheiro sênior no Jackson Institute of Global Affairs da Universidade de Yale.

“2015 pode ser o ano no qual a China demonstrará que está realmente no controle do próprio destino – o que pode conter a desvantagem de uma desaceleração cuidadosamente planejada sem sucumbir à temida aterrissagem forçada que tantos acreditam ser inevitável --,” disse ele. A história de demanda doméstica está prestes a ganhar vida de uma forma que nunca vimos”.

Vento de cauda do petrpetróleo

A queda do preço do petrpetróleo e outros produtos fez da China a “grande vencedora” da agitação recente dos mercados mundiais, possibilitando-a economizar em suas contas com petrpetróleo, carvão e gás e a somar a suas reservas estratégicas de energia de forma barata, diz Kenneth Courtis, ex-vice-presidente da Ásia no Grupo Goldman Sachs Inc.

A queda dos preços de energia irão manter a inflação baixa e preços aos produtores negativos, deixando muito espaço para cortar taxas de juros, disse Courtis, presidente da Starfort Holdings.

“Mesmo sonhando com ótimas notícias para a economia chinesa, ninguém poderia ter imaginado um cenário tão positivo”, disse Courtis.

Mudanças no mercado de energia

O choque do preço do petróleo também oferece a “oportunidade perfeita” para mudança orientada para o mercado em energia, diz Derek Scissors, um acadêmico no American Enterprise Institute em Washington, que foca em questões econômicas da Ásia. A China pode dar passos para ter um setor de energia mais eficiente cortando ou eliminando subsídios, disse Scissors.

“O consenso é de que a China está encarando uma escolha entre apoiar o crescimento econômico com estímulo e implementar reformas para uma eficiência de longo prazo”, disse Scissors. “Os baixos preços do petróleo, no entanto, são um estímulo natural para um grande importador de energia. Em 2015, a China tem a oportunidade de cortar ou eliminar subsídios – assim trazendo procura, oferta e preço mais próximos de seus níveis de mercado – sem causar custos maiores a economia doméstica ou firmas.”

Reforma Hukou

A liberalização do sistema de registro de famílias (hukou) em cidades de pequeno e médio porte, junto à reforma em bem-estar social, pode ajudar a diminuir poupanças e aumentar o consumo, diz Louis Kuijs, líder do Royal Bank of Scotland Group Plc’s e grande economista em Hong Kong.

O sistema atual nega a muitos cidadãos o direito a serviços públicos, inclusive assistência médica e educação.

“A reforma do sistema Hokou deve ajudar a China em direção a uma urbanização completa, com migrantes mais capazes de viver como cidadãos urbanos de verdade, assim facilitando o reequilíbrio do padrão de crescimento”, disse Kujs, que anteriormente trabalhava no Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Onda de privatizações

Uma onda de privatizações pode estar chegando, já que os governos locais procuram transferir suas propriedades, incluindo rodovias e algumas empresas estatais, diz a Deutsche Bank AG.

“Isso deve ajudar a promover a produtividade na economia e estimular a previsão de crescimento”, escreveram os economistas com base em Hong Kong, Zhang Zhiwei e Audrey Shi em uma nota em dezembro.

Mais de 10 milhões de novos negócios foram registrados de março a novembro depois que a burocracia diminuiu, de acordo com a secretaria estatal de indústria e comércio (State Administration for Industry and Commerce). As privatizações devem aumentar o impulso para a “nova” economia, incluindo a produção privada, que já está superando a atuação da “antiga” China.

Cenário favorável

As tentativas da China de introduzir mudanças baseadas no mercado doméstico terão um cenário mais favorável em 2015 já que as exportações aumentarão devido à recuperação econômica em mercados desenvolvidos, políticas monetárias que se mantém acessíveis globalmente e baixos preços de mercadorias, diz Goldman Sachs Groups Inc.

Haverá mais progresso na liberalização das taxas de juros, com a remoção do limite da taxa de depósito parecendo possível, disseram economistas liderados por Yu Song de Pequim, em uma nota em dezembro.

O que não acontece

Essencial para o potencial ascendente serão os resultados benignos para débitos e mercado de trabalho enquanto o crescimento econômico se regula.

Devido ao pesado calendário de reembolso de dívidas para promotores imobiliários, é provável que ocorra certa inadimplência, disse Dong Tao, economista-chefe da Ásia, excluindo o Japão no Credit Suisse Group AG em Hong Kong.

“Mas se essa inadimplência resultará apenas em casos isolados ou em algo que acionaria uma reação em cadeia em um nível nacional, é uma grande interrogação”, disse. Parece que o governo e o banco central estão fazendo algum truque para circular liquidez no sistema, então casos de inadimplência não criam um grande impacto”.

Com o crescimento do setor de serviços sendo acelerado e a população em idade ativa diminuindo, a China pode criar os trabalhos que necessita com taxas de expansão mais baixas, diz David Loevinger, ex- coordenador sênior de assuntos da China do Departamento do Tesouro dos EUA.

"Nada de implosão econômica, nada de agitação social em massa e nada de crise bancária”, diz Loevinger, analista do TCW Group Inc. em Los Angeles. “Este pode ser o ano em que a noção equivocada de que a China é de certa forma diferente, será finalmente dissipada, ela precisa manter um alto crescimento porque senão tudo se transformará em um inferno”.

São Paulo – Estudo produzido pela consultoria KPMG afirma que pensar na China como o lugar ideal para se terceirizar a produção é coisa do passado. O país já começa a abandonar sua posição de fabricante de itens de baixo custo. Nick Debnam, responsável pela divisão de Mercado Consumidor para Ásia e Pacífico da KPMG, afirma que é possível observar dispersão da produção de alguns itens, antes concentrada na China. “Um dos exemplos é a confecção de calçados, deslocada para o Vietnã e a Indonésia”, diz. Por enquanto, a China continua líder na manufatura de bens de menor valor. Nenhum país da região consegue igualar sua escala de produção e raros são os que apresentam uma infraestrutura com chances de competir. Entretanto, além dos salários no país terem aumentado, e os custos de produção, crescido, há também o fato de que a média de idade da população economicamente ativa da China vem aumentando. O estudo aponta 10 países do sul e do sudeste asiático que, por terem média salarial mais baixa, incentivos para atrair fábricas estrangeiras e uma força de trabalho mais jovem, são promissores candidatos a se tornarem a próxima China dentro de poucas décadas. Veja nas fotos ao lado quais são estes países.
  • 2. Bangladesh

    2 /11(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    As exportações de países como Bangladesh aumentaram e começam a chamar a atenção. O país se destaca pelo baixo custo para se construir e operar uma fábrica, tornando-o atrativo para empresas estrangeiras. Bangladesh, segundo a KPMG, é um dos únicos países capazes de alcançar o mesmo desempenho em exportação, sobretudo de têxteis, da China.
    População164 milhões de habitantes
    Idade (média)25 anos
    PIB (dólares)105,4 bilhões
    Acordos comerciaisÁsia-Pacífico, Sul da Ásia
    ExportaçõesUE (51,2%), EUA (25,7%), India (4%), Canada (3,5%), China (1,7%)
  • 3. Camboja

    3 /11(Wikimedia Commons)

  • Acordos comerciais importantes impulsionaram as exportações do Camboja para a União Europeia nos últimos anos. No país, a manufatura já corresponde a 15% do PIB. O Camboja tem diversos atrativos para empresas estrangeiras, mas um dos destaques é a idade média de sua população economicamente ativa, que é de 22 anos, 12 a menos do que na China.
    População14 milhões de habitantes
    Idade (média)22 anos
    PIB (dólares)11,4 bilhões
    Acordos comerciaisAustrália, Nova Zelândia, Índia, Japão, Coréia do Sul e China
    ExportaçõesEUA (45,2%), Hong Kong (19,3%), UE (17,4%), Canadá (6,7%), Vietnã (3,9%)
  • 4. Índia

    4 /11(Wikimedia Commons)

    A participação da Índia nas exportações mundiais vem crescendo desde 2009. O país concentra esforços na produção itens como os de vestuário, que são um dos destaques, e móveis. A Índia combina baixo custo de instalação de fábricas e média salarial inferior à da região a um abundante contingente de mão-de-obra.
    População1,1 bilhão de habitantes
    Idade (média)25 anos
    PIB (dólares)1,4 trilhão
    Acordos comerciaisSul da Ásia, Mercosul, Afeganistão, Butão, Chile, Coreia do Sul, Nepal, Cingapura e Sri Lanka
    ExportaçõesUE (20,5%), Emirados Árabes (14,4%), EUA (10,8%), China (5,9%), Hong Kong (4%)
  • 5. Indonésia

    5 /11(Wikimedia Commons)

    Além de Bangladesh, a Indonésia é o único outro país em condições de ter um desempenho nas exportações parecido com o Chinês, segundo o estudo da KPMG. A venda de calçados do país para o exterior subiu 42% em 2010, e este é apenas um dos exemplos. O país atrai empresas estrangeiras por ter mão de obra abundante e baixo custo, tanto de logística, quanto para instalar uma fábrica.
    População233 milhões de habitantes
    Idade (média)28 anos
    PIB (dólares)695 bilhões
    Acordos comerciaisSudeste asiático, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Japão, Coreia do Sul e China
    ExportaçõesJapão (15,9%), UE (11,7%), China (9,9%), EUA (9,3%), Cingapura (8,8%)
  • 6. Malásia

    6 /11(Wikimedia Commons)

    Mais de 25% do PIB da Malásia já corresponde à manufatura. O país, de acordo com o estudo da KPMG, tem fortes fatores competitivos na indústria têxtil. O principal deles é a mão de obra, “fortemente especializada”. Outro destaque do país é sua infraestrutura portuária. Um de seus portos para contêineres está entre os 50 melhores do mundo e compete com os da China.
    População28 milhões de habitantes
    Idade (média)26 anos
    PIB (dólares)219 bilhões
    Acordos comerciaisSudeste asiático, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Japão, Coreia do Sul e China
    ExportaçõesCingapura (14%), China (12,2%), EUA (11%), UE (10,9%), Japão (9,8%)
  • 7. Paquistão

    7 /11(Getty Images)

    Os custos da mão de obra são uma das boas razões para se investir em fábricas no Paquistão, segundo o estudo da KPMG. Além disso, o país tem a força de trabalho mais jovem da região: 21 anos, em média, 13 a menos do que na China. No Paquistão, 17% do PIB corresponde à manufatura.
    População173 milhões de habitantes
    Idade (média)21 anos
    PIB (dólares)174,8 bilhões
    Acordos comerciaisSul da Ásia, China, Irã, Malásia, Ilhas Maurício, Sri Lanka
    ExportaçõesUE (24,6%), EUA (18,3%), Emirados Árabes (8,8%), Afeganistão (7,8%), China (5,7%)
  • 8. Sri Lanka

    8 /11(Wikimedia Commons)

    O Sri Lanka já conta com importantes acordos comerciais para exportação. Atualmente, 36,9% de tudo que o país vende para fora vai para a União Europeia. Outros 23% vão para os Estados Unidos. O país conta com um importante porto para contêineres, o 29º maior do mundo, segundo o estudo da KPMG.
    População20 milhões de habitantes
    Idade (média)31 anos
    PIB (dólares)48,2 bilhões
    Acordos comerciaisSul da Ásia, Ásia-Pacífico, Índia, Paquistão
    ExportaçõesUnião Europeia (36,9%), EUA (23,1%), Índia (5,1%), Emirados Árabes (3,1%), Rússia (2,7%)
  • 9. Tailândia

    9 /11(Wikimedia Commons)

    A Tailândia se destaca, dentre outras áreas, pela produção de componentes de equipamentos eletrônicos para exportar à China. O país firmou tratados comerciais com países do sudeste asiático, China e Japão. E tem a União Europeia como principal destino de suas exportações (11,9%, segundo o estudo da KPMG).
    População68 milhões de habitantes
    Idade (média)33 anos
    PIB (dólares)312,6 bilhões
    Acordos comerciaisSudeste asiático, Austrália, China, Japão, Laos, Nova Zelândia, Coreia do Sul
    ExportaçõesUE (11,9%), EUA (10,9%), China (10,6%), Japão (10,3%), Hong Kong (6,2%)
  • 10. Filipinas

    10 /11(Wikimedia Commons)

    Países “mais jovens e baratos” como as Filipinas são bons para atrair investimentos, segundo aponta o relatório da consultoria KPMG. As ilhas têm importantes acordos comerciais com o sudeste da Ásia, além da Nova Zelândia, Austrália, Índia, Japão, Coreia do Sul e China. A União Europeia é o principal destino das exportações das Filipinas, ficando com 20,7% do que é vendido ao exterior.
    População94 milhões de habitantes
    Idade (média)23 anos
    PIB (dólares)189,1 bilhões
    Acordos comerciaisSudeste asiático, Austrália, China, Japão, Nova Zelândia, Coreia do Sul
    ExportaçõesUE (20,7%), EUA (17,7%), Japão (16,2%), Hong Kong (8,4%), China (7,6%)
  • 11. Vietnã

    11 /11(Wikimedia Commons)

    O Vietnã é um dos principais países produtores de calçados da região. O país tem ainda uma das mais baratas forças de trabalho, assim como baixos custos para instalação de fábricas. Além disso, a escala da produção vietnamita tem aumentado “dramaticamente”, segundo a KPMG, à medida que a infraestrutura do país se desenvolve rapidamente.
    População88 milhões de habitantes
    Idade (média)29 anos
    PIB (dólares)102 bilhões
    Acordos comerciaisSudeste asiático, Austrália, China, Japão, Nova Zelândia, Coreia do Sul
    ExportaçõesEUA (19%), UE (17,4%), Japão (13,5%), China (7,7%), Austrália (6,9%)
  • Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoPrivatização

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