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Crédito para as famílias supera pela primeira vez o de empresas

De um lado, estão empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito. Do outro, as inadimplentes, que não conseguem aprovação dos bancos

Crédito: empresas não estão mais procurando empréstimos e, quando procuram, são rejeitadas pelos bancos (Uelder Ferreira/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de março de 2017 às 07h51.

Última atualização em 1 de março de 2017 às 08h01.

São Paulo - Pela primeira vez na história, a participação das empresas na carteira de crédito do País ficou menor que o das famílias brasileiras.

A mudança no mix de empréstimos e financiamentos no sistema bancário foi provocada por dois fatores diferentes.

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De um lado, estão as empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito no mercado. Do outro, estão as companhias inadimplentes, que precisam se financiar - ou rolar dívidas - e não conseguem aprovação dos bancos.

Levantamento feito pelo pesquisador do Ibre/FGV e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público, José Roberto Afonso, com dados do Banco Central (BC), mostra que a inversão das posições ocorreu pela primeira vez em dezembro e se manteve em janeiro.

No último mês de janeiro, 50,93% da carteira total de crédito referia-se a empréstimos e financiamentos para pessoa física e 49,07%, para empresas. Em janeiro de 2016, esses porcentuais eram de 47,38% e 52,62%, respectivamente.

"Esse é um resultado muito estranho, fere a história e a lógica, já que o estoque de financiamentos para empresas nunca tinha sido superado pelo de pessoa física", destaca Afonso, atribuindo a mudança à pior recessão atravessada pelo País.

"O crédito para pessoa jurídica decresceu, literalmente derreteu, caindo muitos pontos do PIB em um período muito curto."

Em janeiro, o estoque total de crédito - para pessoa física e empresas - havia recuado para o menor nível desde abril de 2015. Mas para pessoa jurídica foi ainda pior: caiu para patamares de julho de 2014.

Enquanto isso, o estoque de crédito para as famílias brasileiras só aumentou - o que também não pode ser interpretado como uma boa notícia.

O economista Roberto Luis Troster explica que parte dessa alta é efeito da taxa de juros mais alta para o consumidor e também de uma estratégia usada por donos de empresas em dificuldades, que buscam crédito como pessoa física para usar nos negócios.

No mercado, a avaliação é de que, enquanto o governo não desatar o nó do crédito, a economia não vai se recuperar. "Não dá para pensar em retomada se a carteira de crédito para pessoa jurídica não voltar a crescer", afirma o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Ele destaca que 2016 bateu recorde de empresas negativadas (inadimplentes): 4,8 milhões. "Isso representa 50% de todas as empresas do País."

Para os economistas, o recuo da carteira de crédito revela a intensidade da crise. Alguns vão além e afirmam que explica até mesmo a baixa arrecadação tributária no último ano.

"Não pagar imposto é a forma mais rápida, fácil e, talvez, até barata de acesso a crédito no Brasil", afirma Afonso, responsável pelo levantamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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