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Corte ocorreu por questões fiscais, dizem analistas

Gustavo Loyola disse que rebaixamento sinaliza que sem medidas corretivas o País pode perder o grau de investimento

Gustavo Loyola: "foi menos mal, porque o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas" (José Cruz/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de março de 2014 às 21h00.

Ribeirão Preto, Rio e São Paulo - O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, afirmou nesta noite de segunda-feira, 24, ao Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, que o rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor's (S&P), anunciado hoje, sinaliza que sem medidas corretivas por parte do governo, principalmente na questão fiscal, o País pode perder o grau de investimento.

"Foi menos mal, porque o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas pelo governo, principalmente nas questões fiscal e de crescimento", disse. "Se governo não der sinais fortes de que está havendo uma correção de rumo, pode haver novo rebaixamento pela frente", completou.

Loyola considerou o anúncio da S&P já esperado e antecipado pelo mercado, mas avaliou a decisão como negativa, pois poderá afastar novos investimentos. "Os investidores tomam em consideração essa classificação de risco nas decisões", afirmou.

Para o ex-presidente do BC, a mudança na perspectiva do rating da dívida do Brasil de "negativa" para "estável", também anunciada pela S&P, tira o horizonte de um novo rebaixamento em 2014, mas não alivia a pressão sobre o País. "Antes de um possível novo rebaixamento, a S&P deverá observar o desenrolar da política econômica nos próximos meses e nas eleições. Mas não dá para ficar tranquilo, porque é difícil, mas não impossível, um novo rebaixamento sem mudança na perspectiva de rating", concluiu.

Alerta

Como a agência de risco S&P rebaixou a nota de crédito do Brasil para BBB- com perspectiva "estável", em vez de "negativa", a reação do mercado "pode não ser tão dura", afirmou hoje José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da gestora Opus. Ainda assim, uma depreciação no câmbio e uma elevação nos juros pagos pelas empresas brasileiras nos mercados internacionais deverão ocorrer. "Aumenta o mau humor", comentou José Márcio.

O fato de a nova nota ter perspectiva "estável" é importante porque evita a possibilidade de o Brasil perder o "grau de investimento" num prazo mais curto. "A perspectiva estável garante que haverá mais um alerta antes de perder o grau de investimento", disse José Márcio.


O economista se disse pouco surpreso com a decisão da S&P, dado que já considerava em suas projeções o rebaixamento. Os motivos também não são novidade. As incertezas sobre a política fiscal e os impactos da crise do setor elétrico nas contas públicas são os esperados destaques. Nesse quadro, o problema, segundo José Márcio, é que a meta de superávit primário de 1,9% do PIB, anunciada pelo governo, é muito difícil de ser atingida.

No caso dos efeitos sobre as empresas, o rebaixamento deverá elevar as taxas de juros no mercado internacional para todas as empresas. No entanto, a Petrobras tem um caso "muito específico", dada sua forte relação com o governo. "É muito possível que a Petrobras seja rebaixada", disse José Márcio.

Questão fiscal

Para o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, o rebaixamento do rating do Brasil pela agência de classificação de risco S&P é decorrência da questão fiscal brasileira. Segundo ele, a S&P via o Brasil com "uma situação estruturalmente mais desafiadora do ponto de vista das contas públicas".

Para Kawall, o cenário em que o Brasil cresce menos do que já cresceu, na faixa dos 2%, dificultou uma trajetória fiscal saudável, em função do aumento das despesas. "Isso coloca desafios para a trajetória, já que o País está crescendo menos de que crescia no governo Lula", citou. "Além disso, nos últimos anos tivemos sinalizações de menor comprometimento do governo no cumprimento da meta fiscal."

Apesar de o governo ter anunciado recentemente uma meta fiscal para 2014 considerada "factível" por alguns analistas, com membros da equipe econômica sinalizando maior comprometimento com as contas públicas, Kawall acredita que esta ação foi tardia e não mostrou, para a S&P, uma "mudança qualitativa de postura". "Entre os problemas que chamaram a atenção está também, sem dúvida, a questão do setor elétrico", acrescentou o economista.

No entanto, apesar de a S&P ter rebaixado o rating em moeda estrangeira de longo prazo do Brasil de BBB para BBB-, o País não perdeu o chamado "grau de investimento". Além disso, a perspectiva do rating do País passou de "negativa" para "estável", o que foi bem visto por Kawall. "A decisão tira a dúvida sobre se o downgrade poderia ocorrer com perspectiva negativa. Já sabemos que é estável e que, no curto prazo, não há risco", comentou.

Na prática, diz o economista, a tendência é de que não ocorra novo rebaixamento no curto prazo, o que mantém o Brasil na faixa de grau de investimento e, em tese, minimiza os efeitos negativos sobre o mercado financeiro. Ainda assim, Kawall prevê certo "mau humor" para os mercados amanhã.

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Ribeirão Preto, Rio e São Paulo - O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, afirmou nesta noite de segunda-feira, 24, ao Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, que o rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor's (S&P), anunciado hoje, sinaliza que sem medidas corretivas por parte do governo, principalmente na questão fiscal, o País pode perder o grau de investimento.

"Foi menos mal, porque o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas pelo governo, principalmente nas questões fiscal e de crescimento", disse. "Se governo não der sinais fortes de que está havendo uma correção de rumo, pode haver novo rebaixamento pela frente", completou.

Loyola considerou o anúncio da S&P já esperado e antecipado pelo mercado, mas avaliou a decisão como negativa, pois poderá afastar novos investimentos. "Os investidores tomam em consideração essa classificação de risco nas decisões", afirmou.

Para o ex-presidente do BC, a mudança na perspectiva do rating da dívida do Brasil de "negativa" para "estável", também anunciada pela S&P, tira o horizonte de um novo rebaixamento em 2014, mas não alivia a pressão sobre o País. "Antes de um possível novo rebaixamento, a S&P deverá observar o desenrolar da política econômica nos próximos meses e nas eleições. Mas não dá para ficar tranquilo, porque é difícil, mas não impossível, um novo rebaixamento sem mudança na perspectiva de rating", concluiu.

Alerta

Como a agência de risco S&P rebaixou a nota de crédito do Brasil para BBB- com perspectiva "estável", em vez de "negativa", a reação do mercado "pode não ser tão dura", afirmou hoje José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da gestora Opus. Ainda assim, uma depreciação no câmbio e uma elevação nos juros pagos pelas empresas brasileiras nos mercados internacionais deverão ocorrer. "Aumenta o mau humor", comentou José Márcio.

O fato de a nova nota ter perspectiva "estável" é importante porque evita a possibilidade de o Brasil perder o "grau de investimento" num prazo mais curto. "A perspectiva estável garante que haverá mais um alerta antes de perder o grau de investimento", disse José Márcio.


O economista se disse pouco surpreso com a decisão da S&P, dado que já considerava em suas projeções o rebaixamento. Os motivos também não são novidade. As incertezas sobre a política fiscal e os impactos da crise do setor elétrico nas contas públicas são os esperados destaques. Nesse quadro, o problema, segundo José Márcio, é que a meta de superávit primário de 1,9% do PIB, anunciada pelo governo, é muito difícil de ser atingida.

No caso dos efeitos sobre as empresas, o rebaixamento deverá elevar as taxas de juros no mercado internacional para todas as empresas. No entanto, a Petrobras tem um caso "muito específico", dada sua forte relação com o governo. "É muito possível que a Petrobras seja rebaixada", disse José Márcio.

Questão fiscal

Para o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, o rebaixamento do rating do Brasil pela agência de classificação de risco S&P é decorrência da questão fiscal brasileira. Segundo ele, a S&P via o Brasil com "uma situação estruturalmente mais desafiadora do ponto de vista das contas públicas".

Para Kawall, o cenário em que o Brasil cresce menos do que já cresceu, na faixa dos 2%, dificultou uma trajetória fiscal saudável, em função do aumento das despesas. "Isso coloca desafios para a trajetória, já que o País está crescendo menos de que crescia no governo Lula", citou. "Além disso, nos últimos anos tivemos sinalizações de menor comprometimento do governo no cumprimento da meta fiscal."

Apesar de o governo ter anunciado recentemente uma meta fiscal para 2014 considerada "factível" por alguns analistas, com membros da equipe econômica sinalizando maior comprometimento com as contas públicas, Kawall acredita que esta ação foi tardia e não mostrou, para a S&P, uma "mudança qualitativa de postura". "Entre os problemas que chamaram a atenção está também, sem dúvida, a questão do setor elétrico", acrescentou o economista.

No entanto, apesar de a S&P ter rebaixado o rating em moeda estrangeira de longo prazo do Brasil de BBB para BBB-, o País não perdeu o chamado "grau de investimento". Além disso, a perspectiva do rating do País passou de "negativa" para "estável", o que foi bem visto por Kawall. "A decisão tira a dúvida sobre se o downgrade poderia ocorrer com perspectiva negativa. Já sabemos que é estável e que, no curto prazo, não há risco", comentou.

Na prática, diz o economista, a tendência é de que não ocorra novo rebaixamento no curto prazo, o que mantém o Brasil na faixa de grau de investimento e, em tese, minimiza os efeitos negativos sobre o mercado financeiro. Ainda assim, Kawall prevê certo "mau humor" para os mercados amanhã.

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