Com crime e em crise, México faz reformas para vencer o medo
Assim como o Brasil, México era um queridinho dos investidores que viu seu crescimento minguar; agora, o governo se mexe enquanto a violência assombra o país
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de junho de 2014 às 14h27.
São Paulo – O Brasil pisa hoje no gramado da Arena Castelão, em Fortaleza, para enfrentar o México , outro gigante econômico com quem compartilha muitos dilemas ( e uma forte relação comercial ).
Algum tempo atrás, o banco Nomura disse que a economia mexicana poderia passar a brasileira e se tornar a segunda maior da América Latina já em 2022. Mas, assim como nós, o México também foi rapidamente da euforia à frustração.
Depois de um crescimento respeitável na década passada (tirando um duro 2009 pós-crise), o país começou a ver seu otimismo encolher a cada novo relatório.
Em 2013, o PIB cresceu só 1,1%. Para este ano, a projeção já caiu de 3,9% para 2,7%.
O presidente atual é Enrique Pena Nieto, do PRI (Partido Revolucionário Institucional), partido que governou o México por toda sua história moderna, com exceção do período entre 2000 e 2006.
Ele assumiu no começo do ano passado com um pacto com a oposição para levar adiante uma agenda ambiciosa de reformas.
Reformas
No setor de energia, foi permitida a entrada de capital privado nacional e estrangeiro, dando fim a um monopólio estatal que já durava 75 anos.
Na telecomunicações, as regras das privatizações dos anos 90 foram atualizadas para reduzir tarifas, compartilhar redes e impedir que nenhuma empresa tenha mais da metade do mercado.
Carlos Slim , segundo homem mais rico do mundo, será atingido em cheio: sua América Móvil tem 70% do mercado de telefonia móvel e 80% do de telefonia fixa do país.
Uma reforma fiscal trouxe folga nas receitas ao aumentar impostos sobre refrigerantes, mineradoras e os mais ricos (o país tem uma das menores cargas tributárias da América Latina: 19%, contra 36% no Brasil).
Ao contrário daqui, onde a inflação está no teto da meta e não há espaço para mais gastos, o México pôde reagir ao pessimismo com cortes de juros e novos gastos.
O mercado está gostando. A Moody’s aumentou a nota da dívida do país pouco mais de um mês antes da Standard & Poor’s ter rebaixado a brasileira.
EUA e a violência
Para o bem ou para o mal, a economia mexicana é uma das mais abertas do mundo emergente e acaba dependendo principalmente dos humores do seu vizinho de cima.
Hoje, 20 anos depois da criação do NAFTA, os Estados Unidos compram 77% das exportações mexicanas - e o que foi maldição durante a crise de 2008 deve voltar a se tornar vantagem com a recuperação americana.
A maior ameaça para os mexicanos continua sendo mesmo é a escalada da violência. Enquanto a Colômbia colhe os frutos de combater (e agora negociar) com as Farc, a estratégia mexicana de colocar o exército para sufocar os cartéis não impediu o aumento dos assassinatos.
A violência relacionada ao tráfico matou 60 mil mexicanos entre 2006 e 2012, de acordo com a Human Rights Watch. Só em 2011, o crime custou cerca de US$ 16,5 bilhões ao país, o equivalente a 1,38% do PIB, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Informática.