Cenário econômico preocupa, mas não contempla impeachment
Maioria das instituições financeiras do país ainda não prevê uma eventual ruptura política
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2015 às 12h31.
São Paulo - A deterioração ainda maior e rápida do ambiente político está preocupando economistas , mas no cenário básico da maioria das instituições financeiras ainda não está prevista uma eventual ruptura política, como impeachment ou renúncia da presidente Dilma Rousseff.
A própria velocidade do processo de piora da governabilidade dificulta a inserção dessa possibilidade nas análises e estimativas. Apesar de afirmarem que alguns eventos apontam nessa direção, os analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, não veem um rompimento no curto prazo.
O sentimento de agravamento foi percebido na semana passada no mercado, depois de declarações do vice-presidente, Michel Temer, e de dois partidos da base aliada do governo Dilma (PDT e PTB) anunciarem que não mais vão acompanhar o governo automaticamente nas votações.
"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País", disse Temer.
"O Temer já está convocando a Nação à unidade, mas até mesmo pela velocidade do processo de deterioração do cenário político não sei lidar com isso", admitiu o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o economista e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman. Ele diz não ter imputado ainda uma ruptura política no seu cenário básico pelo simples fato de não saber como fazer essa incorporação.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a indicação de que o mercado está aguardando ainda para agosto um evento político de grande monta é a subida da parte longa da curva de juros.
"Não dá para falar em impeachment, mas estou muito preocupado com os desdobramentos políticos sobre a economia no curto prazo", disse o economista.
O analista-chefe da CM Capital Markets, Marco Aurélio Barbosa, discorda. Na sua avaliação, o risco de mudanças drásticas no cenário político brasileiro não está precificado nos ativos e a pressão atual está mais associada à chance de perda do grau de investimento.
"O governo deve conseguir contornar a atual crise, mas com um custo muito maior, inclusive do ponto de vista fiscal", ponderou. Barbosa estima que a valorização do dólar ante o real pode afastar um pouco o risco fiscal nos próximos meses por contribuir para a geração de superávit comercial.
O diretor para mercados emergentes do Eurasia Group, Christopher Garman, concorda com Barbosa sobre a atenção do mercado estar voltada para o risco de rebaixamento.
Ainda assim, avalia que um certo grau da instabilidade política e dos desdobramentos do ajuste fiscal no Congresso começam a ser incorporados nos preços dos ativos. "Acho que o mercado ainda não se deu conta plenamente do que está em jogo. Não é perder grau de investimento. É muito mais que isso", afirmou.
No cenário atual da Eurasia está embutido 30% de chance de impeachment e 15% de chance de a presidente terminar o segundo mandato em meio a uma crise de governabilidade e desarranjo fiscal "mais sério".
O porcentual maior, de 55% ainda é atribuído à possibilidade de a presidente Dilma terminar seu mandato em 2018 tendo reveses parciais nos próximos seis meses, com a crise se aprofundando, mas sem espaço para impeachment.
O cientista político baseado em Washington avalia que alguns subestimam os riscos ao considerar que a saída de Dilma da Presidência estancaria a crise econômica. "Um processo que levaria ao impeachment é extremamente doloroso, com forte polarização política e pode não ser rápido", ponderou.
"O efeito da crise política na economia é dramático pela incapacidade do governo controlar a base aliada e pela perda de credibilidade do gestor econômico", acrescentou o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud.
"Já estou considerando a ruptura no meu cenário principalmente depois da pesquisa de avaliação do governo mostrando que 71% da população reprovam a presidente e que 66% querem a sua saída", disse.
Na Tendências Consultoria Integrada, o cenário base não contempla qualquer chance de impeachment da presidente Dilma. Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria, reconhece que o risco de uma ruptura política tem aumentado, mas não a ponto de se tornar o quadro mais provável.
Ainda assim, adiantou que a consultoria está construindo um cenário alternativo a ser anunciado na próxima semana e que pode trazer um risco de até 30% de impedimento.
Ruptura
Os analistas econômicos avaliam que no caso de uma ruptura política realmente se concretizar as incertezas sobre os rumos do País seriam tão grandes que o dólar subiria a R$ 4,00, patamar atingido em 2002, às vésperas da primeira eleição do ex-presidente Lula.
"Hoje, o dólar a R$ 3,50 está barato", comentou um profissional de uma instituição global, acrescentando que "a agenda negativa tomou conta do parlamento, a perda do grau de investimento pode ocorrer ainda neste ano".
Gestores internacionais destacaram também ao Broadcast que a popularidade em um dígito da presidente Dilma não ajuda e acreditam que as forças da oposição aproveitam esse momento para tentar enfraquecê-la ainda mais no Congresso.
Por isso mesmo, avaliam que a reprovação das contas do Poder Executivo de 2014 pode ser um motivo para retirar a presidente do Palácio do Planalto.
"Uma queda de presidente eleita é um evento muito forte e seria muito mal interpretado por investidores estrangeiros e nacionais", comentou a fonte.
Uma pergunta que todos se fazem é sobre a formação de um novo governo, em caso de uma eventual saída de Dilma. "Quem seria o ministro da Fazenda, Joaquim Levy?", questionou uma fonte. "E se mudar o ministro, qual será a nova equipe econômica?
São Paulo - A deterioração ainda maior e rápida do ambiente político está preocupando economistas , mas no cenário básico da maioria das instituições financeiras ainda não está prevista uma eventual ruptura política, como impeachment ou renúncia da presidente Dilma Rousseff.
A própria velocidade do processo de piora da governabilidade dificulta a inserção dessa possibilidade nas análises e estimativas. Apesar de afirmarem que alguns eventos apontam nessa direção, os analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, não veem um rompimento no curto prazo.
O sentimento de agravamento foi percebido na semana passada no mercado, depois de declarações do vice-presidente, Michel Temer, e de dois partidos da base aliada do governo Dilma (PDT e PTB) anunciarem que não mais vão acompanhar o governo automaticamente nas votações.
"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País", disse Temer.
"O Temer já está convocando a Nação à unidade, mas até mesmo pela velocidade do processo de deterioração do cenário político não sei lidar com isso", admitiu o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o economista e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman. Ele diz não ter imputado ainda uma ruptura política no seu cenário básico pelo simples fato de não saber como fazer essa incorporação.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a indicação de que o mercado está aguardando ainda para agosto um evento político de grande monta é a subida da parte longa da curva de juros.
"Não dá para falar em impeachment, mas estou muito preocupado com os desdobramentos políticos sobre a economia no curto prazo", disse o economista.
O analista-chefe da CM Capital Markets, Marco Aurélio Barbosa, discorda. Na sua avaliação, o risco de mudanças drásticas no cenário político brasileiro não está precificado nos ativos e a pressão atual está mais associada à chance de perda do grau de investimento.
"O governo deve conseguir contornar a atual crise, mas com um custo muito maior, inclusive do ponto de vista fiscal", ponderou. Barbosa estima que a valorização do dólar ante o real pode afastar um pouco o risco fiscal nos próximos meses por contribuir para a geração de superávit comercial.
O diretor para mercados emergentes do Eurasia Group, Christopher Garman, concorda com Barbosa sobre a atenção do mercado estar voltada para o risco de rebaixamento.
Ainda assim, avalia que um certo grau da instabilidade política e dos desdobramentos do ajuste fiscal no Congresso começam a ser incorporados nos preços dos ativos. "Acho que o mercado ainda não se deu conta plenamente do que está em jogo. Não é perder grau de investimento. É muito mais que isso", afirmou.
No cenário atual da Eurasia está embutido 30% de chance de impeachment e 15% de chance de a presidente terminar o segundo mandato em meio a uma crise de governabilidade e desarranjo fiscal "mais sério".
O porcentual maior, de 55% ainda é atribuído à possibilidade de a presidente Dilma terminar seu mandato em 2018 tendo reveses parciais nos próximos seis meses, com a crise se aprofundando, mas sem espaço para impeachment.
O cientista político baseado em Washington avalia que alguns subestimam os riscos ao considerar que a saída de Dilma da Presidência estancaria a crise econômica. "Um processo que levaria ao impeachment é extremamente doloroso, com forte polarização política e pode não ser rápido", ponderou.
"O efeito da crise política na economia é dramático pela incapacidade do governo controlar a base aliada e pela perda de credibilidade do gestor econômico", acrescentou o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud.
"Já estou considerando a ruptura no meu cenário principalmente depois da pesquisa de avaliação do governo mostrando que 71% da população reprovam a presidente e que 66% querem a sua saída", disse.
Na Tendências Consultoria Integrada, o cenário base não contempla qualquer chance de impeachment da presidente Dilma. Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria, reconhece que o risco de uma ruptura política tem aumentado, mas não a ponto de se tornar o quadro mais provável.
Ainda assim, adiantou que a consultoria está construindo um cenário alternativo a ser anunciado na próxima semana e que pode trazer um risco de até 30% de impedimento.
Ruptura
Os analistas econômicos avaliam que no caso de uma ruptura política realmente se concretizar as incertezas sobre os rumos do País seriam tão grandes que o dólar subiria a R$ 4,00, patamar atingido em 2002, às vésperas da primeira eleição do ex-presidente Lula.
"Hoje, o dólar a R$ 3,50 está barato", comentou um profissional de uma instituição global, acrescentando que "a agenda negativa tomou conta do parlamento, a perda do grau de investimento pode ocorrer ainda neste ano".
Gestores internacionais destacaram também ao Broadcast que a popularidade em um dígito da presidente Dilma não ajuda e acreditam que as forças da oposição aproveitam esse momento para tentar enfraquecê-la ainda mais no Congresso.
Por isso mesmo, avaliam que a reprovação das contas do Poder Executivo de 2014 pode ser um motivo para retirar a presidente do Palácio do Planalto.
"Uma queda de presidente eleita é um evento muito forte e seria muito mal interpretado por investidores estrangeiros e nacionais", comentou a fonte.
Uma pergunta que todos se fazem é sobre a formação de um novo governo, em caso de uma eventual saída de Dilma. "Quem seria o ministro da Fazenda, Joaquim Levy?", questionou uma fonte. "E se mudar o ministro, qual será a nova equipe econômica?