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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode até sobreviver à crise política que paralisa seu governo há cerca de três meses. Pode inclusive se reeleger para um novo mandato presidencial em 2006, já que sua popularidade ainda se mantém alta, sobretudo entre os mais pobres. Mas, para o jornal britânico Financial Times, o desgaste gerado pela crise é tamanho, que já se pode questionar a capacidade de Lula manter a governabilidade do país.
"O presidente [Lula] pode sobreviver à crise e poderia, inclusive, ser reeleito, mas sua capacidade de governar foi minada. Essa é uma perspectiva preocupante para o país e também deveria ser considerado pelos fundos internacionais", afirma o jornal, em editorial publicado nesta terça-feira (23/8).
Para o FT, a volatilidade do mercado financeiro do Brasil já reflete a apreensão dos investidores, mas o foco das análises ainda se concentra no curto prazo e gira mais em torno de nomes que de fundamentos.
O primeiro ponto que compromete a governabilidade, segundo o FT, é a queda da antiga cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT). A renúncia e o afastamento de aliados históricos de Lula, como o ex-presidente do partido, José Genoíno, e do ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, dão cada vez mais espaço para as facções radicais do partido. Fortalecidos, esses grupos pressionam o presidente a mudar sua política econômica principal pilar de sustentação de Lula neste momento e ameaçam se rebelar, caso não sejam atendidos.
Além disso, as alianças entre o PT e legendas de centro-direita, montadas pelos antigos dirigentes do partido, também implodiram diante das denúncias de compra de deputados, pagamento de mesadas a parlamentares, e financiamentos irregulares de campanhas eleitorais. "Isso tornou muito difícil a formação de uma maioria no Congresso", afirma o FT.
Por fim, Senado e Câmara estão praticamente paralisados desde o início das investigações, que envolvem três comissões parlamentares de inquérito a dos Bingos, a do Mensalão e a dos Correios. O governo Lula não tem condições, neste momento, de tocar qualquer agenda de votações, mesmo que modesta. "Os gestores de fundos internacionais deveriam se preocupar com o impacto da crise, no longo prazo, sobre a governabilidade do país", afirma o jornal.