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Câmbio: flutuar ou não flutuar?

Desde janeiro de 1999, quando o governo brasileiro abandonou o regime de câmbio fixo e deixou o real flutuar, uma questão tem dividido os economistas brasileiros: o Banco Central tem de interferir nas oscilações do real ou elas devem ser deixadas a cargo do mercado? Os adeptos do primeiro grupo dizem que o excesso de […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.

Desde janeiro de 1999, quando o governo brasileiro abandonou o regime de câmbio fixo e deixou o real flutuar, uma questão tem dividido os economistas brasileiros: o Banco Central tem de interferir nas oscilações do real ou elas devem ser deixadas a cargo do mercado? Os adeptos do primeiro grupo dizem que o excesso de flutuação desorganiza a economia e citam a própria experiência recente do Brasil só no último ano o dólar variou entre 2,3 e 4 reais. Já os economistas do segundo grupo acham que deve prevalecer a lei da oferta e da procura, sem interferência da autoridade monetária. Afinal, dizem, num regime de câmbio flutuante, o câmbio flutua.

Um recente estudo ( Living with Flexible Exchange Rates ), do Banco Internacional de Compensações (BIS, da sigla em inglês) deu um argumento extra para o primeiro grupo os defensores da chamada flutuação suja . Segundo os pesquisadores Corrinne Ho e Robert McCauley, os governos de países emergentes têm razões de sobra para se preocupar com variações excessivas da taxa de câmbio. E devem tomar medidas concretas para atenuá-las.

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O ponto de partida do estudo é a constatação de que economias emergentes sofrem muito mais que o mundo rico com mudanças bruscas na taxa de câmbio. A principal explicação é que os preços domésticos são muito mais afetados nesses países e, portanto, fortes desvalorizações tendem a produzir uma taxa de inflação muito maior no mundo emergente. Em linguagem técnica, há uma brutal diferença no chamado pass-through (ou seja, a intensidade com que uma mudança no câmbio afeta a inflação).

No caso brasileiro, a proporção com que variações de preço são explicadas por mudanças no câmbio é de 39%, contra apenas 2% para os Estados Unidos. Isso ilustra bem como faz muita diferença deixar uma moeda flutuar muito num ou noutro país. O pass-through é particularmente alto em casos de países, como o Brasil, com histórico de inflação muito elevada.

Outra característica marcante de boa parte dos países emergentes é a dependência do fluxo de dinheiro externo. Como não podem emitir dólares e muitos deles têm vencimentos a pagar em moeda forte, alterações nos mercados financeiros internacionais mexem muito com as economias. Todos ganhariam se conseguissem se tornar menos dependentes, dizem os autores, mas o problema é que isso não muda da noite para o dia. No curto prazo, portanto, o melhor mesmo é procurar evitar flutuações bruscas na moeda e os bancos centrais devem atuar nos mercados com esse intuito. Em casos extremos, até mesmo os polêmicos controles de capitais poderiam ser usados.

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