Inflação e dólar ganharam uma aliada - a Lava Jato
Com as investigações ampliando o risco de impeachment da presidente Dilma, o dólar e os juros - vilões da inflação - começam a dar trégua.
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2016 às 18h35.
São Paulo - A luta do Banco Central para derrubar a inflação pode ganhar um aliado inesperado: a operação Lava Jato . Com as investigações ampliando o risco de impeachment da presidente Dilma , o dólar saiu do patamar de R$ 4,00 para testar nível menor que R$ 3,70 em menos de duas semanas. Mantido este cenário, sai de cena um dos vilões da inflação de dois dígitos de 2015, quando o real se desvalorizou 33%.
Aumentou a chance de um "cenário alternativo" em que o BC poderia cortar a Selic entre o 2º e o 3º trimestres deste ano, diz Leonardo Sapienza, economista-chefe do Banco Votorantim, que lidera a equipe que teve o melhor desempenho nas estimativas de inflação em 2015 entre os analistas pesquisados pela Bloomberg.
Um câmbio mais comportado, também favorecido pelo cenário externo de liquidez abundante, poderia ajudar a "abrir uma janela de oportunidades" para o BC, diz Sapienza. Para o economista, a queda recente do dólar reflete a esperança de uma "aceleração do desfecho da crise política", que recoloque na mesa a discussão sobre reformas.
No mercado de DI futuro, mesmo com o BC mantendo a sinalização de juro estável, as apostas já apontam para a possibilidade de cortes nos próximos meses. “Uma queda maior do dólar pode melhorar as expectativas de inflação e isso pode levar o mercado a continuar precificando cortes da Selic”, diz Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset Gestão de Recursos.
Independentemente do dólar e da questão política, Sapienza, do Votorantim, vê um desenvolvimento mais positivo para cenário da inflação, como já mostra o IPCA de fevereiro. O índice ainda veio alto, em 0,90%, mas ficou abaixo da mediana das estimativas, de 0,98%, e do índice de 1,27% de janeiro. O mais importante, segundo o economista, é que pode ser um sinal de que o pior passou em termos de inflação.
O IPCA começa a mostrar uma "descompressão" em itens que vinham pressionando a inflação, como alimentos. Outro exemplo positivo vem da energia, que subiu 51% em 2015 e, segundo estima o economista do Votorantim, deve ter alta de apenas 4% este ano com a mudança de bandeiras. Mesmo os preços de serviços, que ainda sobem bastante devido à resistência dos salários nominais, devem desacelerar devido à recessão, diz Sapienza.
A não ser que o cenário alternativo que contempla desfecho rápido da crise se confirme, o sinal ainda não está verde para o BC cortar juros, diz Sapienza. Seu cenário básico ainda é de juro estável em 14,25% ao longo do ano. Ele observa que persistem muitos fatores de incerteza, sobretudo na área fiscal. Sem a CPMF, por exemplo, o governo pode ter de recorrer ao aumento da Cide, o imposto dos combustíveis, o que poderia trazer pressão inflacionária adicional, diz o economista.
Sapienza observa que a inflação, mesmo recuando, ainda deve permanecer em 6% em 2017. Seria bem menos do que os dois dígitos atuais, mas ainda no teto da meta, que será reduzido no ano que vem com a mudança do intervalo de 2 pontos percentuais para 1,5 ponto. Cumprir o mandato de convergir a inflação para a meta continua "desafiador", diz o economista.
Monoli, da Jive, observa que notícia publicada hoje no Valor, de que alguns diretores do BC já estariam estudando um corte da Selic, afetou os contratos de juros futuros (DI) logo na abertura. Mas a queda das taxas também acompanha o recuo forte do dólar. Para Monoli, quanto mais os astros continuarem se alinhando para um mudança de governo, mais os investidores vão se posicionar para um dólar mais baixo. A economia está em situação caótica, mas o mercado está vendo uma "luz no fim do túnel", diz o diretor.
--Com a colaboração de Marisa Castellani, Peter Millard e Paula Sambo.
São Paulo - A luta do Banco Central para derrubar a inflação pode ganhar um aliado inesperado: a operação Lava Jato . Com as investigações ampliando o risco de impeachment da presidente Dilma , o dólar saiu do patamar de R$ 4,00 para testar nível menor que R$ 3,70 em menos de duas semanas. Mantido este cenário, sai de cena um dos vilões da inflação de dois dígitos de 2015, quando o real se desvalorizou 33%.
Aumentou a chance de um "cenário alternativo" em que o BC poderia cortar a Selic entre o 2º e o 3º trimestres deste ano, diz Leonardo Sapienza, economista-chefe do Banco Votorantim, que lidera a equipe que teve o melhor desempenho nas estimativas de inflação em 2015 entre os analistas pesquisados pela Bloomberg.
Um câmbio mais comportado, também favorecido pelo cenário externo de liquidez abundante, poderia ajudar a "abrir uma janela de oportunidades" para o BC, diz Sapienza. Para o economista, a queda recente do dólar reflete a esperança de uma "aceleração do desfecho da crise política", que recoloque na mesa a discussão sobre reformas.
No mercado de DI futuro, mesmo com o BC mantendo a sinalização de juro estável, as apostas já apontam para a possibilidade de cortes nos próximos meses. “Uma queda maior do dólar pode melhorar as expectativas de inflação e isso pode levar o mercado a continuar precificando cortes da Selic”, diz Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset Gestão de Recursos.
Independentemente do dólar e da questão política, Sapienza, do Votorantim, vê um desenvolvimento mais positivo para cenário da inflação, como já mostra o IPCA de fevereiro. O índice ainda veio alto, em 0,90%, mas ficou abaixo da mediana das estimativas, de 0,98%, e do índice de 1,27% de janeiro. O mais importante, segundo o economista, é que pode ser um sinal de que o pior passou em termos de inflação.
O IPCA começa a mostrar uma "descompressão" em itens que vinham pressionando a inflação, como alimentos. Outro exemplo positivo vem da energia, que subiu 51% em 2015 e, segundo estima o economista do Votorantim, deve ter alta de apenas 4% este ano com a mudança de bandeiras. Mesmo os preços de serviços, que ainda sobem bastante devido à resistência dos salários nominais, devem desacelerar devido à recessão, diz Sapienza.
A não ser que o cenário alternativo que contempla desfecho rápido da crise se confirme, o sinal ainda não está verde para o BC cortar juros, diz Sapienza. Seu cenário básico ainda é de juro estável em 14,25% ao longo do ano. Ele observa que persistem muitos fatores de incerteza, sobretudo na área fiscal. Sem a CPMF, por exemplo, o governo pode ter de recorrer ao aumento da Cide, o imposto dos combustíveis, o que poderia trazer pressão inflacionária adicional, diz o economista.
Sapienza observa que a inflação, mesmo recuando, ainda deve permanecer em 6% em 2017. Seria bem menos do que os dois dígitos atuais, mas ainda no teto da meta, que será reduzido no ano que vem com a mudança do intervalo de 2 pontos percentuais para 1,5 ponto. Cumprir o mandato de convergir a inflação para a meta continua "desafiador", diz o economista.
Monoli, da Jive, observa que notícia publicada hoje no Valor, de que alguns diretores do BC já estariam estudando um corte da Selic, afetou os contratos de juros futuros (DI) logo na abertura. Mas a queda das taxas também acompanha o recuo forte do dólar. Para Monoli, quanto mais os astros continuarem se alinhando para um mudança de governo, mais os investidores vão se posicionar para um dólar mais baixo. A economia está em situação caótica, mas o mercado está vendo uma "luz no fim do túnel", diz o diretor.
--Com a colaboração de Marisa Castellani, Peter Millard e Paula Sambo.