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Brasil ainda é muito vulnerável para atingir investment grade

Apesar dos recentes avanços, perfil da dívida pública pesa contra a elevação da nota do país pelas agências de classificação de risco

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

A recente promoção da Rússia à categoria de grau de investimento (investment grade) pela Standard&Poors reacendeu a discussão sobre o que falta para o Brasil obter a mesma nota das agências internacionais de classificação de risco. Afinal, a Rússia é reconhecida mundialmente pela corrupção que permeia o governo, decretou uma moratória em 1998 e é dirigida por um presidente que não hesita em perseguir empresários que tentem se opor politicamente. Enquanto isso, o Brasil vem melhorando seu desempenho e, mesmo sendo a maior economia da América do Sul, ainda é visto com mais reservas pelas agências de risco do que vizinhos como a Colômbia, que convive com guerrilheiros e o narcotráfico.

Na avaliação dos economistas, o tamanho da dívida brasileira atrapalha muito a elevação da nota do país. O Brasil encerrou 2004 com uma relação dívida/PIB de 51,81%, após bater em 57,18% em 2003. Apesar de positivo, o resultado ainda é insuficiente diante de outros países emergentes. Na Rússia, a relação dívida/PIB baixou de 61,2%, em 2000, para 34,8% em 2003. O saldo das transações correntes russo foi equivalente a 9,2% do PIB no ano passado. Enquanto isso, o Brasil obteve 1,94%, equivalente a 11,7 bilhões de dólares e recorde para o país (veja gráfico abaixo).

"O Brasil melhorou, mas ainda estamos longe dos países que obtiveram o investment grade", afirma a analista de mercado Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. É verdade que a Rússia conta com um trunfo importante: o país é o segundo maior produtor mundial de petróleo, atrás apenas da Arábia Saudita. As receitas geradas pela exportação de óleo cru são a principal arma do presidente Vladimir Putin para colocar as contas públicas em dia e reduzir a exposição do país a crises externas. Em 2000, as reservas internacionais da Rússia eram de 24,2 bilhões de dólares. Três anos depois, haviam batido em 73,1 bilhões. No Brasil, as reservas abriram fevereiro em 54,231 bilhões.

Perfil desfavorável

Não é apenas o tamanho da dívida pública que atrapalha o país, mas também o seu perfil. "Há um excesso de papéis pós-fixados", afirma o economista Fábio Akira, do banco JP Morgan. Akira observa que o perfil está melhorando, mas ainda está longe do ideal. O Brasil encerrou 2004 com uma dívida pública federal de 811,97 bilhões de reais, contra 731,43 bilhões em dezembro do ano retrasado.

A parcela da dívida vinculada a taxas prefixadas, após swap, cresceu de 12,51% para 20,04% do total no mesmo período. O problema é que a fatia da dívida atrelada à taxa básica de juros (Selic) continua crescendo. Em dezembro, ela representou 52,51% do total, contra 50,08% 12 meses antes. Segundo Akira, o problema é que essa vinculação a taxas pós-fixadas reduz a margem de manobra do governo para implementar, por exemplo, sua política monetária. Cada vez que os juros sobem para conter a inflação, a dívida pública aumenta por ser remunerada pela Selic.

A concentração dos papéis no curto prazo é outro ponto negativo. Para se ter uma idéia, 46,2% da dívida federal, equivalente a 375,04 bilhões de reais, vencerão neste ano. Nesse bojo, estão 90% dos títulos prefixados (146,98 bilhões). "Ainda é preciso alongar os prazos de vencimento dos papéis", afirma Akira.

Vulnerabilidade externa

Não bastasse fazer a lição de casa, o Brasil também deverá driblar eventuais crises internacionais. A vulnerabilidade externa, aliás, é o terceiro fator que impede o país de obter uma nota melhor das agências de risco. "A principal ameaça de 2005 para a América Latina é uma aguda e desordenada desvalorização do dólar, que cause aversão ao risco e redução das posições dos investidores em papéis de países emergentes", afirma Roger Scher, diretor-gerente da área de Riscos Soberanos da Fitch Ratings.

Para Scher, a melhor forma de isolar a região de choques internacionais é redobrar os esforços dos governos locais para a geração de maiores superávits primários, redução dos déficits com previdência social e elevação da poupança interna. Em setembro do ano passado, a Fitch elevou a nota do Brasil para BB- (grau especulativo de investimento), após tê-la rebaixado para B em outubro de 2002, por conta das incertezas sobre a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

O Brasil foi um dos cinco países emergentes que tiveram as notas elevadas pela Fitch em 2004. O Peru (BB) foi o único a ganhar uma classificação melhor que a brasileira. Os demais países -- Venezuela (B+), Uruguai (B) e Equador (B-) -- obtiveram notas inferiores.

Russos estão em vantagem

Indicador
Brasil
Rússia
Relação dívida/PIB
51,81%
34,8%*
Reservas internacionais
US$ 52,93 bilhões
US$ 73,1 bilhões*
Saldo em conta corrente
1,94% do PIB
9,2% do PIB
*dados de 2003
Fonte: Tendências Consultoria e Banco Central do Brasil
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