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Bolsonaro trará 'nova dicotomia', diz economista de Meirelles

José Márcio Camargo diz que “governo liberal na economia e conservador nos costumes seria o oposto da história moderna do país"

Para Camargo, o ideal é o governo Temer aprovar a reforma da Previdência (Roque de Sá/Agência Senado)
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Clara Cerioni

Publicado em 10 de outubro de 2018 às 14h39.

O Brasil poderá testar uma “nova dicotomia”, com um governo claramente conservador em termos de costumes e liberal na economia, caso Jair Bolsonaro, do PSL, vença as eleições e Paulo Guedes consiga implementar suas propostas, diz o economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, do grupo Brasil Plural.

“Um governo liberal na economia e conservador nos costumes seria o oposto da história moderna do país, em que tivemos governos mais estatistas na economia e liberais nos costumes”, disse Camargo, que foi assessor econômico do candidato derrotado a presidente Henrique Meirelles. “Vai ser importante para a democracia brasileira. Esta eleição mostrou que há um grupo de brasileiros que está disposto a testar outra dicotomia.”

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Camargo tem expectativa positiva para uma eventual gestão de Paulo Guedes - que foi seu amigo na juventude - no comando da economia, caso Bolsonaro vença as eleições. Se Guedes conseguir implementar as medidas liberalizantes que propõe e se riscos externos como o da guerra comercial não atrapalharem, país terá um “resultado muito bom”, com volta do crescimento e investimentos e inflação baixa, disse o economista da Genial, em entrevista à Bloomberg por telefone.

Apesar das notícias desta quarta-feira sobre possibilidade de a reforma da Previdência ficar para o próximo governo, Camargo considera que o ideal seria aprovar já a proposta do presidente Michel Temer que está na Câmara. “Depois faz outra, se for possível, mas seria um ganho monumental começar o próximo governo com esta reforma aprovada.” O economista não descarta que a medida passe ainda em 2018, após as eleições, pois o governo atual quer deixar a reforma como seu legado. “O Temer está louco para aprovar já.”

Sobre a proposta de Guedes de fazer uma privatização acelerada, que poderia atingir R$ 1 trilhão em ativos, segundo a revista Veja, Camargo disse que é difícil projetar o valor a ser arrecadado, pois ele depende do nível das ações na bolsa quando os leilões forem feitos. Além disso, o economista pondera que o número não se refere apenas a estatais, mas também a outros ativos, como as licenças de concessão que podem ser muito valiosas, como no caso do pré-sal.

Camargo vê como positivo o estilo agressivo de Guedes, que tem mostrado viés mais liberal do que outros economistas tidos como pró-reformas no país. “O Paulo é uma personalidade muito intensa, que está sempre tentando ir com força na direção que julga correta. Ele é mais liberal do que a média e persistente, e nisso é até positivo.”

Sobre a possibilidade de o candidato do PT, Fernando Haddad, fazer uma inflexão ao centro, rumo a políticas aprovadas pelo mercado se for eleito, Camargo acha difícil que ele repita o sucesso do ex-presidente Lula, que fez o mesmo em 2003. “O Lula conseguiu porque era o Lula, mas ainda assim o PT mais para frente pressionou o governo a voltar para o plano do partido.” Ele diz que o PT cometeu erros de política econômica, sobre os quais não fez autocrítica e que estão repetidos no programa de Haddad.

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