Bolsa chinesa virou bússola para outros mercados, diz Santander
A China reforça sua importância no cenário econômico mundial e inverte lógica do mercado acionário. Para analistas, explosão do estoque de empréstimos no país é preocupante
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2009 às 08h42.
Na semana passada, a lógica do mercado acionário se inverteu. A China, em alguns momentos, determinou a dinâmica dos preços de ativos nas economias ocidentais, e não o contrário, como costuma acontecer. Na última quarta-feira, quando a bolsa de Xangai caiu 5% devido a rumores de que o governo local poderia estipular restrições ao crédito bancário, outros mercados do mundo acompanharam o movimento de venda de ações. A recuperação vista nos dias seguintes também injetou ânimo em investidores de outros países.
As ações despencaram a partir da súbita preocupação dos investidores com o ritmo de crescimento do crédito na China, o país de maior população do mundo com cerca de 1,3 bilhão de habitantes. O estoque de empréstimos para o setor privado não financeiro e os meios de pagamentos crescem a taxas superiores a 30% ao ano, quase o dobro do que se verificava quando o país crescia a 12%. "Teme-se pela não sustentabilidade deste ritmo de expansão monetária bem como medidas abruptas a serem adotadas pelo governo no sentido de conter excessos, se é que existem", anotou a corretora do Santander em comunicado divulgado nesta terça-feira (4).
Um dos pontos que preocupa analistas, segundo a corretora, é a excessiva valorização dos ativos no ciclo de alta (400%), da mesma forma em que parece ter sido exagerada a magnitude da correção (queda de 75% a partir do pico). "Isso mostra como o ciclo de recuperação de preços de ativos, ainda que se justifique pela eliminação de uma percepção de risco que vai deixando de ser exagerada, tem bases frágeis", diz o Santander. "Além do aumento da demanda por ativos decorrente de uma visão de que o mundo é menos perigoso, a precificação envolve também estimativas de crescimento de lucros que podem ser excessivamente otimistas".
O comportamento do mercado chinês ilustra a crescente importância do país na economia global. A China tem se mostrado importante alavanca na recuperação da demanda mundial e das operações de comércio exterior, já em curso desde o segundo trimestre de 2009. Mas, na visão de analistas, essa inversão é motivo de cautela, já que tem o desafio de se pautar por um cenário onde os chineses deixam de ser os grandes poupadores e financiadores do déficit em transações correntes dos EUA.