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BC cauteloso corta 2 pontos percentuais e fixa a Selic em 20%

O Banco Central anunciou o corte de 2 pontos percentuais, sem viés, da taxa básica de juros, a Selic. Esta postura mais conservadora do BC não agrada completamente o mercado financeiro, que via espaço para um corte de até 3 pontos percentuais. Com o redução de dois pontos, a taxa básica de juros fica em […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h28.

O Banco Central anunciou o corte de 2 pontos percentuais, sem viés, da taxa básica de juros, a Selic. Esta postura mais conservadora do BC não agrada completamente o mercado financeiro, que via espaço para um corte de até 3 pontos percentuais. Com o redução de dois pontos, a taxa básica de juros fica em 20% até a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em 21 e 22 de outubro. "Dadas as perspectivas favoráveis para a trajetória futura da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, dar continuidade à flexibilização da política monetária e fixar a taxa Selic em 20% ao ano, sem viés", afirma o BC em nota.

A Área de Estudos Econômicos do Bradesco afirmava que o Banco Central cortaria a taxa básica em 2 pontos, mas via espaço para um corte de até 2,5. "Tendo em mente que a política monetária deve combater efeitos secundários e não primários, o espaço para flexibilização monetária permanece muito amplo", afirmou o Bradesco. O Lloyds TSB também afirmava que o BC reduziria os juros "em pelo menos dois pontos percentuais". Para o banco, a mediana das projeções de inflação feitas pelo mercado reafirmam a expectativa de queda dos índices de preços. O banco também analisou que a taxa de câmbio, responsável por boa parte das pressões inflacionárias recentes, tem mantido uma "exemplar" estabilidade desde maio, depois de ceder consistentemente nos primeiros meses do ano.

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O economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos ( Febraban ), Roberto Luís Troster, disse que a redução da taxa básica de juros ficou dentro das expectativas do mercado e "é muito bem-vinda". Segundo ele, a nova redução da Selic, pela quarta vez consecutiva, deverá proporcionar queda nas taxas de juros dos bancos. "As taxas bancárias, com certeza, vão cair mais que a taxa Selic", disse Troster, acrescentando que a medida reduz o custo da matéria-prima dos bancos e a inadimplência, além de permitir um aumento da oferta de crédito. Segundo o economista, há espaço para novas quedas da Selic nos próximos meses e devemos terminar o ano em 17% ou 18% .

Para a Fiesp, o BC desacelerou o ritmo de queda antes do tempo. "Esperávamos uma redução de pelo menos 2,5%. Este é um momento extremamente favorável ao controle de preços. Indústria e varejo precisam desovar estoques e, por isso, estão sendo agressivos em sua política comercial", afirmou Horácio Lafer Piva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em comunicado oficial. "Nas condições atuais, com taxa de desemprego próxima a 13% e com a economia patinando, reduzir os juros em apenas 2 pontos é decisão que pouco pode interferir sobre a confiança e sobre as decisões de consumo e investimento."

O presidente da Confederação Nacional de Indústria ( CNI ), Armando Monteiro Neto, considerou positivo o corte. Para Monteiro Neto, esta medida mantém a tendência de queda apresentada nos últimos meses, mas acredita que o corte poderia ter sido maior. "O corte da taxa reforça a tendência de melhoria do desempenho do mercado no último trimestre e deve colaborar no aumento da atividade industrial."

Para o ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira, presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, a redução de dois pontos atende a expectativas. "Acho que é uma medida muito boa porque a taxa já caiu 6,5 pontos percentuais, de maneira que as projeções feitas para o ano, da ordem de 18% a 19% ao ano, estão bem próximas de serem atingidas", disse. Moreira avaliou que a tendência deverá ser de continuidade do processo de queda até o final do ano, embora não na mesma intensidade. Isso significa que a diminuição poderá passar de 2 pontos percentuais para 1 ponto percentual ao mês a partir de outubro. Em dezembro, a queda dependerá da inflação, disse, prevendo que a Selic feche o ano em 17%.

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo aprovou a decisão do Copom. Mas a entidade fez questão de ressaltar que há espaço para um corte de até três pontos na Selic, sem nenhum prejuízo para a política monetária. Para Abram Szajman, presidente da entidade, pode haver uma resistência ao crescimento por causa do juro alto, já que os juros reais ainda estão em "patamar muito elevado". "Isso mostra que a dose do remédio foi alta demais", disse. Ele afirma que é fundamental que a política econômica do governo não se pauta apenas pelos juros. "É preciso que haja uma sinalização do governo no sentido estimular a retomada dos investimentos, para que o país possa crescer de forma sustentada, aquecendo a atividade econômica, estimulando o mercado interno e reduzindo o desemprego", disse.

Dívida pública

Com a redução da Selic em dois pontos percentuais, a redução na dívida pública federal em um mês será de R$ 655 milhões. Os cálculos são da Consultoria Global Invest. Além disso, desde que a taxa básica de juros começou a ser reduzida este ano, no mês de junho, até outubro o que se deixará de pagar com os juros alcança R$ 3,111 bilhões.

Segundo o analista econômico, Nélson Carneiro, entrevistado pela Agência Brasil, a queda da Selic ajuda a incrementar o Produto Interno Bruto (PIB) e reduz a dívida pública, simultaneamente. Desse modo, a relação dívida líquida/PIB cai e a credibilidade da economia brasileira aumenta. Conforme projeções da consultoria, essa relação deve ficar no final do ano em 61%, uma vez que as projeções de crescimento da economia nacional caíram nas últimas semanas.

O que é a Selic

O Sistema Especial de Liquidação e Custódia de Títulos Públicos (Selic) foi criado em 1980 pelo Banco Central e pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima). Ele é um sistema informatizado que serve para tornar mais segura as negociações diárias dos títulos públicos. Ou seja, quando há redução da taxa, o governo economiza já que o juros que o governo paga ficam mais baratos. Assim, sobra dinheiro para outros gastos, que não o acerto de dívidas. Somente as instituições credenciadas têm acesso. Com o tempo essa sigla (Selic) passou a caracterizar também a taxa básica de juros da economia.

A taxa baliza os juros cobrados no crediário e em todas as modalidades de crédito disponíveis no mercado, pois é usada pelos bancos na hora de tomar recursos emprestados em operações feitas entre as instituições.

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