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Bancos latinos ficam à espreita de rivais espanhóis

Algumas instituições miram o crescimento tirando proveito de problemas dos bancos espanhóis

Bankia: o MEDE poderá ser usado para sanear as instituições bancárias espanholas em crise (Dominique Faget/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2012 às 18h49.

São Paulo - Os bancos latino-americanos que querem expandir-se regionalmente podem fazê-lo à custa de seus rivais espanhóis, que podem sair de alguns países enquanto acumulam perdas com crédito.

Diante de prejuízos com hipotecas que podem alcançar 330 bilhões de dólares, bancos da Espanha estão sendo desafiados na América Latina por endinheirados credores locais famintos para elevar sua participação nesses mercados, especialmente fatias roubadas de rivais que necessitam de dinheiro novo.

Depois de gastar 18 bilhões de dólares para construir uma rede latino-americana que vai do México à Terra do Fogo, o Santander e o BBVA provavelmente farão o que for preciso para continuar em um mercado que responde por um quarto de seu lucro anual. Manter o rumo da América Latina também lhes permite evitar afundar com a economia espanhola.

De todo modo, concorrentes locais tornaram-se mais fortes, na esteira da crise financeira mundial de 2008 e alguns desejam tirar proveito de problemas dos bancos espanhóis.


Executivos de bancos de Brasil, Colômbia, Chile e México, falando no Reuters Latin American Investment Summit nesta semana, procuraram minimizar o impacto da possível queda dos mercados de crédito da Espanha, mas destacaram a atração de ativos do Santander e do BBVA na região.

"A melhor defesa que tanto o BBVA quanto o Santander têm são as suas operações latino-americanas, que eles têm no Brasil, no México e no Chile", disse o presidente-executivo do CorpBanca, sediado em Santiago, que comprou a divisão colombiana do Santander no ano passado, Fernando Massu.

Essa venda permitiu ao Santander, maior banco da zona do euro, levantar 830 milhões de dólares num tempo de vacas magras.

O mal-estar financeiro na Europa obrigou bancos espanhóis a abandonar alguns ativos e sair de alguns mercados para reduzir os riscos, cortar custos e cumprir regras de capital mais rígidas para evitar uma repetição da crise de 2008, que levou à falência dúzias de credores e deixou milhões sem emprego.

Mercados de crédito da América Latina, no entanto, não devem sofrer caso os bancos espanhóis decidam deixar países da região, porque os credores locais se tornaram fortes o suficiente para aproveitar qualquer folga no negócio de empréstimos corporativos, disseram executivos no Reuters Summit.

Na verdade, a maioria dos executivos acha que ambos os bancos irão lutar para permanecer na região.

O Santander provavelmente não fará mais desinvestimentos de ativos na região, disse o presidente-executivo da subsidiária do banco chileno, Claudio Melandri.

Em parte graças a anos de expansão acelerada doe crédito e a controles rígidos de risco, a indústria financeira da América Latina está bem capitalizada o suficiente para resistir a qualquer tipo de tumulto decorrente de problemas da Europa, disse o presidente-executivo do maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco, Roberto Egydio Setubal.


No caso do Brasil, no entanto, um aumento da inadimplência pode corroer a robustez do sistema. E os políticos colombianos têm repetidamente manifestado preocupação com a rápida expansão do crédito após a crise financeira de 2008.

Captando recursos de vendas - A aposta que o Santander e o BBVA fizeram cerca de 15 anos atrás ao investir em uma região onde a Espanha foi uma potência colonial está valendo a pena agora, quando é mais necessário para os bancos. O crescimento de lucros em algumas unidades está ajudando o Santander a lidar com o colapso dos mercados imobiliários e com a inadimplência na Espanha.

O Santander vendeu 958 milhões de dólares em ações de sua filial chilena em dezembro e uma fatia de 5,8 por cento do Banco Santander Brasil para levantar capital para a empresa sediada em Madri. Uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de seu negócio mexicano está em andamento.

Além disso, Santander e BBVA têm se afastado de atividades de empréstimo de pequenas margens, tais como banco de atacado, para ajudar suas matrizes preservar o capital. O presidente-executivo do Santander Brasil, Marcial Portela Alvarez, negou, em entrevista a um jornal nesta semana que a unidade esteja à venda, tentando encerrar semanas de especulação sobre o assunto.

"Os bancos estão tentando descobrir em que negócios realmente querem estar", disse o presidente-executivo do banco mexicano Banorte, Alejandro Valenzuela. Embora Banorte esteja de olho em oportunidades de aquisição, o banco ainda está digerindo duas aquisições do ano passado.

Alvos atraentes - Unidades de fundos de pensão do BBVA na Colômbia, Peru, México e no Chile estão entre os ativos à venda para que o grupo possa cumprir com regras mais rigorosas de capital em Espanha.

O presidente-executivo do Grupo de Inversiones Suramericana, a empresa-mãe do Bancolombia, maior banco colombiano, David Bojanini, consideraria comprar esses ativos se reguladores o permitissem.


O CorpBanca também pode participar de um eventual leilão pelas subsidiárias de fundos de aposentadorias do BBVA, adicionou Massu.

"Estamos apenas começando a explorar", disse Bojanini. "Não podemos dizer que compraremos neste país ou algo do tipo, porque temos que examinar com cuidado o que o BBVA quer fazer com os seus ativos e que oportunidades podem surgir para nós lá".

O grupo Sura, sediado em Medellín, na Colômbia, pagou mais de 3,5 bilhões de dólares no ano passado pelos ativos regionais do ING Groep NV e estava à procura de fortes investimentos em pensão e seguro, mas pode ser limitado por leis anti-monopólio, já que é o maior participante do mercado de fundos de aposentadoria da América Latina.

Além disso, os altos preços de ativos bancários têm dissuadido alguns participantes de realizar ofertas, disse Setubal, do Itaú Unibanco, que optou por crescer organicamente na região, acrescentou, notando que seu banco abriu recentemente uma unidade de investimentos na Colômbia, com cerca de 40 funcionários.

A saída de alguns mercados da América Latina se deveu mais a uma visão estratégica do negócio e não tinha como objetivo principal levantar capital para compensar perdas na Espanha, disse Melandri, do Santander Chile.

No entanto, o agravamento da crise na Espanha pode tornar mais difícil para os executivos do Santander e BBVA prever o tamanho das perdas, derrubando o preço de alguns de seus ativos latino-americanos.

Os preços das domicílios na Espanha caíram cerca de 25 por cento desde 2007, e alguns analistas dizem que a queda é de apenas aproximadamente metade do que seria necessário para eliminar o excesso de oferta de casas.

Paradoxalmente, enquanto credores europeus reduzem o tamanho de suas operações no exterior para preservar o capital, os bancos latino-americanos iniciaram uma agressiva expansão em toda a região -provocando preocupações sobre se, em algum momento, eles se tornarão "grandes demais para quebrar".

Valenzuela, do Banorte, espera que a consolidação ganhe força nos próximos anos, não apenas por conta da venda de ativos em subsidiárias em outros países, mas também por conta de unidades locais. Ele prevê que cerca de 80 por cento dos 42 bancos mexicanos procuram fusões -um movimento que pode atrair outros rivais latino-americanos como o Itaú Unibanco.

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São Paulo - Os bancos latino-americanos que querem expandir-se regionalmente podem fazê-lo à custa de seus rivais espanhóis, que podem sair de alguns países enquanto acumulam perdas com crédito.

Diante de prejuízos com hipotecas que podem alcançar 330 bilhões de dólares, bancos da Espanha estão sendo desafiados na América Latina por endinheirados credores locais famintos para elevar sua participação nesses mercados, especialmente fatias roubadas de rivais que necessitam de dinheiro novo.

Depois de gastar 18 bilhões de dólares para construir uma rede latino-americana que vai do México à Terra do Fogo, o Santander e o BBVA provavelmente farão o que for preciso para continuar em um mercado que responde por um quarto de seu lucro anual. Manter o rumo da América Latina também lhes permite evitar afundar com a economia espanhola.

De todo modo, concorrentes locais tornaram-se mais fortes, na esteira da crise financeira mundial de 2008 e alguns desejam tirar proveito de problemas dos bancos espanhóis.


Executivos de bancos de Brasil, Colômbia, Chile e México, falando no Reuters Latin American Investment Summit nesta semana, procuraram minimizar o impacto da possível queda dos mercados de crédito da Espanha, mas destacaram a atração de ativos do Santander e do BBVA na região.

"A melhor defesa que tanto o BBVA quanto o Santander têm são as suas operações latino-americanas, que eles têm no Brasil, no México e no Chile", disse o presidente-executivo do CorpBanca, sediado em Santiago, que comprou a divisão colombiana do Santander no ano passado, Fernando Massu.

Essa venda permitiu ao Santander, maior banco da zona do euro, levantar 830 milhões de dólares num tempo de vacas magras.

O mal-estar financeiro na Europa obrigou bancos espanhóis a abandonar alguns ativos e sair de alguns mercados para reduzir os riscos, cortar custos e cumprir regras de capital mais rígidas para evitar uma repetição da crise de 2008, que levou à falência dúzias de credores e deixou milhões sem emprego.

Mercados de crédito da América Latina, no entanto, não devem sofrer caso os bancos espanhóis decidam deixar países da região, porque os credores locais se tornaram fortes o suficiente para aproveitar qualquer folga no negócio de empréstimos corporativos, disseram executivos no Reuters Summit.

Na verdade, a maioria dos executivos acha que ambos os bancos irão lutar para permanecer na região.

O Santander provavelmente não fará mais desinvestimentos de ativos na região, disse o presidente-executivo da subsidiária do banco chileno, Claudio Melandri.

Em parte graças a anos de expansão acelerada doe crédito e a controles rígidos de risco, a indústria financeira da América Latina está bem capitalizada o suficiente para resistir a qualquer tipo de tumulto decorrente de problemas da Europa, disse o presidente-executivo do maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco, Roberto Egydio Setubal.


No caso do Brasil, no entanto, um aumento da inadimplência pode corroer a robustez do sistema. E os políticos colombianos têm repetidamente manifestado preocupação com a rápida expansão do crédito após a crise financeira de 2008.

Captando recursos de vendas - A aposta que o Santander e o BBVA fizeram cerca de 15 anos atrás ao investir em uma região onde a Espanha foi uma potência colonial está valendo a pena agora, quando é mais necessário para os bancos. O crescimento de lucros em algumas unidades está ajudando o Santander a lidar com o colapso dos mercados imobiliários e com a inadimplência na Espanha.

O Santander vendeu 958 milhões de dólares em ações de sua filial chilena em dezembro e uma fatia de 5,8 por cento do Banco Santander Brasil para levantar capital para a empresa sediada em Madri. Uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de seu negócio mexicano está em andamento.

Além disso, Santander e BBVA têm se afastado de atividades de empréstimo de pequenas margens, tais como banco de atacado, para ajudar suas matrizes preservar o capital. O presidente-executivo do Santander Brasil, Marcial Portela Alvarez, negou, em entrevista a um jornal nesta semana que a unidade esteja à venda, tentando encerrar semanas de especulação sobre o assunto.

"Os bancos estão tentando descobrir em que negócios realmente querem estar", disse o presidente-executivo do banco mexicano Banorte, Alejandro Valenzuela. Embora Banorte esteja de olho em oportunidades de aquisição, o banco ainda está digerindo duas aquisições do ano passado.

Alvos atraentes - Unidades de fundos de pensão do BBVA na Colômbia, Peru, México e no Chile estão entre os ativos à venda para que o grupo possa cumprir com regras mais rigorosas de capital em Espanha.

O presidente-executivo do Grupo de Inversiones Suramericana, a empresa-mãe do Bancolombia, maior banco colombiano, David Bojanini, consideraria comprar esses ativos se reguladores o permitissem.


O CorpBanca também pode participar de um eventual leilão pelas subsidiárias de fundos de aposentadorias do BBVA, adicionou Massu.

"Estamos apenas começando a explorar", disse Bojanini. "Não podemos dizer que compraremos neste país ou algo do tipo, porque temos que examinar com cuidado o que o BBVA quer fazer com os seus ativos e que oportunidades podem surgir para nós lá".

O grupo Sura, sediado em Medellín, na Colômbia, pagou mais de 3,5 bilhões de dólares no ano passado pelos ativos regionais do ING Groep NV e estava à procura de fortes investimentos em pensão e seguro, mas pode ser limitado por leis anti-monopólio, já que é o maior participante do mercado de fundos de aposentadoria da América Latina.

Além disso, os altos preços de ativos bancários têm dissuadido alguns participantes de realizar ofertas, disse Setubal, do Itaú Unibanco, que optou por crescer organicamente na região, acrescentou, notando que seu banco abriu recentemente uma unidade de investimentos na Colômbia, com cerca de 40 funcionários.

A saída de alguns mercados da América Latina se deveu mais a uma visão estratégica do negócio e não tinha como objetivo principal levantar capital para compensar perdas na Espanha, disse Melandri, do Santander Chile.

No entanto, o agravamento da crise na Espanha pode tornar mais difícil para os executivos do Santander e BBVA prever o tamanho das perdas, derrubando o preço de alguns de seus ativos latino-americanos.

Os preços das domicílios na Espanha caíram cerca de 25 por cento desde 2007, e alguns analistas dizem que a queda é de apenas aproximadamente metade do que seria necessário para eliminar o excesso de oferta de casas.

Paradoxalmente, enquanto credores europeus reduzem o tamanho de suas operações no exterior para preservar o capital, os bancos latino-americanos iniciaram uma agressiva expansão em toda a região -provocando preocupações sobre se, em algum momento, eles se tornarão "grandes demais para quebrar".

Valenzuela, do Banorte, espera que a consolidação ganhe força nos próximos anos, não apenas por conta da venda de ativos em subsidiárias em outros países, mas também por conta de unidades locais. Ele prevê que cerca de 80 por cento dos 42 bancos mexicanos procuram fusões -um movimento que pode atrair outros rivais latino-americanos como o Itaú Unibanco.

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