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Bancos estrangeiros alertam para racionamento no Brasil

Especialistas recomendam preparar "planos de contingência" diante da possibilidade de haver racionamento de energia no Brasil neste ano

Energia elétrica: risco de racionamento de energia é, hoje, a principal ameaça ao crescimento econômico, dizem analistas (Adriano Machado/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2015 às 08h10.

São Paulo - A divulgação de projeções para o volume de chuvas no mês de fevereiro aumentou o pessimismo de analistas em relação ao risco de haver racionamento de energia no Brasil em 2015.

Os especialistas do Bank of America (BofA) Merrill Lynch, por exemplo, assinam um documento com os dizeres: "Preparem os planos de contingência". No material, a instituição destaca que o volume de chuvas no Brasil, a partir de março, precisará ser equivalente a 84% da média histórica.

Já o UBS utiliza o termo "déjà vu" para falar sobre racionamento, em referência à situação ocorrida no início deste século.

Os dois relatórios foram elaborados após o Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico divulgar a primeira previsão oficial de chuvas para o mês de fevereiro.

O cenário é negativo. Na região Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do País, a Energia Natural Afluente (ENA) deve ser equivalente a 52% da média de longo termo (MLT). Confirmada essa projeção, os reservatórios chegariam ao final do mês com apenas 19,7% da capacidade. Distante do patamar de 30% considerado mínimo para o final do período chuvoso, em abril.

"Incorporadas as projeções de fevereiro, nossas previsões para os reservatórios indicam que (...) a hidrologia agora tem que superar 84% da média de março em diante (contra uma previsão de 79% de fevereiro em diante)", aponta o documento assinado pelos analistas Felipe Leal, Luiz Antonio Leite e Diego Moreno.

Na sequência, eles destacam que em 19 dos últimos 84 anos, ou em 23% do período analisado, a hidrologia para o bimestre março-abril ficou abaixo desse patamar. A projeção do ONS para março, ressaltam os analistas, também é inferior a esse nível, ficando em 71%.

A análise do BofA leva em consideração a necessidade de os reservatórios encerrarem o chamado período chuvoso com o equivalente a 30% da capacidade.

Esse nível seria suficiente para que o sistema elétrico brasileiro pudesse superar o período seco e chegasse a 10% em novembro de 2015, quando tem início o novo período chuvoso.

Os analistas Guilherme Loureiro, Thiago Carlos, Lilyanna Yang, Carlos Herrera e Rafael De La Fuente, do UBS, destacam que o risco de racionamento de energia é, hoje, a principal ameaça ao crescimento econômico brasileiro em 2015.

Para evitar riscos, o nível das chuvas no acumulado de 2015 deveria ficar em no mínimo 80% da média histórica.

Em números, o UBS considera que um eventual racionamento equivalente a 10% da carga poderia provocar uma queda de 0,7% a 1,5% na economia brasileira.

A restrição energética ainda teria efeitos na inflação, que poderia fechar o ano com alta de mais de 8%, e no aumento da taxa de desemprego, esta podendo chegar a 6,5%.

A visão negativa é explicada pela comparação entre o nível dos reservatórios neste início de 2015 e os patamares do começo do ano passado e de 2001, ano em que o Brasil passou por um racionamento de energia.

A situação deste ano é pior do que as duas outras referências analisadas, o que justifica o termo "déjà vu" citado na apresentação do relatório.

"O risco do racionamento de energia está de volta ao radar dos investidores. Com mais um verão seco no Brasil, e o nível dos reservatórios abaixo daqueles registrados durante a crise de 2001 e a demanda ainda elevada, o risco de escassez de energia está crescendo rapidamente e gerando preocupações sobre o potencial impacto econômico", sintetizam os analistas do UBS.

Credit

O Credit Suisse também divulgou um relatório sobre o risco de racionamento de energia no Brasil, mas fundamentou seus comentários em uma conversa tida com o presidente da consultoria PSR, Mario Veiga.

No documento, assinado por Vinicius Canheu e Pedro Manfredini, a instituição ressalta que há 58% de risco de ser necessária uma redução na oferta de energia na região Sudeste, na ordem de 4%. O número é atribuído às projeções da PSR.

"A chance de necessidade de um corte de 10% é de 36% e de corte de 15%, de 25%. Finalmente, há 22% de chance de os reservatórios na região Sudeste chegarem a 10% em novembro, o que é considerado o nível operacional mínimo do sistema", cita o documento.

Os analistas destacam que, para que o Brasil chegue ao final do período seco com volume de água considerado suficiente, o nível de chuvas nos meses de abril e março deve alcançar aproximadamente 90% da média histórica.

Na eventualidade de haver racionamento de energia, as geradoras devem ser as empresas mais afetadas, pontuam Canheu e Manfredini. As empresas com maior risco são a Copel, a Light, a AES Tietê e a EDP Energias do Brasil. Dentre as ações sob cobertura do Credit, o cenário é menos adverso para Taesa, Equatorial, CPFL e Alupar.

São Paulo* – As condições climáticas levaram a consultoria PSR a elevar a probabilidade de ocorrência de um racionamento de energia no Brasil de 6,0% em janeiro para 17,5% em fevereiro, segundo relatório do Morgan Stanley Research. Os setores mais vulneráveis a aumentos de preços são os de aço (a eletricidade representou 31,3% do ebitda deles em 2013), industrial (11,9%) e bebidas e alimentos (8,8%). O banco afirma que, em um cenário de racionamento, a maior parte dos papéis de sua cobertura deve ser afetado negativamente. O Morgan Stanley indica quais seriam os papéis mais afetados.   *Matéria atualizada no dia 21 de fevereiro, às 14:04 horas, após contato de uma das empresas e envio do relatório corrigido pelo Morgan Stanley. A alteração retirou as ações de Hypermarcas e JBS da lista e acrescentou o papel da Vale.
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