Bancos centrais devem continuar flexíveis em 2015
Embora economistas prevejam que entidades elevarão taxas de referência no ano que vem, é improvável que bancos centrais aumentem custos de tomar empréstimos
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 17h04.
Londres -Os banqueiros centrais do mundo poderiam ser perdoados por achar que as coisas nunca mais voltarão ao normal. Mais de seis anos depois que a crise financeira fez com que o mundo afundasse em uma recessão, a política monetária já não tem nada a ver com o que era antes desses eventos.
Embora os economistas prevejam que a Reserva Federal dos EUA e o Banco da Inglaterra (BOE) finalmente começarão a elevar as taxas de referência em 2015, é improvável que os bancos centrais aumentem os custos de tomar empréstimos para níveis parecidos aos de antes da crise, capazes de combater a inflação.
E mesmo que o Fed finalizasse em outubro a campanha de compra de bonds que empreendeu quando a economia dos EUA estava mais fraca, a instituição não vai eliminar os ativos que comprou.
O Banco Central Europeu e o Banco do Japão, por sua vez, estão incrementando as aquisições.
Os banqueiros centrais sabem que o crescimento global é instável, que a dívida está crescendo e que não estão recebendo muita ajuda das políticas fiscais dos governos, informará a revista Bloomberg Markets na edição de janeiro.
O progresso econômico dependerá novamente da torneira monetária no ano que vem – e os preços das ações, os yields dos bonds, a demanda por commodities e as taxas cambiais, também.
“Dada a natureza lenta e irregular da recuperação, as políticas de apoio continuam sendo necessárias”, disse a presidente do Fed, Janet Yellen, em uma conferência de banqueiros centrais em Paris, no dia 7 de novembro.
Os responsáveis pela política monetária deveriam continuar tentando medidas extraordinárias, argumentou Yellen, especialmente porque a política fiscal hoje continua sendo “um tanto contrativa”.
Restrições fiscais
Nos EUA, um aumento do gasto público para estimular o crescimento está fora de cogitação, especialmente depois que os republicanos conquistaram o controle do Congresso na eleição de novembro.
Na zona do euro, os governos não podem se afastar muito da austeridade, pois enfrentam as regras da União Europeia e a oposição alemã. No Japão, o plano de estímulo fiscal do primeiro-ministro Shinzo Abe foi enfraquecido pelo aumento do imposto sobre o consumo, que entrou em vigência em abril.
A economia está acelerando nos EUA e desacelerando na zona do euro, onde o crescimento desapareceu no terceiro trimestre. A China tem desacelerado. O Japão entrou em recessão de novo, após contrair-se em dois trimestres consecutivos, o que levou Abe a adiar um segundo aumento planejado de impostos e a pedir uma eleição antecipada. Os responsáveis pela política monetária estão tendo dificuldades para apoiar uma economia mundial ainda frágil.
A dificuldade de sair após seis anos de estímulos monetários mundiais, em sua maioria coordenados, se evidenciou recentemente nos mercados acionários. O MSCI World Index perdeu cerca de 9 por cento em setembro e na primeira metade de outubro antes de se recuperar quase completamente nas seis semanas seguintes. Não há uma única razão que possa explicar tamanha oscilação, porém os investidores atribuíram a liquidação à preocupação de que o crescimento global esteja desacelerando, de que a deflação seja uma ameaça – e de que, desta vez, a política monetária já não tenha respostas.
O Fed vem tentando desacostumar gradualmente os investidores e a economia da flexibilização quantitativa. A instituição reduziu as aquisições de ativos de US$ 85 bilhões por mês em 2013 para US$ 15 bilhões em outubro de 2014.
Em uma reunião no dia 29 de outubro, Yellen finalizou o programa de compras de bonds. Naquele momento, as ações estavam se recuperando. A medida do Fed não interrompeu o impulso, e imediatamente depois, as ações receberam mais apoio de banqueiros centrais em outros países.
O presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, e seu conselho de políticas disseram em 31 de outubro que iriam incrementar as aquisições de ativos para um ritmo anual de cerca de 80 trilhões de ienes (US$ 675 bilhões).
O presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou em 6 de novembro que a instituição estava pronta para realizar mais compras e expandir o balanço. Depois desse anúncio, em um discurso no dia 21 de novembro, ele disse que o BCE deve fazer com que a inflação volte aos patamares almejados “sem demora”.
Economistas de bancos consultados pela Bloomberg esperam que 2015 seja o ano em que o Fed aumente a taxa de referência para fundos federais após tê-la mantido quase zerada durante seis anos. Os primeiros aumentos se dariam no segundo trimestre. Eles predizem que o presidente do BOE, Mark Carney, e seus colegas comecem a elevar as taxas um pouco depois de uma eleição geral que ocorrerá em maio. No entanto, estas medidas provavelmente serão modestas – e poderiam ser adiadas.
Um dos principais motivos para manter baixas as taxas de juros no próximo ano é a probabilidade de que a inflação continue sendo inofensiva no mundo inteiro, mesmo se os preços não caírem o suficiente para desencadear a deflação. Economistas do Morgan Stanley dizem que os aumentos de preços estão abaixo das metas dos bancos centrais em praticamente todos os mercados desenvolvidos. Eles preveem que o Fed não subirá a taxa de referência em 2015 e que o BOE esperará até o último trimestre do ano para fazê-lo.
Dívidas pesadas
Há outra razão para que os banqueiros centrais aumentem as taxas lentamente: o mundo está nadando em dívidas.
O nível de dívida da economia global, excluindo empresas financeiras, cresceu mais de um terço desde 2008, segundo um relatório publicado em setembro pelo Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários em Genebra. O relatório conclui que a taxa de crescimento mundial potencial caiu para menos de 3 por cento, frente a cerca de 4,5 por cento antes de 2008.
Os balanços dos bancos centrais não vão voltar ao normal, assim como as taxas também não voltarão. Após três rodadas de flexibilização quantitativa nos EUA, o Fed mantinha o recorde de US$ 4,5 trilhões em ativos no seu balanço no fim de outubro, frente a menos de US$ 1 trilhão em 2007.
Compras do BCE
Na zona do euro, onde a inflação é de menos de um quarto da meta do BCE, de pouco menos de 2 por cento, está na hora de comprar mais ativos. O balanço do banco central atingiu o pico com 3,1 trilhões de euros (US$ 3,9 trilhões) em 2012 e depois diminuiu quando os bancos quitaram empréstimos de emergência, caindo para menos de 2 trilhões de euros em setembro.
O anúncio do dia 6 de novembro sinalizou que o BCE está voltando a ter 3 trilhões de euros em ativos e que em breve poderia comprar também dívida soberana, além dos títulos privados que vem adquirindo até agora. A compra de bonds de governos não será tão simples para o BCE quanto foi para o Fed.
Tais aquisições implicam o risco de comprar uma briga com os funcionários alemães, que argumentam que elas violariam os tratados fundamentais do BCE e diminuiriam a pressão para que os governos reformem suas economias.
Os mercados acionários se tornaram dependentes do apoio monetário, diz Matt King, diretor mundial de estratégia de crédito do Citigroup Inc. Ele estima que os bancos centrais vão precisar injetar cerca de US$ 200 bilhões na economia mundial a cada trimestre para evitar que as ações caiam – e que um estímulo monetário líquido nulo provocaria uma queda trimestral de 10 por cento.
Tarefa difícil
Os banqueiros centrais estão procurando as alavancas certas para promover o crescimento, mas isso será em vão a menos que eles evitem os excessos de crédito e os mercados excessivamente promovidos que perturbaram o sistema financeiro em 2007 e 2008.
Detectar bolhas, acalmar mercados, manter o crescimento da frágil economia mundial: não há nada normal no que está sendo exigido dos banqueiros. Stephen King, economista-chefe do HSBC Holdings Plc, teme que a quantidade de exigências seja excessiva.
“Com objetivos conflitantes entre si, eles sempre vão fracassar em um, e isso só aumentará o escrutínio político sobre eles”, diz King.
Londres -Os banqueiros centrais do mundo poderiam ser perdoados por achar que as coisas nunca mais voltarão ao normal. Mais de seis anos depois que a crise financeira fez com que o mundo afundasse em uma recessão, a política monetária já não tem nada a ver com o que era antes desses eventos.
Embora os economistas prevejam que a Reserva Federal dos EUA e o Banco da Inglaterra (BOE) finalmente começarão a elevar as taxas de referência em 2015, é improvável que os bancos centrais aumentem os custos de tomar empréstimos para níveis parecidos aos de antes da crise, capazes de combater a inflação.
E mesmo que o Fed finalizasse em outubro a campanha de compra de bonds que empreendeu quando a economia dos EUA estava mais fraca, a instituição não vai eliminar os ativos que comprou.
O Banco Central Europeu e o Banco do Japão, por sua vez, estão incrementando as aquisições.
Os banqueiros centrais sabem que o crescimento global é instável, que a dívida está crescendo e que não estão recebendo muita ajuda das políticas fiscais dos governos, informará a revista Bloomberg Markets na edição de janeiro.
O progresso econômico dependerá novamente da torneira monetária no ano que vem – e os preços das ações, os yields dos bonds, a demanda por commodities e as taxas cambiais, também.
“Dada a natureza lenta e irregular da recuperação, as políticas de apoio continuam sendo necessárias”, disse a presidente do Fed, Janet Yellen, em uma conferência de banqueiros centrais em Paris, no dia 7 de novembro.
Os responsáveis pela política monetária deveriam continuar tentando medidas extraordinárias, argumentou Yellen, especialmente porque a política fiscal hoje continua sendo “um tanto contrativa”.
Restrições fiscais
Nos EUA, um aumento do gasto público para estimular o crescimento está fora de cogitação, especialmente depois que os republicanos conquistaram o controle do Congresso na eleição de novembro.
Na zona do euro, os governos não podem se afastar muito da austeridade, pois enfrentam as regras da União Europeia e a oposição alemã. No Japão, o plano de estímulo fiscal do primeiro-ministro Shinzo Abe foi enfraquecido pelo aumento do imposto sobre o consumo, que entrou em vigência em abril.
A economia está acelerando nos EUA e desacelerando na zona do euro, onde o crescimento desapareceu no terceiro trimestre. A China tem desacelerado. O Japão entrou em recessão de novo, após contrair-se em dois trimestres consecutivos, o que levou Abe a adiar um segundo aumento planejado de impostos e a pedir uma eleição antecipada. Os responsáveis pela política monetária estão tendo dificuldades para apoiar uma economia mundial ainda frágil.
A dificuldade de sair após seis anos de estímulos monetários mundiais, em sua maioria coordenados, se evidenciou recentemente nos mercados acionários. O MSCI World Index perdeu cerca de 9 por cento em setembro e na primeira metade de outubro antes de se recuperar quase completamente nas seis semanas seguintes. Não há uma única razão que possa explicar tamanha oscilação, porém os investidores atribuíram a liquidação à preocupação de que o crescimento global esteja desacelerando, de que a deflação seja uma ameaça – e de que, desta vez, a política monetária já não tenha respostas.
O Fed vem tentando desacostumar gradualmente os investidores e a economia da flexibilização quantitativa. A instituição reduziu as aquisições de ativos de US$ 85 bilhões por mês em 2013 para US$ 15 bilhões em outubro de 2014.
Em uma reunião no dia 29 de outubro, Yellen finalizou o programa de compras de bonds. Naquele momento, as ações estavam se recuperando. A medida do Fed não interrompeu o impulso, e imediatamente depois, as ações receberam mais apoio de banqueiros centrais em outros países.
O presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, e seu conselho de políticas disseram em 31 de outubro que iriam incrementar as aquisições de ativos para um ritmo anual de cerca de 80 trilhões de ienes (US$ 675 bilhões).
O presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou em 6 de novembro que a instituição estava pronta para realizar mais compras e expandir o balanço. Depois desse anúncio, em um discurso no dia 21 de novembro, ele disse que o BCE deve fazer com que a inflação volte aos patamares almejados “sem demora”.
Economistas de bancos consultados pela Bloomberg esperam que 2015 seja o ano em que o Fed aumente a taxa de referência para fundos federais após tê-la mantido quase zerada durante seis anos. Os primeiros aumentos se dariam no segundo trimestre. Eles predizem que o presidente do BOE, Mark Carney, e seus colegas comecem a elevar as taxas um pouco depois de uma eleição geral que ocorrerá em maio. No entanto, estas medidas provavelmente serão modestas – e poderiam ser adiadas.
Um dos principais motivos para manter baixas as taxas de juros no próximo ano é a probabilidade de que a inflação continue sendo inofensiva no mundo inteiro, mesmo se os preços não caírem o suficiente para desencadear a deflação. Economistas do Morgan Stanley dizem que os aumentos de preços estão abaixo das metas dos bancos centrais em praticamente todos os mercados desenvolvidos. Eles preveem que o Fed não subirá a taxa de referência em 2015 e que o BOE esperará até o último trimestre do ano para fazê-lo.
Dívidas pesadas
Há outra razão para que os banqueiros centrais aumentem as taxas lentamente: o mundo está nadando em dívidas.
O nível de dívida da economia global, excluindo empresas financeiras, cresceu mais de um terço desde 2008, segundo um relatório publicado em setembro pelo Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários em Genebra. O relatório conclui que a taxa de crescimento mundial potencial caiu para menos de 3 por cento, frente a cerca de 4,5 por cento antes de 2008.
Os balanços dos bancos centrais não vão voltar ao normal, assim como as taxas também não voltarão. Após três rodadas de flexibilização quantitativa nos EUA, o Fed mantinha o recorde de US$ 4,5 trilhões em ativos no seu balanço no fim de outubro, frente a menos de US$ 1 trilhão em 2007.
Compras do BCE
Na zona do euro, onde a inflação é de menos de um quarto da meta do BCE, de pouco menos de 2 por cento, está na hora de comprar mais ativos. O balanço do banco central atingiu o pico com 3,1 trilhões de euros (US$ 3,9 trilhões) em 2012 e depois diminuiu quando os bancos quitaram empréstimos de emergência, caindo para menos de 2 trilhões de euros em setembro.
O anúncio do dia 6 de novembro sinalizou que o BCE está voltando a ter 3 trilhões de euros em ativos e que em breve poderia comprar também dívida soberana, além dos títulos privados que vem adquirindo até agora. A compra de bonds de governos não será tão simples para o BCE quanto foi para o Fed.
Tais aquisições implicam o risco de comprar uma briga com os funcionários alemães, que argumentam que elas violariam os tratados fundamentais do BCE e diminuiriam a pressão para que os governos reformem suas economias.
Os mercados acionários se tornaram dependentes do apoio monetário, diz Matt King, diretor mundial de estratégia de crédito do Citigroup Inc. Ele estima que os bancos centrais vão precisar injetar cerca de US$ 200 bilhões na economia mundial a cada trimestre para evitar que as ações caiam – e que um estímulo monetário líquido nulo provocaria uma queda trimestral de 10 por cento.
Tarefa difícil
Os banqueiros centrais estão procurando as alavancas certas para promover o crescimento, mas isso será em vão a menos que eles evitem os excessos de crédito e os mercados excessivamente promovidos que perturbaram o sistema financeiro em 2007 e 2008.
Detectar bolhas, acalmar mercados, manter o crescimento da frágil economia mundial: não há nada normal no que está sendo exigido dos banqueiros. Stephen King, economista-chefe do HSBC Holdings Plc, teme que a quantidade de exigências seja excessiva.
“Com objetivos conflitantes entre si, eles sempre vão fracassar em um, e isso só aumentará o escrutínio político sobre eles”, diz King.