Ausência de corte da Selic seria "decepção" para o mercado, diz Itaú
A expectativa é de que a taxa Selic sofra um corte de 0,25% na próxima reunião do Copom, que será realizada no final de julho
Reuters
Publicado em 19 de julho de 2019 às 15h40.
Última atualização em 19 de julho de 2019 às 15h41.
São Paulo — A ausência de corte de juros pelo Banco Central no fim deste mês causaria uma "decepção" no mercado, que neste momento discute a magnitude do afrouxamento monetário, disse nesta sexta-feira Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco , que considera ainda que o mercado exagerou na dose ao reduzir o prêmio de risco para o Brasil.
A curva de DI indicava 85% de probabilidade de redução de 0,25 ponto percentual da Selic no próximo dia 31, conforme a ferramenta da Reuters. Até o fim do ano, os contratos de DI da B3 colocavam o juro básico em torno de 5,5%, 1 ponto percentual abaixo do atual patamar, de 6,5% ao ano.
"Um não corte representa uma diferença muito grande do que está nos preços. Seria uma decepção para o mercado", afirmou o executivo.
A pesquisa Focus mostrava redução de 0,25 ponto para o fim de julho, mas o Itaú está no time dos que veem alívio de 0,50 ponto.
Para Gonçalves, o BC já vinha destacando a inflação "mais contida", mas não tinha conforto em cortar os juros porque não havia progresso no andamento da reforma da Previdência.
"Mas esse avanço já ocorreu. E essa combinação de inflação benigna e reformas em andamento é consistente com a comunicação do BC que indica espaço para queda relevante dos juros", disse o profissional.
No começo de julho, o Itaú ainda esperava corte da Selic de 0,25 ponto. O banco passou a ver uma distensão monetária mais intensa com a aprovação do texto principal da reforma das aposentadorias em primeiro turno na Câmara.
"As medidas dos núcleos de inflação estão bastante contidas. Nesse contexto, o que faltava era redução do risco fiscal. E isso foi feito com a Previdência", afirmou Gonçalves.
Mas o espaço para corte de juros no Brasil não vem apenas dos fatores idiossincráticos. O executivo do Itaú chama atenção para as amplas expectativas de reduções de taxa nos Estados Unidos.
A probabilidade de o Fed diminuir a meta para o juro básico de forma mais agressiva, em 0,50 ponto, saltou nos últimos dias e estava em quase 37% nesta sessão. O Fomc e o Copom anunciam suas decisões de política monetária no mesmo dia, 31 de julho.
"Não devemos subestimar a influência que um terá no outro", disse Gonçalves.
Juro mexe no câmbio
O Itaú estima orçamento total de baixa da Selic em 150 pontos-base, em três reduções de 0,50 ponto cada. Assim, a Selic terminaria 2019 numa nova mínima recorde de 5,00%, patamar no qual permaneceria ao longo de todo o ano de 2020.
Tamanha queda, contudo, limitará o efeito positivo no câmbio decorrente da melhora de percepção de risco com as reformas.
"Esperamos que o Fed reduza os juros em 75 pontos-base. Ou seja, o diferencial de taxa entre Brasil e EUA continuará caindo, o que reduzirá o estímulo a aplicações na renda fixa brasileira, fator que pesa sobre o real", afirmou Gonçalves.
Junto a isso, o executivo acredita que o prêmio de risco do Brasil (medido pelo CDS de cinco anos) caiu além do que poderia, uma vez que a potência fiscal da reforma da Previdência não necessariamente reduzirá a relação dívida/PIB do Brasil nos próximos anos.
O CDS de cinco anos do Brasil estava em torno de 127,4 pontos-base nesta sexta-feira, perto de mínimas desde setembro de 2014.
"Com a queda do diferencial de juros e o CDS ajustando um pouco para cima, temos motivos para um dólar de 3,80 reais no fim do ano", disse Gonçalves. O dólar era negociado perto de 3,74 reais nesta sexta.