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Aumento nos saques da poupança reflete busca por aplicações mais rentáveis e deve continuar, diz BC

Parte dos recursos retirados da poupança foram usados em investimentos em CDBs, LCIs e LCAs

Sede do Banco Central, em Brasília (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 30 de abril de 2024 às 14h39.

O Banco Central identificou que a redução expressiva da caderneta de poupança é efeito de uma pequena parcela de sacadores que preferiram outras aplicações mais rentáveis, como LCAs, CDBs e LCIs.

No entanto, a avaliação dentro do BC é de que o movimento de “fuga da poupança” deve continuar, especialmente considerando que os bancos têm feito uma abordagem mais incisiva aos poupadores conforme recebem informações via Open Finance.

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A análise consta do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), publicado nesta terça-feira pelo BC.

Desde 2021, a poupança tem registrado forte retirada de recursos. O saldo passou de R$ 1,035 trilhão no fim de 2020 para R$ 983 bilhões no final de 2023. O estudo sobre a poupança analisou os dados de 2022, quando a caderneta teve saque líquido recorde de R$ 103,24 bilhões. As análises foram realizadas a partir de dados de mais de 57 milhões de indivíduos recebidos dos cinco maiores bancos do Brasil com saldo de pelo menos R$ 500,00 na caderneta de poupança, o que representa 89% do estoque total da caderneta de poupança em dezembro de 2021 e 2022.

Nessa amostra, 29,5 milhões de indivíduos sacaram dessas contas o total de quase R$ 279 bilhões e aportaram aproximadamente R$ 201 bilhões em outros ativos financeiros. Segundo o BC, essa parcela tem renda mais elevada e realocou os recursos em outros produtos, com destaque para LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e LCIs (Letra de Crédito Imobiliário).

Os 16% maiores sacadores aportaram o equivalente a 52% do valor que sacaram, cerca de R$ 116 bilhões, em outros ativos financeiros. LCAs receberam R$ 34 bilhões, o ingresso em CDBs/Recibo de Depósito Bancário (RDBs) foi de cerca de R$ 37 bilhões e em LCIs de quase R$ 17 bilhões.

Com isso, houve mudanças consideráveis na composição da carteira de ativos dos maiores sacadores. A participação da poupança caiu de 57% em 2021 para 28% em 2022. Já a fatia de fundos cresceu de 24% para 30% e de CDBS, de 10% para 18%. O crescimento da participação de LCAs foi de 3% para 10%. A fatia de LCIs duplicou (de 3% para 6%).

A análise ainda mostra que o aumento de desembolsos e eventuais investimentos reais ou aplicações em ativos financeiros não observados, como ações e títulos públicos do Tesouro, explicam de forma secundária a forte redução do saldo da poupança em 2022.

“O equivalente a 48% do valor sacado da poupança foi alocado em outros fins que não esses outros ativos financeiros observados. Diversos fatores podem ter contribuído para essa redução, como desembolsos para aumento de consumo ou pagamentos de empréstimos, investimentos em ativos reais e aplicações em títulos públicos negociados via Tesouro Direto ou em ações e fundos de investimento negociados em bolsa de valores”, disse o BC.

Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, o estudo foi um trabalho de fôlego, mas que ainda merece maior aprofundamento. Aquino afirmou que a fuga da poupança para aplicações mais rentáveis é uma realidade que deve se acentuar com o aumento da competição no sistema financeiro.

— Há uma facilidade de deslocar recursos. Tem outro fator que vem se apresentando do Open Finance. Quando você compartilha seus dados e tem recursos na poupança, outro banco pode oferecer outras aplicações mais rentáveis.

Em relação ao efeito da redução do saldo da poupança sobre o mercado imobiliário, o diretor disse que é uma preocupação que vem sendo debatida de forma constante dentro do BC, como mostra a medida que pretende aumentar a securitização do crédito imobiliário com a ajuda da estatal Emgea.

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