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Até que ponto denúncias afetam a estabilidade da economia

Desde o início da crise política que abala as estruturas do Partido dos Trabalhadores e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a economia brasileira se manteve aparentemente blindada às rajadas de denúncias de corrupção. Enquanto caciques petistas como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares ou Silvio Pereira tombavam ao sabor das acusações, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h02.

Desde o início da crise política que abala as estruturas do Partido dos Trabalhadores e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a economia brasileira se manteve aparentemente blindada às rajadas de denúncias de corrupção. Enquanto caciques petistas como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares ou Silvio Pereira tombavam ao sabor das acusações, aparentemente o mercado financeiro dava de ombros, pois a figura do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, parecia invulnerável. Mas uma dura fase de testes aos fundamentos econômicos começou nesta sexta-feira (19/8). Acusado de receber propina de uma empreiteira quando prefeito de Ribeirão Preto, Palocci foi atingido diretamente. Se comprovadas as denúncias, o ministro da Fazenda teria fatalmente de ser substituído. Até que ponto isso poderia afetar a estabilidade da economia?

O mercado financeiro mostrou pouca resistência ao ver Palocci no centro do alvo das denúncias e reagiu rapidamente. O real sofreu uma forte desvalorização de quase 3% ante o dólar; a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 0,95%, e o risco-país subiu mais de 1%. Mas a reação de pânico aparente do mercado pode ser precipitada. Há quem diga que o ministro da Fazenda não representa o único pilar da solidez econômica. Em vez de mentor, Palocci seria o executor de uma política econômica autorizada pelo presidente Lula. Parte dessa política envolve, nas palavras do economista Antônio Madeira, da MCM Consultores, uma "autonomia informal do Banco Central", que sustenta a política monetária.

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Se quiser manter a economia nos trilhos, Lula poderia, em uma eventualidade, substituir Palocci por Murilo Portugal, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Nesse caso, mesmo os analistas mais otimistas afirmam que a troca de comando de um companheiro de Lula por um competente profissional de mercado poderia não ser suficiente para resgatar a confiança dos investidores. "Uma coisa é ter um ministro que é próximo de Lula. Outra é ter alguém competente, mas que não é íntimo do presidente", diz Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências. No pior cenário, Lula poderia, num arroubo populista, promover uma guinada à esquerda da atual política econômica, aproximando-se da base do PT e de setores da sociedade que querem reduzir os juros por decreto. Mas esse cenário, no entender dos analistas, parece o o menos provável. "A economia é o que deu o melhor resultado para Lula até agora", diz o professor Fernando de Holanda Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas. Para ele, Lula não descartaria o mais sólido e hoje único alicerce de seu governo.

Em depoimento ao Ministério Público Estadual, o ex-assessor de Palocci e advogado Rogério Buratti afirmou que, quando prefeito no interior de Sâo Paulo, o ministro recebia mensalmente uma propina de 50 mil reais da empresa Leão Leão, prestadora de serviço de coleta de lixo em Ribeirão Preto (SP). Buratti foi secretário na gestão de Palocci, que ficou na prefeitura entre 1993 e 1997. Mas, em 1994, foi afastado do cargo por denúncias de corrupção. Antes disso, o advogado detido desde quarta-feira por suspeita de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha trabalhou como assessor parlamentar do deputado José Dirceu. Palocci, que passou parte do dia na reunião do Conselho de Administração da Petrobras, negou as denúncias enfaticamente em uma rápida nota à imprensa (clique aqui para ler).

Insuficiente para acalmar os mercados, a negativa complicou ainda mais o já tenso clima político do país, onde três CPIs simultâneas atingem o governo. "Verdadeiras ou não, as denúncias enfraquecem Palocci", disse o senador Jeferson Peres (PDT-AM). Primeiro a falar sobre o impeachment do presidente Lula, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) considera insustentável a situação do ministro da Fazenda. Já se fala em convocar o ministro para depor na CPI dos Bingos. O vice-presidente José Alencar veio em defesa de Palocci: "O Brasil precisa aprender que o ônus da prova é de quem acusa. Do contrário vamos virar um país de denuncismo". O presidente da CPMI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou: "não podemos, de chofre, em função de mais uma denúncia, fazer qualquer tipo de juízo de valor". Se não houver provas contra o ministro, tudo não passará de intriga ou de precipitação. Se houver, porém, resta saber se Lula cortará tão fundo na carne do seu governo quanto prometeu meses atrás.

Com reportagem de Márcio Juliboni e Ricardo Muniz e informações da Agência Brasil e Agência Senado.

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